Capítulo 33 - Coragem

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Acordei com os cabelos molhados de suor. Isis e Elisa já tinham acordado, pois eu estava sozinha no quarto. Ao olhar a hora no celular, percebi que já passava de 13h da tarde. Me levantei da cama me sentindo um trapo, a cabeça doendo da queda de ontem. Meu pulso também incomodava um pouco. Toquei minha cabeça um pouco acima da nuca e senti o galo que tinha se formado no meio dos meus cabelos. Só de lembrar de como foi que arranjei esse machucado já me dava vontade de chorar outra vez.

Abri a porta e encontrei meus amigos falando baixinho sobre mim. Vicente foi o primeiro a me notar. Ele estava com os olhos arregalados, e se fosse qualquer outra situação, eu teria dado risada.

— Quer que eu saia?

— Não precisa. Aparentemente, meu trauma é só com silhuetas masculinas e ocultas por portas entreabertas. — A piada que eu fiz era para ter melhorado meu humor, mas só me deixou mais para baixo. Meu psicológico estava uma merda.

Acho até que demorei a surtar, para falar a verdade. O que aconteceu com Danilo já foi traumatizante o suficiente, e meu pai teve condutas muito abusivas comigo ao longo do tempo que também me deixaram muito fragilizada. Eu até me surpreendia de ter aguentado isso por tanto tempo sem precisar de terapia.

— Eu vou anunciar minha presença sempre. — disse ele prontamente. — Você está com fome? Nós cozinhamos feijão. Tá bem fresquinho.

— Não estou com fome, na verdade... — Me aproximei dos meus amigos e me sentei em um banquinho de madeira que ficava embaixo da bancada da cozinha.

— Mas você precisa se alimentar, amiga. — disse Elisa, e notei que seus olhos estavam marejados.

— Eu acabei de acordar... Não sinto fome quando acordo. — Isso era verdade. As vezes eu precisava me forçar a tomar café da manhã, porque eu raramente tinha apetite antes das 10 horas.

— Então quando for duas horas você vai comer. — ordenou Isis, me lançando um olhar semelhante ao que minha mãe me lançava quando queria que eu fizesse algo.

— Combinado.

Isis e Elisa me disseram que a Faculdade Educacional de Niterói oferecia atendimento psicológico a vítimas de abuso sexual sempre às terças e quintas. Elisa conhecia uma amiga que estudava psicologia lá que se prontificara a colocar o meu nome para que eu fizesse parte do agendamento daquela semana.

Me sentia grata pelo esforço, principalmente porque era domingo e domingo ninguém quer se preocupar com nada. Achei legal que a sua amiga tenha tomado essa atitude por uma pessoa que nem conhecia.

Empatia é tudo mesmo.

As duas horas em ponto, meus amigos me fizeram comer. A comida estava deliciosa, e eu consegui comer sem muito esforço. Eu ainda me sentia meio paranoica, mas pelo menos dentro do apartamento eu já reconhecia que estava segura.

O meu medo era ter que ir para a faculdade amanhã e eu já cogitava a hipótese de faltar.

Não me recordo bem de como foi que Vicente bateu em Heitor, mas imagino que tenha lhe feito um estrago considerável. Porém, eu ainda tinha medo de que ele fosse aparecer para a aula como se nada tivesse acontecido.

Um pouco mais tarde, as minhas amigas tiveram que ir embora. Eu estava no sofá assistindo televisão quando Vicente saiu do quarto segurando um caderno na mão. Como eu estava consciente de sua presença, eu não me assustei.

Nós dois combinamos que ele sempre falaria um código para que eu soubesse que era Vicente que estava ali. A palavra chave de reconhecimento era Draminha.

Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora