Montar uma apresentação sempre foi uma tarefa difícil para mim. Por mais que as pessoas pensem que as pessoas artísticas não tem problemas para criar nada, eu, como pessoa artística, posso declarar que tem dias que parece que nada está fluindo. E esse era um daqueles dias.
Eu tinha agendado um dos estúdios antes da aula para me concentrar no meu número, mas apesar de todo meu esforço, ainda haviam coisas no meu número que me desagradavam.
Na aula de Maquiagem Cênica, achei que as coisas fossem melhorar, afinal, era uma aula que eu precisava ter. A professora devaneava muito e nos explicou um pouco o conceito que existia por trás das diversas maquiagens, inclusive as circenses. Eu sempre me interessava por esse tipo de maquiagem, eram difíceis de executar, mas ficavam sempre muito bonitas.
Então, eu tive que maquiar Vicente.
— Por favor, não estrague meu rostinho lindo. — Ele disse quando me coloquei em sua frente.
Nós começamos a aula em uma sala de aula normal, e no meio a professora nos conduziu para uma espécie de camarim enorme que continha os mais variados materiais de pintura.
Os olhos da galera brilhavam a cada coisa nova que viam pela frente.
— Se tivesse alguma coisa bonita para estragar...
— O que você vai fazer no meu rosto? — Vicente fez uma expressão de falsa preocupação. Ele me assistia atentamente pegar umas tintas faciais cremosas.
— Um palhaço. — Ele fechou a cara. — Que foi? Eu acho bem legal.
— Do jeito que você tem talento com a maquiagem, vai me deixar com cara de palhaço de filme de terror.
— Bom, pelo menos daria para fazer It A Coisa. — Vicente gargalhou de verdade e eu pedi para que ficasse quieto para poder me concentrar. Pensei em maquia-lo como o Coringa, então coloquei no meu celular uma foto dele e comecei a minha mágica.
Heitor, que estava ali por perto, vez ou outra me lançava sorrisos ou olhares fofos.
— Foco, Madalena. — pediu Vicente ao notar meus olhares para Heitor. Ele ainda não estava de olhos fechados pois eu passava a maquiagem branca por outras partes de seu rosto.
Vicente tinha um rosto muito bonito e bronzeado. Ficar tão perto dele para pinta-lo era quase uma tortura. Apesar das alfinetadas costumeiras, era agradável estar em sua companhia.
Porém, quando terminei a maquiagem, vi que eu ainda tinha muito o que melhorar. A professora analisou o rosto de Vicente.
— Você precisa pintar de forma que a maquiagem não pareça que tá forçada, entende? — Fiz que sim com a cabeça.
— Nossa, até com essa maquiagem horripilante eu fico bonito. — Ele se olhou no espelho, claramente espantado com a minha falta de talento. Tirei uma foto do seu rosto pintado e guardei no meu álbum da faculdade.
— Minha vez de te maquiar, Draminha. — Me sentei no banco e fiquei com medo de que Vicente também fosse desenhar um palhaço todo errado no meu rosto só de vingança. — Relaxa que a minha maquiagem vai ficar mil vezes melhor do que a sua.
— O que você vai fazer? — perguntei, temendo o que estava por vir.
— Uma bruxa. Vai ficar legal, confia em mim.
Vicente pegou várias cores que iria usar e começou a fazer a sua arte.
Tive que permanecer de olhos fechados por quase todo o procedimento. As mãos de Vicente eram leves e habilidosas, de forma que eu, que tinha nervoso quando outras pessoas passavam rímel ou lápis de olho em mim, não lacrimejei quando Vicente maquiou as partes sensíveis dos meus olhos.
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Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]
ChickLitMaria Madalena Vitorino de Almeida - Ou Madalena/Madá para os íntimos - está empolgada por ser a caloura em uma das melhores Universidades de artes cênicas do Rio de Janeiro. Claro que ela estaria mais empolgada se não tivesse se inscrito no curso e...