Capítulo 49 - "Não me arrependo"

745 76 4
                                    

Guilherme vigiava Lucas de longe. Sabia que ele tinha conversado com Rodrigo, queria muito saber se resolveram as coisas, mas estava com receio de se aproximar.
Caliman: “Virou stalker agora?” disse sussurrando, próximo ao ouvido de Guilherme, fazendo ele se assustar.
Guilherme: “Que susto, assombração! Não estou stalkeando ninguém!”
Caliman: “Vai logo falar com ele!”
    O que Guilherme mais queria era ter Lucas em seus braços novamente, mas a mágoa que havia deixado de lado temporariamente, ainda estava lá, latejando, cortando, doendo.
Guilherme: “Eu vi ele e o Rodrigo indo juntos para a sala do Chris, eles demoraram um tempo e depois saíram. Devem ter se acertado.”
Caliman: “Você só vai saber se falar com ele.”
    Enquanto discutiam, Guilherme não percebeu que Lucas se aproximava. Mais perto dos dois, Lucas ouviu que falavam sobre ele. Imaginou logo do que se tratava. Caliman, que estava de frente para Lucas, viu que ele já estava atrás de Guilherme, e continuou.
Caliman: Então, você vai deixar pra lá? Você não ama mais o Lucas?” disse, com o intuito de que Lucas ouvisse a resposta de Guilherme.
    Lucas arregalou os olhos, sentiu um calafrio percorrer seu corpo. E se a resposta de Guilherme fosse “não”? Achou melhor não esperar a resposta. Apressou o passo e passou pelos dois rapidamente, sem olhar para trás.
    Guilherme já ia responder a pergunta, quando viu Lucas passar por eles. Imediatamente, entendeu o que Caliman tentou fazer. Olhou para o outro assustado, mas acabou dando um sorriso de lado. Ao ver Lucas se distanciando, criou coragem e resolveu falar com ele, saber o que aconteceu na conversa com Rodrigo.
Guilherme: “Lucas! Espera!”
    Lucas sentiu seu coração parar por um momento, engoliu em seco e virou-se para encarar o outro, forçando um sorriso.
Guilherme: “Você está bem? Não te vi o dia todo…” disse meio sem graça, tentando disfarçar.
Lucas: “Estou bem sim. Fui em casa, cheguei a pouco.”
    Fez-se um silêncio entre os dois. Os olhares se cruzaram. As mãos de Lucas suavam, seu coração parecia que ia sair pela boca. Guilherme estava sem fala. Antes, tão articulado, tinha sempre uma piadinha para tudo, agora totalmente paralisado diante de Lucas.
Lucas/Guilherme: “Eu…” disseram juntos.
Lucas: “Desculpa, pode falar.” disse, sorrindo.
Guilherme: “Você e o Rodrigo… conversaram?
Lucas: “Sim, agora está tudo certo.”
    Silêncio novamente. Muitas coisas a serem ditas, mas faltava coragem das duas partes.
Lucas: “Já vou indo então…” foi interrompido por Guilherme.
Guilherme: “Preciso conversar com você, mas não aqui no corredor. É sério, por favor.”
    Lucas hesitou por um momento. Mas ao mesmo tempo que tinha receio do teor dessa conversa, queria muito saber o que Guilherme precisava tanto falar com ele.
Lucas: “Guilherme… não sei…”
Guilherme: “Por favor!” disse, já puxando Lucas pelo braço, indo até a copa.
    Guilherme trancou a porta da copa, deixando Lucas preocupado.
Guilherme: “Você está bem mesmo? Aquele copo de café na sua mesa hoje de manhã, me deixou preocupado.”, disse com um sorriso tímido.
Lucas: “Ah sim, o café… eu precisava me manter acordado.”
Guilherme: “Esse seu jeito britânico de ser, de só tomar chá…”
    Lucas olhou surpreso para o outro. Guilherme se lembrava que ele amava tomar chá. Uma luz de esperança se acendeu para Lucas, foi a primeira vez desde que Guilherme voltou de viagem, que Lucas sentia que o outro realmente se preocupava consigo.
    Guilherme sorria enquanto olhava para o outro, mas de repente, esse sorriso começou a sumir. Ele precisava perguntar algo mas não sabia por onde começar. Andou até a porta, por um instante desistiu de falar, mas criou coragem, voltou e falou de forma abrupta.
Guilherme: “Eu preciso entender... Por que você contou tudo para o Rodrigo? Contar tudo, só trouxe mais dor e mágoa! Por que você fez isso?”
    Lucas olhou bem para Guilherme, como se aquela fosse a última oportunidade de admirar o outro. Seus olhos, o contorno do nariz, sua boca… Aquela expressão que Guilherme trazia, de quem estava travando uma luta, e estava perdendo essa luta. Lucas se aproximou lentamente, ficando a centímetros do outro, era quase possível ouvir as batidas do coração de Guilherme. A proximidade de Lucas, fez Guilherme ficar apreensivo. Queria mantê-lo por perto, mas ao mesmo tempo tinha medo de ceder a tentação. Seus corpos falavam, se atraíam como um ímã. 
