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DEPOIS de colocarem ataduras nas minhas mãos e fazerem um raio X para se certificarem de que não quebrei nenhum osso, finalmente me deixaram sozinha em um corredor, encarando minhas mãos. Minhas pernas doem um pouco e tenho alguns arranhões. O médico disse que o hematoma roxo vai demorar para sumir.

Você está bem?

Essas palavras, de alguma forma, soaram estranhas na boca dele. E os olhos... Tão familiar...

— Elle, minha filha! — papai está praticamente correndo até mim e me levanto para abraçá-lo. Minhas pernas reclamam, mas não deixo transparecer. — Quem foi que fez isso?

— Eu estou bem, pai. É isso que importa. — volto a sentar, papai sentando ao meu lado.

— Quem foi o bastado? Eu...

— Papai, por favor...

— E vocês? — ele se dirigiu aos seguranças, irritado. — Como deixaram isso acontecer? É para isso que estou pagando vocês?

— Papai! — fico de pé rapidamente e isso me faz reprimir o gemido de dor. — Foi um acidente. Eu estava desatenta. A culpa foi minha, Ok?

— Querida...

— Quero ir embora. — passo por ele, fazendo meus saltos ecoarem o barulho pelo corredor vazio, o que é estranho já que estamos em um hospital.

O elevador não demorou muito e meu pai não veio atrás. Os seguranças sabiamente me seguiram sem dizer uma palavra. Devem se perguntar por quê uma garotinha mimada e que faz birra com qualquer coisa está “acobertando” o que aconteceu. Eu também não sei.

Não consigo tirar aqueles olhos da cabeça. Talvez eu esteja em transe.

— Bom dia, Elle. — aquela vozinha irritante me cumprimenta quando paro a poucos metros do carro do meu pai. Panny olha para minhas mãos enfaixadas e os poucos arranhões nos braços e pernas.

— Olá, Panny. — forço um sorriso para secretaria/amante do meu pai. Ela está prestes a dizer algo quando lhe dou as costas, indo para o carro. Nossa relação nunca foi uma das melhores e hoje é um péssimo dia para ter que ser gentil com ela.

Encaro minhas mãos enfaixadas mais uma vez. Com certeza elas não serão tão lisas e macias com as cicatrizes. Puxei a saia um pouco para cima, revelando o horrível hematoma em minhas pernas. O médico disse que tive sorte pelo motorista ter freado a tempo ou teria sido pior.

Depois do que parece ser uma eternidade, meu pai e os guardas-costas apareceram e finalmente podemos ir para casa.

Passo a maior parte do tempo no celular, vendo o site de notícias da escola, onde já colocaram o vídeo. Na filmagem eu apareço caída no chão e um garoto – o garoto – está ajoelhado ao meu lado. O ângulo não é muito bom e não consigo ver o seu rosto antes dele ser arrancado do meu lado pela Daiane, mas consigo vê-lo perfeitamente quando o outro guarda costas e o motorista o seguram. Seus olhos estão cravados em mim e seu desespero é nítido. Ele passa a mão pelo cabelo como se fosse arrancar cada fio preto. A câmera foca em mim, enquanto estou sendo levantada por Daiane, quando digo a ela para me levar embora.

Depois que entramos no carro, a câmera vai direto para o garoto, que está parado no meio da pista, olhando para o carro sumindo e depois virou direto para câmera, seus olhos – tão verdes como esmeraldas – são uma confusão de raiva, desespero e... fúria.

Gᴀʀᴏᴛᴀ Mɪᴍᴀᴅᴀ-Lᴀs Vᴇɢᴀs||Vᴏʟ1 Dᴀ Tʀɪʟᴏɢɪᴀ Gᴀʀᴏᴛᴀ MɪᴍᴀᴅᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora