Heitor foi encontrado morto em um apartamento que ele tinha em Copacabana. Quem o encontrou foi uma diarista. Quase ninguém sabia da existência daquele apartamento além de seus pais, que quando foram interrogados pela polícia durante a investigação da minha denúncia, fizeram a egípcia e fingiram que não sabiam onde o filho poderia estar.
De acordo com o depoimento de alguns amigos, Heitor estava desesperado e escondido. Usava drogas o tempo todo desde o que aconteceu, porque sabia que tinha feito uma merda grande ao tentar me violentar em um lugar público com muitas testemunhas. Os policiais concluíram que ele se drogou tanto que acabou tendo uma overdose, mas sua intenção não era se matar.
Por um lado, eu me sentia aliviada por saber que Heitor não poderia mais me machucar. Porém, ele havia morrido sem pagar pelo crime que cometeu contra mim, e isso me deixava com uma sensação de impunidade tão grande que eu tive que levar isso para a terapia.
Bianca me ajudou a lidar com aquela sensação de revolta, de modo que eu ainda a sentia, mas de modo controlado. Nós estávamos trabalhando isso há pouco tempo, mas eu já me sentia melhor. Eu já conseguia ver homens loiros andando na rua sem querer surtar, e já conseguia agendar estúdios para realizar minhas atividades sem que eu estivesse acompanhada.
Resolvi contar ao reitor a ideia que eu tive sobre realizar o grupo de apoio, e ele autorizou que eu o fizesse desde que tivesse a supervisão de uma professora. Cecília se voluntariou.
Já era de noite, e depois das aulas do dia, eu tinha algumas atividades da faculdade para adiantar. Manter a minha mente ocupada era importante, mas aquela seria a primeira reunião do grupo de apoio e eu estava muito nervosa. Isis e Elisa estariam comigo, o que me fez ficar um pouco mais tranquila.
Com a ajuda de Aline, fizemos alguns panfletos e distribuímos para algumas meninas. Isis e Elisa ficaram responsáveis por trazer os lanches que seriam servidos depois da reunião e eu fiquei com a parte da organização, junto com a professora Cecília.
As meninas começaram a chegar e meu coração acelerou. Eu não fazia ideia se estava em condições de liderar um grupo daquele nível estando em processo de recuperação, mas eu sentia em mim que eu precisava fazer alguma coisa. Bianca havia me encorajado e me aconselhado a fazer tudo de forma cuidadosa e eu seguia rigorosamente seu aconselhamento.
Aline e as meninas que estavam com ela no dia que voltei para a faculdade depois do acontecimento foram as primeiras a aparecer. Depois delas, mais três garotas apareceram.
Nós nos sentamos em um círculo no chão e Isis e Elisa se sentaram uma de cada lado e seguraram minhas mãos para me apoiar. Eu dei um sorriso agradecido.
— Boa noite, meninas. O intuito desse grupo é nos dar força, apoio e encorajamento para quem já passou por abuso sexual. Sintam-se a vontade para compartilhar o que quiserem, aqui é um espaço livre que deve ser usado para que possamos desabafar.
A professora Cecília foi a primeira a se pronunciar.
— Eu fui abusada sexualmente por meu ex padrasto por quase dois anos. Eu tinha quinze anos na época e minha mãe usava drogas. Foi difícil para mim me recuperar. Na verdade, tiveram momentos que eu pensei que nunca iria superar o que me aconteceu. — Ela abaixou a cabeça e passou a encarar as suas mãos. — Só consegui lidar com isso porque encontrei pessoas boas em meu caminho, que me ajudaram. Consegui fazer acompanhamento psicológico gratuitamente e acho que se não tivessem me ajudado, eu nem estaria aqui hoje. — Seu depoimento emocionou a mim e a outras garotas, que se sentiram encorajadas a falar.
![](https://img.wattpad.com/cover/233984280-288-k779897.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]
ChickLitMaria Madalena Vitorino de Almeida - Ou Madalena/Madá para os íntimos - está empolgada por ser a caloura em uma das melhores Universidades de artes cênicas do Rio de Janeiro. Claro que ela estaria mais empolgada se não tivesse se inscrito no curso e...