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MORRENDO.

Uma palavra com oito letras que carrega consigo uma verdade inevitável que passei as duas últimas semanas tentando esquecer. Tenho esse hábito de esconder a verdade de mim mesma, por isso, mesmo sabendo que minha mãe está doente, mesmo ela ter escrito naquela carta que tinha pouco tempo de vida, eu não quis acreditar até que visse.

E eu estou vendo, neste exato momento, a mulher que passei os últimos dez anos da minha vida, pensando, sonhando... Dentro daquele quarto está a esperança que nutri por anos. Eu queria fugir, mas não apenas para me livrar do Jason. Não, eu queria também encontrar a minha mãe.

E eu a encontrei. Do outro lado do continente, eu a encontrei. Há apenas algumas horas de avião, agora estou de pé, sem saber o que fazer. Passei dias e dias imaginando como seria reencontrá-la, mas agora não lembro nem como mexer as pernas.

Aqui está tudo o que sei: ela não está apenas doente, está com câncer. Um maldito câncer que já estava avançado demais para fazer alguma coisa quando ela descobriu, há três anos. Três anos e ela tem vivido com isso e com as palavras horríveis de Jason sobre eu odiá-la. O que ela deve ter passado, sozinha...

— Você pode ir. — a enfermeira diz para mim. Pisco algumas vezes e anuo.

Dou passos lentos até o quarto, sem saber o que fazer e outro tipo de preocupação toma conta de mim. E se ela não me reconhecer? Será que ela ainda lembra do meu rosto?

Abro a porta do quarto, revelando uma mulher deitada na cama. Seu rosto está pálido e os lábios sem cor. O cabelo está sem brilho, mas... Mas é ela. Meredith Allen, minha mãe.

Minha mãe abre os olhos e eu fico imóvel. Seus olhos azuis se encontram com os meus e ela sorri. Seu braço se ergue no ar e ela me estende a mão.

— Minha estrelinha. — sua voz é fraca ao me chamar pelo meu apelido de criança.

Não percebo que estou chorando até minha visão ficar um pouco embaçada. Caminho até ela sentindo cada parte do meu corpo tremer.

— Mamãe... — seguro sua mão. Ela está fria contra a minha, mas não importa.

— Minha estrelinha, você veio... — ela também está chorando e nós duas sorrimos. Com os dedos trêmulos, eu enxugo seu rosto.

— Eu queria ter vindo antes... Eu... Sinto muito... — culpa está transbordando em mim. Se eu tivesse vindo antes...

— Você está aqui agora — minha mãe sorri e agora ela quem enxuga minhas lágrimas. — Não chore, está bem? Eu não tenho muito tempo.

Começo a balançar a cabeça. A ideia de que temos tão pouco tempo...

— Você está tão linda, minha estrelinha — ela sussurra. Apesar da situação, fico vermelha. Se não fosse pelos nossos olhos, seríamos idênticas. — Sente-se, vamos conversar um pouco. Você deve querer saber por onde andei todo esse tempo.

— Isso não é importante agora. — coloco a cadeira mais próximo que consigo da cama e volto a segurar sua mão.

— Eu vou ser rápida, também quero saber sobre você.

Então ela contou. Contou que depois de ir embora, viajou pelo mundo, realizando seu sonho. Ela diz que em nenhum momento deixou de pensar em mim, que queria que eu visse as maravilhas que o mundo tem a oferecer.

Gᴀʀᴏᴛᴀ Mɪᴍᴀᴅᴀ-Lᴀs Vᴇɢᴀs||Vᴏʟ1 Dᴀ Tʀɪʟᴏɢɪᴀ Gᴀʀᴏᴛᴀ MɪᴍᴀᴅᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora