03. A aposta.

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O espelho definitivamente iria precisar de um paninho para ficar limpo.

Enquanto Zabdiel terminava de se arrumar eu usava a blusa que ele usava antes para limpar o espelho na parede. As marcas ali quase me faziam rir.

Ai, que indecente da nossa parte.

Eu sempre achei que rapidinhas fossem apenas rapinhas, um sexo rápido. Mas sem duvidas tinha ido muito além disso. Parecia que toda vez com Zabdiel era assim, algo novo fazendo a situação ser melhor que a anterior, nunca algo banal.

Ah merda, era impossível não se apaixonar por Zabdiel. Ainda mais se eu levasse em conta o sexo.

— Vamos? — perguntou, chamando minha atenção. Pelo reflexo eu o vi parado ao lado da porta, me olhando. Estava tão lindo, todo de preto, exceto pela camiseta social branca e o cabelo loiro. O uniforme ficava simplesmente perfeito nele, do tamanho exato, deixando desde as coxas marcadas até os músculos do braço. As mãos saiam das mangas bem dobrada, e a pele bronzeada tinha veias saltadas. As semanas na praia tinham sem dúvidas feito bem a ele. — O que foi?

Me virei, pegando a mochila no chão e colocando a camiseta dentro.

— Nada. — Dei de ombros, saindo pela porta já aberta.

Zabdiel me seguiu para fora da sala, enquanto voltamos até a garagem propriamente dita. Os enormes carros pretos ainda estavam lá, todos em seus lugares, e até mesmo os seguranças, que combinavam suas cores com os carros, usando o mesmo uniforme preto que Zabdiel.

Sam e Jerry ainda estavam jogando cartas, e Carl estava ao lado deles, com os braços cruzados apenas observando. Quando ouviram nossos passos eles se viraram. Carl alternou o olhar entre Zabdiel e eu, sendo o único que sabia que estávamos juntos. Os outros dois estavam prontos para fazer comentários maliciosos, mas se calaram quando meu pai surgiu das escadas.

Eu não sabia se deveria sair correndo, fingir uma conversa com ele, devolver a bolsa de Zabdiel a ele ou qualquer outra coisa. Então apenas permaneci congelada ali ao lado dele. Não havia motivo para nervosismo, meu pai não sabia de nada.

— Zabdiel, achei que não fosse vim hoje — disse meu pai, descendo os últimos degraus.

— Desculpe o atraso.

— Eu nem sabia que tinha se atrasado. — Ele passou pelos três seguranças, vindo até nós dois. — Já contou para eles? — Apontou para trás.

Carl arregalou os olhos, e eu o calei com apenas um olhar. Não era sobre eu e Zabdiel que meu pai se referia.

— Ainda não — respondeu Zabdiel, se referindo a sua demissão.

— Bom, acho que não há novo para hoje. — Ele se virou, voltando para as escadas. — Acompanhe Lara. Sam, você pode buscar a Emily após o trabalho? Vou levar ela, mas não vou conseguir voltar a tempo.

— Sim, senhor.

Meu pai confirmou com a cabeça e terminou de subir as escadas, logo sumindo do nosso campão de visão.

— Contar o que? — perguntou Sam, se virando outra vez para Zabdiel. — Foi promovido?

— Pode se dizer que sim — resmungou Carl.

Cerrei os olhos para ele.

— Zabdiel não vai mais trabalhar aqui — respondi no lugar dele, encarando Carl. — Hoje é o último dia.

— Ora, saiu de férias com a filha do patrão e quando volta já sai. Isso que eu chamo de sorte.

— Saiu ou foi mandado embora? — quis saber Jerry, voltando para suas cartas.

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