A sensação de apresentar algo que eu mesma criei para um público grande era de pura ansiedade. Não teve um dia em que não me senti nervosa e até mesmo um pouco insegura, por apresentar algo que era totalmente meu. Durante os ensaios e até mesmo agora, eu não demonstrava a insegurança que eu sentia. Os únicos que sabiam como eu me sentia eram meus amigos e minha psicóloga. Ter o apoio deles e sua orientação foi o que me manteve sã e ajudou a restaurar um pouco da minha confiança.
— Nossa, você está gelada. — Vicente segurou a minha mão ao parar do meu lado na coxia. A apresentação estava prestes a começar, e eu tremia um pouco.
— Estou nervosa. — Eu disse, apertando a mão dele. Vicente não reclamou e beijou a minha testa.
— Relaxa, vai dar tudo certo, Draminha.
A peça teria aproximadamente quinze minutos e falava sobre os meus abusos. Eram temas pesados, e eu iria retratá-los através da dança e de algumas poucas falas. Vicente iria representar — figurativamente falando — meus pais. Isis seria Danilo e Elisa seria Heitor. Cada um iria aparecer em um tempo diferente.
Ivan representaria meu medo e Aline a minha raiva.
Meus olhos se encontraram com Isis, Elisa e Ivan, que estavam do outro lado da coxia. Eles fizeram sinais de joinha com a mão e me deram sorrisos que demonstravam todo o meu apoio. Aline parou do meu outro lado.
— Quebre a perna, Madá! — exclamou, me dando um sorriso. Fabio piscou o olho para mim de onde estava.
Como Ivan e Aline participariam da peça, colocamos outras pessoas encarregadas da sonoplastia e iluminação, de modo que só em alguns ensaios Ivan e Aline ficaram encarregados dessa parte.
A música de entrada começou a tocar, o que foi a minha deixa. Entrei no palco sem olhar para o público. Comecei a dança me jogando no chão e me arrastando, sentindo que apesar de representar algo, eu era cem por cento eu mesma naquele momento, externando de uma vez todas as coisas pesadas que já me aconteceram.
Vicente foi o primeiro a entrar no palco. Ele me ergueu e começou a comandar como se eu fosse um tipo de marionete, que era como eu via a relação que meus pais tinham comigo. Eu era guiada e compelida sempre a fazer o que eles queriam, o que me deixava sempre muito mal.
Ele me jogou no chão e eu meio que comecei a lutar contra ele e rompi o controle que exercia sobre mim, o que o fez sair do palco. Fiz mais uma pequena dança solo que indicava o quanto estava decidida e perdida ao mesmo tempo. Isis entrou logo em seguida, representando Danilo. Ela me rodava como se fosse o perfeito príncipe, e quando Danilo me mostrou quem era de verdade, Isis me puxou forte pelo braço e começou a me rodopiar com brutalidade até que eu caí no chão. Simulei um chute em sua barriga que a fez "cair" para fora do palco.
E aí entrou Elisa como Heitor. Nessa parte, eu já me segurava para não chorar.
Elisa simulou uma agressão enquanto eu lutava no chão contra suas mãos e sua força. Ela colocou uma de suas mãos em meu pescoço, o que me fez paralisar por um tempo. Por fim, consegui derrota-la e comecei a girar sem rumo pelo palco no ritmo da música. Ivan e Aline entraram logo em seguida, onde se posicionaram como meu medo e a minha raiva. Dançamos de forma sincronizada, com passos intensos, fortes e difíceis. Eles saíram dando piruetas do palco e eu fiquei sozinha mais uma vez.
Fiz mais uma pequena dança e encerrei a minha apresentação chorando demais. O público se levantou para me aplaudir e meus amigos entraram no placo. Demos as mãos e agradecemos aos aplausos com uma reverência em conjunto.
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Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]
ChickLitMaria Madalena Vitorino de Almeida - Ou Madalena/Madá para os íntimos - está empolgada por ser a caloura em uma das melhores Universidades de artes cênicas do Rio de Janeiro. Claro que ela estaria mais empolgada se não tivesse se inscrito no curso e...