Capítulo 28 - Novo Lar

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Mesmo sabendo que eu só chegaria de madrugada, Vicente insistiu que iria me buscar no terminal quando eu chegasse em Niterói. Ele disse que ficaria acordado me esperando e que faria questão de me buscar. Devido a hora e ao número de malas que eu carregava, ele argumentou que não era prudente que eu ficasse perambulando pelas ruas de Niterói de madrugada. Tive que concordar com ele, mas não queria incomoda-lo mais do que já estava incomodando.

Durante a viagem de volta, eu não consegui dormir. Estava tão magoada com tudo o que tinha acontecido que eu simplesmente não conseguia me concentrar em nada que não fosse as palavras afiadas de meu pai.

Eu não tinha conseguido parar de chorar, e as pessoas que passavam por mim dentro do ônibus me olhavam como se eu tivesse sérios problemas, o que não estava tão longe da verdade.

Minha bateria já estava quase descarregando, mas arrisquei enviar uma mensagem para Isis e Elisa para pedir desculpas por minha atitude. Eu tinha consciência de que havia errado feio em ter falsificado os documentos, mas esperava que elas algum dia conseguissem me entender.

Tratei de bloquear meus pais em todas as redes sociais e excluí o número deles. Amanhã eu iria trocar meu número de telefone também, pois não queria mais que eles pudessem me contatar.

Postei algumas fotos no Instagram de quando comecei na faculdade até o dia de hoje, sentindo que apesar da tristeza, eu me sentia livre por não carregar mais o peso daquele segredo. Agora, eu poderia falar abertamente sobre o teatro nas redes sociais, e isso me deixou um pouco mais animada.

Avisei a Vicente que estava perto de chegar no terminal e ele me respondeu quase na mesma hora de que iria sair para me encontrar. Me senti mais segura quando ele me disse isso e desci do ônibus sentindo meu ombro doer de tanto esforço que fiz carregando a mochila pesada.

Vicente já me esperava na rodoviária quando desci do ônibus. Ele veio até mim e pegou todas as malas e a mochila de minha mão, colocando tudo no porta malas. Eu tinha plena consciência de que eu estava um lixo, mas não me importava muito com a minha aparência naquele momento.

Chegamos rapidamente ao seu apartamento, onde Vicente levou as minhas malas para o quarto em que eu ficaria. Era o mesmo quarto em que acordei quando fiquei bêbada. Aquilo já tinha acontecido há tanto tempo que até mesmo pude sentir um pouco de nostalgia.

— Fique à vontade. Se estiver com fome, eu fiz um jantar. Está bem gostoso.

— Obrigada, na verdade, eu não comi nada hoje. — Meus olhos se encheram de lágrimas e Vicente me puxou para um abraço apertado. Ali em seus braços, eu chorei de raiva, de frustração e de tristeza. Eu não conseguia parar de pensar nas coisas horríveis que ouvi. — Me desculpe...

— Você não precisa se desculpar. Vai ficar tudo bem. — Vicente beijou o topo da minha cabeça.

Desfiz o abraço e tive dificuldades para achar uma roupa para usar no meio da arrumação apressada que fiz para sair do dormitório.

Tomei um banho quente que fez meus músculos relaxarem e coloquei um pijama quentinho. Resquícios da maquiagem de Vicente ainda estavam em meu rosto, então eu a retirei com água e sabão. Eu lavara meu cabelo durante o banho, mas não estava com paciência para penteá-lo, então deixei que ele secasse naturalmente.

Encarei meu reflexo no espelho e vi o quanto estava acabada. Meus olhos vermelhos e meu nariz inchado pelo choro eram a coisa que mais se destacavam em meu rosto.

Saí do quarto e encontrei Vicente esquentando a comida.

— Você deve estar cansado, ficou me esperando até agora.

Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora