27. Guerra de neve.

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O último andar era o de arte, com diversas pinturas projetadas nas paredes e painéis espalhados pelas salas. Elas se mexiam, criando diversas ilusões. Até mesmo o chão possuía pinturas movimentando.

— Você tá com medo? — perguntei a Zabdiel, pegando sua mão e me aproximando mais dele, andando pelo labirinto de imagens.

— Do que?

— De ser pai.

Ele ficou em silêncio, olhando para as obras de artes ao nosso redor. A luz se movia pelo cômodo, causando sombras no rosto de Zabdiel. Ele era uma mistura de claro e escuro, marcando seu maxilar e o cabelo loiro.

— Não sei — respondeu, após alguns segundos, os dedos firmes nos meus. Ele nem parecia notar o gesto. — Não parei para pensar nisso.

— Em ter medo?

— Em ser pai. — Ele soltou um suspiro, parando para olhar um quadro a nossa frente. Seus olhos na realidade pareciam ver através da parede ao encarar um local completamente vazio, longe dali. — Não pensei em nada disso. Eu apenas... Fiz o que tinha que fazer. Contar aos meus pais, aos pais de Natálie, ajudar ela quando precisava. Só. Desde que ela foi viajar, a ideia foi com ela.

— Não é uma ideia, Zabdiel, é um filho. É algo real.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, soltando minha mão e as passando no rosto. O rodeei, ficando em sua frente.

— Eu engravidei uma garota que só fiquei por uma semana. Transei com ela duas vezes. Não era assim que eu planejava me tornar pai. Me pergunto se deveria ter deixado ela abortar.

— Você realmente teria coragem de fazer isso? — pergunto, passando as mãos por seus braços. Eles estavam tensos, os músculos aparecendo mesmo com o casaco branco.

— Não.

Eu não conhecia muito o lado de Zabdiel voltado para religião, mas eu me lembrava do nosso encontro no restaurante no navio, em que ele me disse para ter fé em nós. Ele carregava um colar com uma cruz, um símbolo de sua fé. Esse colar estava comigo agora, sempre em meu pescoço. Eu sabia que ele acreditava em algo, e que sua fé era contra aborto, e foi por isso que ele pediu a Natálie para não abortar. Ele respeitou a vida de seu filho desde o começo, sem nunca hesitar. O fato de se questionar isso agora era a clara resposta de que sim, ele estava com medo.

— O que realmente te assusta na ideia de ser pai?

— Não sei cuidar de criança — respondeu na mesma hora, abrindo os olhos, que estavam assustados. — Vai ter uma vida dependendo de mim!

— Zabdiel... — Ri, passando os braços por seu pescoço. — Você cuidou de nove pessoas em outro país, e cuidou de mim por quase um ano. Eu era uma vida dependendo de você.

— Você era uma vida de dezesseis anos dependendo de mim, não é a mesma coisa.

— Não precisa se preocupar. Vou nos inscrever em cursos de pais de primeira viagem.

Ele ia dizer algo, mas mudou de ideia, me olhando.

— Nos inscrever?

— Claro, sou sua namorada, eu também vou ter que saber cuidar do seu filho.

— Vamos fazer curso de pais de primeira viagem? — repetiu o que eu disse, segurando um sorriso outra vez.

— Vamos.

Ele me olhou novamente, os olhos brilhando. Abaixou os braços, passando eles ao meu redor e me puxando para perto, me dando um selinho demorado.

Acariciei os fios de seu cabelo, que cresciam cada dia mais.

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