Capítulo com mais de 3k de palavras
Antes das sete horas da manhã, Vicente e eu já estávamos na estrada. Tocava Skank no rádio e o dia estava fresco e bonito. A primavera já havia começado há algumas semanas, e pelo caminho eu pude vislumbrar algumas flores lindas em canteiros de algumas casas.
Vicente não tinha falado muito comigo durante o caminho, e eu respeitei seu silêncio. De vez em quando eu cantarolava alguma música que tocava e Vicente me mostrava algum lugar legal que ele já tinha frequentado.
Os pais de Vicente moravam na Gávea, em um bairro bonito, chique e arborizado. A casa deles não era tão grande, acho até que era uma das menores da rua, mas exalava charme.
Eu me sentia um pouco nervosa com a perspectiva de conhecer seus pais, e tratei de me recompor. Não era como se eles fossem meus sogros, afinal, eu ia como uma amiga.
Desci do carro e virei o pé na rua de paralelepípedo. Eu usava um All Star que ganhei de Elisa e senti que meu tornozelo estalou. Me apoiei no carro e continuei andando quando vi que estava tudo bem.
— Você é a única pessoa que eu conheço que consegue virar o pé de tênis. — Vicente não perdia a oportunidade de caçoar de mim e apesar de ter sido as minhas custas, foi legal ver que ele ainda mantinha um pouco do seu bom humor para fazer uma piada.
— São esses paralelepípedos idiotas! — exclamei, pisando duro pelo concreto.
— Isso, continue colocando a culpa no pobre concreto.
Vicente enfiou a chave na fechadura da porta e entrou, sendo recepcionado por um dálmata enorme e um cachorro vira lata de pelo de arame. Os cachorros pararam de fazer festa para Vicente quando me viram e começaram a cheirar meus pés.
— Eles são mansos. Vão te cheirar agora e daqui a pouco vão pedir carinho.
— Que fofura!
— Essa é a Valkíria. — Vicente apontou para a dálmata que cheirava meu joelho — E esse é o Visão. — O vira lata já lambia freneticamente as minhas mãos e eu logo entendi porque ele se chamava assim. Em sua testa, ele tinha uma mancha preta redonda. Era adorável.
— Chegaram cedo. — Uma voz grave invadiu meus ouvidos e eu fiquei nervosa de novo. Um home de cabelos cumpridos cor de mel saiu da casa. Ele era alto e tão bonito quanto Vicente. — Você deve ser a famosa Madalena! — O homem disse, me dando um sorriso e um abraço.
— Famosa? — indaguei assim que desfizemos o abraço. Vicente bufou.
— Não ligue pro meu pai, ele é muito engraçadinho.
— Eu sou Claudio, e não sou engraçadinho. Só realista. Desde o começo do ano só ouço falar de Madalena. — Aquilo me deixou vermelha como um pimentão. Vicente também parecia bem encabulado com a sinceridade do pai.
— Pai!
— Parece que eu tive um admirador secreto por todo esse tempo. — Eu disse, mais para disfarçar meu constrangimento do que por implicância. Vicente armou uma carranca que fez com que eu e Claudio gargalhássemos.
— Onde está minha mãe?
— No quarto descansando. Ela já está acordada desde as cinco da manhã, e agora cismou que quer tocar violão antes de ir para o hospital. — Nós entramos juntos na casa e eu reparei que ela era linda e cheirosa. Parecia aconchegante e eu me senti tão tranquila que só agora me dei conta de que não fiquei apavorada por estar em um lugar novo.
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Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]
Literatura FemininaMaria Madalena Vitorino de Almeida - Ou Madalena/Madá para os íntimos - está empolgada por ser a caloura em uma das melhores Universidades de artes cênicas do Rio de Janeiro. Claro que ela estaria mais empolgada se não tivesse se inscrito no curso e...