Sentado, aguardando a chamada para o embarque, pensava em como planejou essa viagem e no quanto estava ansioso para dividir essa experiência com o homem que amava, mas infelizmente não seria assim. Olhando ao redor, tentando se desvencilhar desses pensamentos, viu um homem bonito sentado mais à frente. Suas roupas eram diferentes. Parecia que ele tinha se arrumado para ir a uma boate, não ao aeroporto. Uma camiseta branca, transparente, com um pouco de brilho, calça jeans rasgada nos joelhos e uma jaqueta de couro verde escuro. "De onde esse cara saiu?", pensou. Provavelmente, ficou olhando por muito tempo, porque o tal homem percebeu e retribuiu o olhar.
Logo em seguida ouve-se o aviso: "Atenção passageiros com destino à Bangkok, dirijam-se ao portão...". Se distraiu por um momento e, de repente, o homem misterioso já não estava mais lá. "Por aqui, senhor", ouviu de um funcionário.
Guilherme: "Caio Caliman."
"Como sabe o meu nome?" disse, olhando para trás, assustado.
Guilherme: "É porque eu sei ler. Não é seu passaporte?"
Assentiu com a cabeça.
Guilherme: "Posso te chamar de Caliman? Gostei! Diferente. Prazer, eu sou Guilherme."Depois que Lucas saiu, Caliman se pegou lembrando de como conheceu Guilherme. Sua vida estava um caos, Guilherme também tinha muitos problemas. "Acho que foi o destino", pensava.
Ele realmente via Guilherme como seu amigo e queria de fato ajudá-lo. Ficou pensando um bom tempo em como faria isso, certamente precisaria de ajuda. Foi aí que teve a ideia de falar com Rodrigo. Não conhecia muito bem o rapaz, sabia que ele já tinha passado por muita coisa e que era jovem, mas também sabia que se quisesse fazer com que Lucas escutasse, a melhor pessoa para isso, certamente era Rodrigo.
Caliman também tinha sua cota de sofrimento. Ele aceitou sua sexualidade um tanto tarde, já com seus 25 anos. Claro que sempre se achou diferente e muitas vezes quis não enxergar algumas coisas sobre si mesmo. Mas foi com 25 anos que se viu realmente apaixonado por um colega de trabalho. Não demorou muito para perceber que era correspondido. Tudo ia muito bem mas o outro não queria assumir sua sexualidade, seus sentimentos e Caliman já não podia suportar isso. Ficaram quase 5 anos juntos, mas vivendo uma vida de fachada.
Caliman, sendo muito romântico, achava que se fizesse direito, se pudesse tocar o coração de seu amado, tudo poderia mudar. Preparou um jantar especial, uma viagem inesquecível e pediria o homem da sua vida em casamento. Assim, poderiam dizer ao mundo que se amavam e selar sua união.
Mas nada disso deu certo. No jantar especial que Caliman preparou com tanto carinho, ele acabou descobrindo, pela própria boca do seu amado, que não poderiam mais ficar juntos. Que o outro estava de casamento marcado com uma mulher e que por isso, não podia assumir publicamente a relação deles. Seu amado ainda insistiu em dizer que o amava, mas que não não podia continuar com isso.
Caliman pensou em tirar a própria vida... O sofrimento era perturbador e cortava como lâminas. Mas, surpreendentemente, ele conseguiu se manter de pé. A viagem dos sonhos já estava planejada para dentro de algumas semanas, então, ele decidiu não desperdiçar e ir sozinho. Decidiu dar uma chance ao destino, à vida. Que surpresas essa viagem poderia reservar?
Durante a viagem, Guilherme e Caliman se conheceram, conversaram e apesar das constantes investidas de Guilherme, nada aconteceu entre eles. Uma amizade sincera surgiu, algo que os dois realmente precisavam.
Eles eram o oposto um do outro, o que dava equilíbrio para a relação. E quem disse que os opostos não se atraem? Com o tempo, trocaram confidências, segredos e passaram a confiar e admirar um ao outro. Foi quando Guilherme teve a ideia de chamar Caliman para trabalhar com ele na Editora Intensity. E como Caliman não queria mesmo voltar para seu emprego e ver seu ex e tudo que o ligava ao passado, aceitou prontamente. "Vamos dar uma chance para o destino.", pensou.
Quanto mais o tempo passava, mais Caliman tinha certeza que não foi por acaso que os caminhos deles se cruzaram, havia um motivo maior por trás disso tudo. Por isso, ele iria se empenhar em dobro para ajudar o amigo a se acertar com Lucas, faria o que fosse necessário.
Toca o interfone.
Guilherme: "Já disse que quando for ele, pode deixar subir direto, não precisa avisar", respondeu, um pouco chateado, ao porteiro.
Guilherme deixou a porta entreaberta e Caliman logo que entrou, bateu a porta com força.
Caliman: "Dessa vez você passou dos limites!"
Guilherme: "Você o viu? Como ele está?" disse, preocupado.
Caliman: "Eu realmente não te entendo. Se vocês se amam, por que simplesmente não se acertam? Por que ficam machucando um ao outro desse jeito?"
Guilherme fechou os olhos por um instante. Imaginar que poderia ter machucado Lucas, machucava ele ainda mais.
Guilherme: "Nunca vamos dar certo juntos. Eu já te disse... Não sou uma boa pessoa. Eu tento... prometi a minha mãe, eu quero ser uma boa pessoa! Juro que eu quero! Mas... tem algo de errado comigo." disse, com os olhos cheios de lágrimas.
Caliman se aproximou do amigo e o abraçou.
Caliman: "Não há nada de errado com você. Seu pai fez você acreditar nisso tempo demais. Você não se permite ser amado, por isso, afasta as pessoas. Precisa parar com isso."
Sentaram no sofá, Guilherme deitou a cabeça no ombro do amigo, como uma criança pedindo colo. Se permitiu chorar por um bom tempo. Caliman permanecia em silêncio, acariciando os cabelos dele. Guilherme precisava disso, colocar essa tristeza para fora. Depois de longos minutos, Guilherme se levantou e olhou para o amigo ao seu lado.
Guilherme: "Muito obrigado por estar aqui comigo, não sabe como isso significa para mim."
Caliman sorriu.
Caliman: "Eu não vou a lugar nenhum. Vamos dar um jeito nisso."
Guilherme: "Pode ficar aqui hoje?"
Caliman: "Claro."
Caliman perguntou se Guilherme havia comido, ele respondeu que não. Então ele foi para a cozinha para preparar algo para comerem. Guilherme aguardou sentado no sofá mexendo no celular. Depois de algum tempo, Caliman arrumou a mesa, trouxe uma panela com macarrão ao molho sugo e chamou o amigo para almoçar.
Guilherme não tinha fome, mas o amigo disse que ele precisava se alimentar e ele assentiu com a cabeça. Após almoçarem, limparam tudo e resolveram assistir um filme.
Guilherme acabou dormindo no sofá, o amigo não o acordou, sabia que ele precisava descansar. Ele dormiu a tarde toda, acordando assustado lá pelas 18h. Sentiu cheiro de café, olhou por cima do sofá e viu a mesa posta.
Guilherme: "Que horas são?"
Caliman: "Passam das 18h. Estava cansado mesmo, hein?"
Naquele dia, eles não foram para a empresa, mas não haveria problemas, desde que nos próximos dias eles se esforçassem para cumprir a meta. Já sentados na mesa, Guilherme pensava em como tinha sorte em encontrar um amigo nessa altura da vida e dentro desse turbilhão de problemas. Era muito grato por isso.
Caliman: "Tenho uma coisa para te dizer, espero que não fique chateado comigo."
Guilherme: "Isso é impossível, você sabe." disse, sorrindo.
Caliman: "Contei tudo para o Lucas, sobre o Alexandre."
O sorriso de Guilherme desapareceu. Ele se levantou bruscamente, a cadeira caiu para trás, fazendo um barulho muito alto e assustando o outro.
Guilherme: "Porra, Caliman! Por quê fez isso?"
Caliman: "Se acalme! Por favor, me deixe expli..."
Guilherme: "Por que ninguém consegue guardar segredo, caralho!" disse, levando as mãos à cabeça e continuou: "Você não devia ter feito isso! Eu pedi para não contar para ninguém!"
Por um momento, Caliman se arrependeu de ter contado a Lucas. Guilherme parecia realmente irritado. Mas agora já não tinha mais jeito, precisava acalmar o amigo e explicar tudo.
Caliman: "Você acha sinceramente que eu contei à ele só para te expor? Acha que eu trairia sua confiança dessa maneira?" falou com um tom de voz mais alto, estava ficando nervoso. "O rapaz saiu daqui arrasado, machucado, sentindo dor. Ele não me contou o que aconteceu, mas eu posso imaginar. Vocês dormiram juntos, depois você tentou afastar ele como sempre faz, falando algo que o deixasse magoado. Não foi isso?"
Caliman realmente conhecia o amigo. Guilherme não respondeu.
Caliman: "Ele estava achando que você bateu no Alexandre por minha causa, porque o cara tentou dar em cima de mim, principalmente por causa do beijo que você me deu..."
Guilherme: "Desculpe por isso." interrompeu. "Mas eu tive medo que o Alexandre quisesse algo com você, não consegui pensar numa saída na hora... Sei que prometi que nunca tentaria nada com você de novo..."
Caliman: "Tudo bem, eu entendo. Mas que isso não se repita, por favor. Enfim, o Lucas precisava saber o que estava acontecendo, por isso contei tudo."
Guilherme ficou em silêncio por um instante. Pensava que, com certeza, essa revelação afastaria Lucas ainda mais.
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Intensidade [CONCLUÍDA]
RomanceConteúdo inadequado para menores de 18 anos 🔞 Rodrigo é um rapaz tímido, que próximo de fazer 13 anos, sofreu uma grande decepção. Hoje, com 17 anos, ainda não conseguiu superar essa dor do passado que o persegue. Mas a vida lhe dará uma nova chanc...