23. Operação Fogo Quente. Parte Um.

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Zabdiel estava certo, uma panela não seria o bastante para dez pessoas. Mandei uma foto para ele do nosso macarrão, exibindo o trabalho bem feito. Ele ficou em duvida entre acreditar na gente ou comprar um almoço de verdade.

Ele chegou em casa bem depois da uma hora da tarde, e todos já tinham comido, exceto eu. Até o momento ninguém tinha morrido ou cupido a comida, então era um bom sinal. Joel foi quem nos ajudou com o tempero, apesar de Chris alertar que isso era perigoso, já que Joel é metade mexicano e eles são conhecidos por gostar de comidas bem apimentadas. Não o deixamos chegar perto das pimentas.

Jaime foi o primeiro a entrar, sacudindo neve dos cachos castanhos. Vestia varias blusas e um sobretudo, e mesmo assim tremia de frio. O Canada não brinca no assunto.

Zabdiel entrou logo em seguida, se livrando das roupas de cima. Me encostei na parede do corredor e cruzei os braços, examinando meu namorado. Ele usava calça jeans escura e uma camiseta preta, o cabelo escondido em um boné e óculos nos olhos. Era um contraste perfeito entre a neve nos casacos que tirava e suas roupas pretas.

Ele nunca pareceu tanto realmente com um agente como agora naquela roupa.

Quando sua mão foi para o boné e o tirou eu quase cai para trás.

— ZABDIEL! — gritei, saindo da parede e correndo até ele. — VOCÊ TA LOIRO! — Pulei em seu colo, agradecendo por seus reflexos me pegarem.

Eu não podia evitar de soltar outro grito, o apertando. Zabdiel podia ficar incrível moreno quando estava com aquela roupa. Mas um Zabdiel loiro... É o pecado em pessoa. É como se todos os desejos do mundo andassem em um homem. Ele ficava ainda mais gostoso, o auge de um ser humano gostoso.

Segurei o rosto dele entre as mãos e o encarei, lembrando da conversa que tive de manhã com Barbara.

— Se você quiser meu cu agora eu te dou.

Ele arregalou os olhos e segurou a risada.

— Uau — falou enquanto eu desci de seu colo.

— Que que foi isso? — Disse Erick atrás de nós. — Tão fazendo um filho?

— Quase — respondi, me virando e pegando a mão de Zabdiel. — OLHEM ESSE HOMEM! — apontei para ele. — OLHEM ESSE CABELO!

Fazia pouco tempo desde que ele tinha raspado e tirado a cor, mas cresceu o bastante para não parecer mais careca, com curtos fios descoloridos.

— OLHEM ESSA MULHER! — Ele apontou para mim também, me fazendo rir.

— Meu Deus... — Barbara falou do sofá, nos olhando e negando com a cabeça. — Estranhos.

— Já comeram? — perguntou Zabdiel, indo para a cozinha. Só agora fui notar que ele trazia uma sacola branca.

— Eu não acredito que você trouxe comida! — Barbie se levantou do sofá e nos seguiu. — Cachorro!

— Eu não trouxe comida. — Ele colocou a sacola na bancada e mostrou o que tinha dentro. Era um pedaço de bolo confeitado. — Trouxe um bolo para minha namorada.

— Ah, que fofo. — Fui até ele, o abraçando de lado e deitando a cabeça em seu ombro.

— Gostava mais quando você trazia bolo para mim — disse Chris, chegando na cozinha.

— Você tem uma namorada e um namorado, pede para eles.

— Eu não tenho um namorado. — Ele fechou a cara e cruzou os braços. — Barbara, eu quero bolo.

— Ah é?! — Ela virou para ele e também cruzou os braços. Eles pareciam não notar como tinham movimentos sincronizados, até mesmo a ironia na voz. — Eu também quero.

Ficaram se encarando por diversos segundos, até gritarem junto:

— JOEL!

Zabdiel e eu nos viramos, ignorando os dois. Eu tinha deixado nossos pratos separados, e esquentei eles no micro-ondas. Jaime também se juntou a nós para almoçar, e comemos na cozinha.

— Como foi o primeiro dia? — perguntei ao aprendiz.

— Horrível.

— O que fizeram?

— Ele me fez nadar em um lago congelado.

— O que? — quase gritei, virando o rosto para Zabdiel. — Você quer matar o menino?

— Na verdade, sim. — Arregalei os olhos com a resposta. Não era o que eu esperava. — Tenho que levar ele ao extremo.

— Coitado.

— Ei, eu passei por isso também, ok? Tenha dó de mim antes.

— Eu não.

— Você é uma péssima namorada.

Apesar de terem vindo almoçar em casa, Zabdiel e Jaime logo tiveram que sair de novo. Eu fiquei até com dó do garoto, que já estava se fodendo no primeiro dia.

A casa pareceu esvaziar de repente.

— Psiu — disse Barbara na porta do meu quarto, me chamando. — Vem.

A segui pelo corredor até o quarto de hospedes, que agora era de Kim e Erick. Emi estava nos esperando na porta.

— Cadê os garotos? — perguntei, notando que era por isso que a casa parecia vazia e silênciosa.

— Estão jogando vídeo game na sala de cinema.

Isso era bem óbvio.

— Então, andei pensando na operação Fogo Quente — começou Barbara, se sentando na cama de casal de Kim.

— Operação Fogo Quente? — Emi nos olhou sem entender. Ela não tinha participado da conversa mais cedo, para sua sorte.

— Precisamos de uma desculpa para beber — resumi da forma mais pratica.

— Uma desculpa? São adolescentes, não precisam de desculpa para isso.

— Você não conhece o Zabdiel. Ele não iria deixar a gente beber sem razão.

Mesmo em Byron Bay nós bebemos pouco, sendo que lá nós estávamos de férias. Aqui então seria pior, já que três pessoas estavam trabalhando.

— Balada?

— Muito óbvio. — Barbara a descartou, fazendo todo mundo a olhar com uma careta. Balada era a única alternativa, e a melhor.

Ela soltou um suspiro e coçou o queixo, pensando em algo. O restante apenas se entreolhava, sem nenhuma ideia.

— JÁ SEI! — gritou e pulou da cama. — Nós vamos para as montanhas.

— Que?

— Vai ter uma queima de fogos em um lago atrás da cidade, depois de uma serra. Não tem animais lá, então é permitido.

Eu duvido muito que isso seja possível, haver um lugar sem animais, mas fiquei quieta para ouvir o resto da explicação.

— Thunder Bay é rodeada por um paredão de montanhas em um lado, e depois deles o solo é infértil, e tem um enorme lago lá, a bacia Thunder.

— Desde quando você sabe algo de geografia? — perguntei, realmente curiosa.

— Eu falei que estava pesquisando sobre Thunder Bay no Instagram. — Ela abanou a mão e voltou para a explicação. — Esse final de semana é o aniversario da cidade, e vai ter uma grande queima de fogos da bacia atrás do paredão.

— E você quer ir ver? — Kim a olhou, também ansiosa para entender logo o que Barbara tinha pensado.

— Sim. A parte de trás das serras, que tem vista para o lago congelado, tem um condomínio de chales. Existe também diversos restaurantes no topo das serras, para que quem queira ir ver a queima de fogos.

Barbara Godwin sem dúvidas não brinca em trabalho. Ela nunca faz algo simples e sempre pensa em coisas diferentes e extravagantes.

— Vamos para um desses restaurantes?

— Não, meu amor, vamos para um desses chalés. — Ela sorriu e nos olhou, colocando a mão na cintura. — Façam as malas, é hora de acampar.

Thunder BayOnde histórias criam vida. Descubra agora