𝐎 𝐬𝐢𝐧𝐜𝐫𝐨𝐧𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐝𝐨 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐨𝐥𝐡𝐚𝐫

Capítulo 2

Natasha Bastos

Em alguma hora eu tinha que colocar meu curso técnico de auxiliar de odontologia em ação, mesmo que não fosse uma das minhas opções a seguir, a minha situação financeira falava que era uma hora perfeita.
Após sair da minha entrevista de emprego no escritório de um dentista, vou comer alguma coisa na cantina da universidade porque já estava quase na hora da aula.

— Vou querer um café e um misto quente, por favor. -peço pra moça que estava atrás do balcão-

— Certo, logo levo pra você.

— Quanto que ficou?

— 12 reais. -Ela me responde sorrindo-

— Aqui. -termino de pegar a quantia correta na carteira, e entrego a ela-

— Certinho, obrigada.

Vou me sentar na mesinha mais próxima, alcanço meu celular na bolsa pra matar o pouco de tempo que eu tinha até a atendente trazer meu pedido.
Não demora muito pra um grupo barulhento ocupar o espaço silencioso da cantina.
De longe consigo ver o mesquinho do Gustavo Pontes com uma garota ruiva, provavelmente seria sua namorada, visto como eles trocavam salivas e contato físico.
Balanço a cabeça e volto a me concentrar no meu instagram.

— Aqui está. -a garçonete trouxe meu pedido e eu agradeci com um sorriso-

— Obrigada.

Ela se retira, pego a xícara de café pra tentar tirar um pouco do vapor quente.
Infelizmente minha atenção se volta ao grupo escandaloso, pareciam adolescentes no ensino médio.
Miseravelmente meu olhar se encontra com o promíscuo do Pontes, sem pensar duas vezes troquei de direção, porém, ele não, eu consegui perceber isso porque ao olhar para o grupo novamente, ele continuava a me observar, afinal perdeu o que aqui?
Me apresso a comer meu lanche e chego a deixar o restante do meu café na xícara, precisava me encontrar com a Valentina e com Elisa que finalmente chegou hoje a cidade.

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Natasha Bastos: aonde vcs estão?
Valentina Bertoni: perto da quadra, vem logo.
Natasha Bastos: fazendo o que aí? estou indo.
Valentina Bertoni: testes pra líderes de torcida!!! *emoji feliz*
Natasha Bastos: vocês não brincam em serviço mesmo.
Valentina Bertoni: quando brincamos?? N quero deixar a adolescente que mora em mim morrer >< Vem logo.
📱 Whatsapp 📱

Me apresso a chegar até a quadra, e realmente a fila era gigante para os testes de líder de torcida, não demoro a achar as meninas na fila.

— Porra. -abraço a Elisa- que saudade, amiga.

— Muitas saudades. -ela me aperta e depois me solta- e você? Não vai fazer o teste por que?

— Não faz muito meu estilo, e eu nem tenho molejo pra isso. -dou de ombros-

— Ela vai é investir na aula de teatro. -Valentina comenta e solta uma risada irônica-

— Teatro? Essa é pra acabar. -Elisa comenta rindo-

— Teatro? Da onde você tirou isso? -me juntei a elas pra trocar risadas.
Eu nunca nem me relacionei com a vida de atriz, quem dirá teatro-

— Pensei que quisesse uma bolsa pra fazer um curso no México. -Valentina adiciona e da uma voltinha misteriosa-

— Não entendi? -Arqueio minha sobrancelha-

— Garota? Você não lê os cartazes espalhados por toda a facul? -ela revira os olhos-

— Pelo jeito. -dou de ombros e me viro de costas pra procurar esse famoso cartaz de teatro, realmente tinha uns 3 mil só naquele corredor-

Ando até o cartaz mais próximo e começo a ler as informações, que não eram muitas, só o professor de artes oferecendo uma chance de fazer um curso no grande México, no cartaz não falava qual seria o curso mas ia ser maravilhoso pro meu currículo, e dar um upgrade na minha grande vida de atriz não era nenhum esforço.
As inscrições acabam hoje à noite, então me apressei. Entrei no site pra fazer minha inscrição, e depois do famoso "concluído" voltei a atenção pra fila, mas as meninas não estavam mais ali.
Então entrei na quadra, as procurei novamente mas não achei, acabei por sentando na arquibancada pra observar os testes das líderes.

— Não sabia que curtia ser líder de torcida. -Uma voz me tira a atenção das danças ensaiadas que estavam rolando no meio do campo-

— Não sabia que você era tão enxerido. -Reviro os olhos e cruzo os braços-

— Você é muito revoltada com a vida, e por que? -Ele fala com o seu olhar no campo, ou melhor nas menininhas ingênuas querendo ganhar um lugar na universidade-

— Porque homens que jogam futebol e curtem líderes de torcida me irritam. -falo e ele começa a rir-

— Só porque você não sabe fazer o que elas fazem, não significa que não pode observar a arte.

— Claro. -reviro os olhos e viro para o olhar. Seu rosto parecia um algodão limpo e macio, com alguns rastros de poucas efélides espalhadas por alguns cantos do pescoço e início de maxilar, seu cabelo preto que combinava completamente com seus olhos castanhos-

— E você tá me olhando por quê? -Ele imita uma voz fina, tentando parecer com a minha-

— Gosto de observar a podridão de perto. -digo e ele começa a rir balançando a cabeça, não consigo evitar em rir também- idiota.

— Olha, ela ri. -ele balança a cabeça positivamente- é um começo.

— Começo? -semicerro os olhos- quanto você vai ganhar?

— Ganhar? -Ele cruza os braços e termina de virar seu corpo na minha direção-

— É, porque isso é uma aposta. -Ele começa a rir-

— Isso? -Ele passa a mão sutilmente pelo cabelo macio- você é hilária.

— Hilária?

— Sim, hilária. -Ele da um sorriso aconchegante- não estamos em um ensino médio de Hollywood, Bastos.

Ele se levanta balançando a cabeça e rindo sem parar e desce as arquibancadas.
Eu? hilária?
Obviamente não.

— Amiga, vamos pra aula? -A Elisa me chama a atenção e vou até ela-

— Vamos. E cadê a Valentina?

— A audição dela ainda não foi, então ela tá esperando.

— Interessante. Como que foi a "audição?" -faço aspas com as mãos-

— Acho que fui bem. -Ela se vangloria com pulinhos durante o caminho até a aula de desenho técnico-

— Ela vai virar líder de torcida. Na faculdade ainda, olha que interessante. -Falo em um tom irônico sem querer, mas tento minimizar com uma risada-

— Bobona. -ela revira os olhos-

Entramos pra aula e trato de me sentar perto do professor pra caso tenha alguma dúvida sobre a matéria.

☀️☀️☀️