Lucas: “Pensei em nunca contar que passamos aquela noite juntos. Mas a mentira já me feriu tantas vezes... Quando me contaram e quando contei. Me recordei das vezes que pensei conhecer e não conhecia. Em que acreditei ser e não era. Não quero que me minha vida, meus relacionamentos sejam uma mentira. Não quero viver com medo de que descubram a qualquer momento e tudo o que eu construí, seja destruído. Eu precisava contar a verdade, o que acontecesse em seguida, seria consequência da minha escolha naquele dia.”
Guilherme: “Escolha que você se arrepende, não é?” disse, abaixando a cabeça e se distanciando do outro.
Lucas: “Não me arrependo.” disse, em tom baixo.
    Guilherme virou-se e olhou para Lucas, andou rápido até ele, colocou as mãos no pescoço do outro e o aproximou, encaixando o rosto de Lucas em seu pescoço e emaranhando seus dedos nos cachos do mais velho. Como ele queria fazer isso! Sentia como eram sedosos e cheirosos, exatamente como imaginava que fossem.
Ansiaram por isso tempo demais! Lucas puxou Guilherme pela cintura, queria fundir seu corpo no dele. Eles se abraçaram, como se nunca mais fossem poder fazer isso novamente. Permaneceram assim por alguns minutos, nenhum dos dois queriam sair daquele abraço, mas a realidade começava a invadir aquele momento.
Guilherme: “Fico feliz que você e o Rodrigo fizeram as pazes, eu me senti muito culpado quando soube de tudo.” disse, enquanto se afastava e segurava o rosto de Lucas entre suas mãos.
    Guilherme se sentia horrível por não conseguir resistir! Mas olhando para Lucas, sentindo a pele macia de sua bochecha, levou os dedos aos lábios dele e sentiu o desejo de beijá-lo, porém se conteve. Talvez esquecê-lo seria mais difícil do que havia imaginado. 
    Lucas não conseguia entender, Guilherme falou mais de uma vez que não queria mais nada consigo, mas essa aproximação, a forma como Guilherme o tocava e encarava sua boca, deixava tudo mais confuso. Lucas decidiu que não daria o primeiro passo, não se deixaria levar, essa história já havia machucado muitas pessoas e agora que estava tudo esclarecido, era melhor se afastar de Guilherme de uma vez por todas.
Lucas: “Eu sei. Entendo agora sua preocupação. Mas foi uma coisa que fizemos juntos, a culpa não é só sua ou só minha…” disse, sem encarar o outro.
Guilherme: “Mas eu não me sinto culpado por termos ficado juntos. Você entende isso? Não me arrependo…” disse e parou rapidamente, achou melhor não falar mais.   
    Lucas queria tanto saber o que realmente se passava na mente de Guilherme! Sentiu um impulso de perguntar, implorar se fosse preciso, mas já não poderia suportar ser rejeitado novamente. Fixou o olhar no outro, esperando que, por um milagre, Guilherme continuasse o que dizia, mas foi em vão. Lembrou-se do que Rodrigo disse mais cedo “Não desista.”, mas já não sabia se o que Guilherme dizia sobre não se arrepender, era somente do que aconteceu entre eles aquela noite ou se era sobre eles ali, naquele instante. Diante dessa dúvida que o consumia, decidiu apenas sair dali.
Lucas: “Obrigado. Agora está tudo esclarecido.”
    Guilherme queria segurá-lo, não deixá-lo ir, mas não o impediu. Lucas caminhou até a porta, com a mão na maçaneta, olhou para Guilherme uma última vez antes de sair.
    No caminho de volta à sua sala, a mente de Guilherme fervilhava. Era nítido que estava apaixonado por Lucas, mas não queria se deixar levar novamente. Lucas parecia gritar para ser tomado, pelo menos foi isso que parecia naquele momento. Parou por um momento no corredor, imerso nesses pensamentos, fechou os olhos e se concentrou na sensação de calor que o outro emanava e em como seus lábios eram macios. Um barulho o fez despertar desse devaneio e continuar seu caminho. Estava aliviado por tudo ter ficado esclarecido, mesmo ainda achando que Lucas jamais deveria ter contado nada, mas cada cabeça, uma sentença. “Não posso me deixar levar novamente, preciso virar essa página da minha vida.” pensava.

Intensidade [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora