Ainda atordoados pela revelação de Rodrigo, Christian e Miguel jantavam em silêncio. Estavam com o orgulho ferido, saber que outro homem tinha "ganhado" deles, era frustrante.
Christian: "Você mal tocou na comida. O que foi? Não gostou?"
Miguel: "Eu tô puto!", bufou, soltando o garfo no prato, fazendo um barulho alto.
Christian: "Eu também estou, mas..."
Miguel: "Mas o quê?!", gritou.
Christian: "Bom... Ele tem razão, nós afastamos ele mesmo, Miguel.", fez uma pausa, suspirou e então continuou: "Não seria justo da nossa parte ficar prendendo ele..."
Christian estava certo e Miguel sabia disso, mas não queria admitir. Na verdade, eles não tinham motivo nenhum para ficar tão chateados, começavam a entender isso e até sentir uma ponta de remorso pela forma como trataram Rodrigo.
Miguel: "É... Acho que sim...", disse sem jeito.Quando a porta da casa de Christian se fechou atrás de Rodrigo, todo peso ficou lá dentro. Ele se sentiu livre, totalmente e finalmente livre! Pegou o celular e ligou para Lucas, precisava contar tudo ao amigo.
Lucas mal atendeu o celular e o mais novo já saiu falando tudo, despejando as palavras sem controle, estava eufórico! Contou em detalhes o que realmente tinha acontecido naquela noite e, o mais importante, que não havia transado com os mais velhos. Lucas se alegrou com ele e perguntou o que Rodrigo faria a seguir, para onde iria, já que tinha saído da casa de Christian. Ele respondeu que tinha feito uma reserva no mesmo hotel de Caliman, pelo menos por alguns dias, e que depois pensaria no que fazer a longo prazo.
Ao desligar a ligação com Lucas, Rodrigo pensou em ligar para Caliman e contar tudo. Mas então, uma ideia lhe veio à cabeça. Não seria muito melhor contar pessoalmente? Ver a expressão que Caliman faria quando soubesse de tudo? E poder beijá-lo e abraçá-lo livremente? Claro que sim! Partiu então para o hospital, para encontrar seu amado.Caliman olhava desconfiando para Andrey, quase acreditando nele, os olhos do mais velho realmente expressavam sinceridade.
Caliman: "Ok... De onde está vindo essa mudança repentina?"
Andrey: "Só estou preocupado." - se aproximou - "Há quanto tempo ninguém cuida de você?", colocou a mão no ombro de Caliman.
Realmente fazia muito tempo que Caliman havia deixado de pensar em si mesmo. Antes, a vida dele girava em torno de Andrey. Agora, sua vida girava em torno de ajudar Guilherme com seus problemas ou de lutar pelo amor de Rodrigo. Era injusto, frustrante e cansativo. Depois do tsunami de coisas que "passaram por cima" de Caliman naquele dia, ele sequer teve tempo para si, para processar, para chorar... Começava a perceber isso, sentiu um aperto no peito e um nó na garganta. Mas Caliman não podia deixar Andrey vê-lo sofrendo, não demonstraria qualquer sinal de fraqueza. Sem ajuda e totalmente sozinho, precisava se manter forte e se desvencilhar dos pensamentos que queriam fazer suas lágrimas brotarem.
Caliman: "Eu estou bem...", limpou a garganta.
Andrey: "Não, não está, eu conheço você, mas tudo bem... Bom, vamos tomar um café?"O motorista parecia estar andando devagar só para deixar Rodrigo ainda mais ansioso!
Rodrigo: "O senhor não pode ir mais rápido?", suplicava ao motorista do táxi.
Durante a viagem interminável, ficava imaginando como Caliman ficaria feliz quando soubesse que Rodrigo não tinha feito nada naquela noite com os mais velhos. Imaginava também como seria a vida deles juntos, o que poderiam fazer agora, se deveriam ir morar juntos... Bom, talvez morar juntos fosse um pouco precipitado, teriam tempo para isso em um futuro próximo. Algo que faria com certeza, era convidar Caliman para um encontro, uma noite romântica, um jantar, algo assim e depois, finalmente ficariam juntos sem interrupções, sem dúvidas, sem culpa. Como Rodrigo sonhou com esse dia! Mal podia esperar para encontrá-lo, o homem da sua vida.A noite estava fria e silenciosa, Andrey e Caliman, sentados frente a frente saboreando seus respectivos cafés, se olhavam em silêncio.
Andrey: "Então, como está seu namoro com aquele garoto?", disse, colocando a xícara de café em cima da mesa e quebrando o silêncio entre eles.
Caliman: "Não vou falar disso com você, Andrey."
Andrey: " Por quê? Só estou puxando conversa, tentando te distrair um pouco. Mas se não quer falar, tudo bem.", voltou a pegar a xícara e dar um gole.
Caliman: "Tenho que voltar pra ficar com o Gui. É melhor você ir."
Andrey: "Não vou embora, Cal. Vim pra ficar com você."
Agora Caliman estava mesmo preocupado. "O que deu nele?", pensou.
Andrey: "Não precisa me olhar desse jeito. Só vim... te fazer companhia."
Algo em Andrey estava mesmo diferente. Talvez porque tinha se dado conta que Caliman havia mesmo deixado de amá-lo. Isso doía, mais do que ele imaginou que poderia doer. E essa dor, à princípio, fez com que ele não aceitasse perder Caliman. Depois, fez ele querer usar de quaisquer meios, até da agressividade se fosse preciso, para tentar tê-lo de volta. Mas então, a dor chegou a um estágio em que Andrey entendeu que essas atitudes não trariam Caliman de volta, era hora de seguir em frente e tentar ser feliz. Andrey estava ali para se "desprender", era meio que uma despedida velada, um adeus em silêncio, para manter intacta sua pose de superioridade, porque não queria que Caliman o visse destruído e consumido pela culpa.
Andrey: "Vamos, vou acompanhar você até o quarto."Finalmente o carro parou na frente do hospital. Rodrigo jogou o dinheiro na mão do motorista e saiu apressado.
Rodrigo: "Fica com o troco!", gritou, sem nem olhar para trás.
Entrou afobado pelas portas de vidro e foi logo até a recepção. Disse que precisava falar com o acompanhante de um paciente internado, então a recepcionista disse que ele precisaria ir até a recepção da ala dos quartos e indicou o caminho à Rodrigo.
O setor de internação e os quartos para os pacientes ficavam do lado oposto ao que ele estava. No desespero para chegar logo, Rodrigo acabou indicando ao motorista do táxi uma outra entrada para o hospital. "Como sou burro!", pensou. Mas tudo bem, ele estava tão feliz e eufórico, que atravessar o hospital inteiro não seria nenhum esforço. Muito pelo contrário, ele faria esse trajeto dez vezes se fosse necessário, tudo para encontrar Caliman.Caminharam em silêncio e vagarosamente pelos corredores até chegarem na porta do quarto. Andrey soltou um longo suspiro e Caliman pigarreou, ambos sem jeito.
Caliman: "Você sabe que não pode ficar dentro do quarto, né? Só permitem um acompanhante."
Andrey balançou a cabeça indicando que sim, sem parar de encará-lo. Caliman percebeu que ele queria falar alguma coisa, tinha medo do que poderia ser.
Caliman: "Então..."
Andrey: "Tudo bem, eu vou embora, não tem sentido eu passar a noite em claro naquela recepção.", deu uma pausa, sorriu sem jeito e continuou: "Eu só quero te falar mais uma coisa.", se aproximou.Rodrigo andava pelos corredores tão rápido quanto podia, sem correr. Na verdade, ele queria correr mas sabia que seria repreendido por algum funcionário do hospital. Seu coração batia forte, sem controle, estava feliz!
De repente, avistou de longe o setor de internação e se aproximou rapidamente da recepção. Ainda ofegante, precisou respirar fundo algumas vezes antes de conseguir falar, então explicou a situação à recepcionista. Rodrigo disse o nome de Guilherme e ela verificou no computador. Disse à ele qual era o número do quarto, mas que ele não poderia ficar muito tempo, porque não era horário de visitas. Rodrigo disse que seria rápido, apenas alguns minutos, que só precisava dar um recado ao acompanhante do paciente. A recepcionista deu um adesivo escrito "visitante" e pediu que Rodrigo colasse em sua camiseta, orientou novamente que ficasse apenas alguns minutos. Rodrigo assentiu com a cabeça e foi em direção ao quarto.Com a aproximação de Andrey, por instinto, Caliman deu um passo para trás. Andrey ficou magoado, mas entendeu a atitude do outro.
Caliman: "Pode falar. O que é?", disse impaciente, queria que o outro fosse embora logo.
Andrey: "Você... Você precisa parar de lutar as batalhas dos outros, Cal."
Caliman: "O quê? Do que você tá falando?"
Andrey: "Tem que parar de se preocupar com os problemas dos outros e se concentrar em você."
Caliman ficou paralisado e surpreso. Não sabia o que responder, porque Andrey estava coberto de razão.
Andrey: "Eu vim aqui pra... me despedir. Estou indo embora, vou deixar você em paz.", abaixou a cabeça.
Caliman abriu um pouco a boca e arregalou os olhos com o susto dessa revelação.
Caliman: "Andrey... Tudo bem?", se aproximou e tocou no ombro do outro.
Andrey balançou a cabeça indicando que sim e olhou dos olhos de Caliman.
Andrey: "Você precisa... Não, você merece ser feliz.", disse sinceramente.
Ficaram se olhando por alguns segundos, então Caliman se aproximou e o abraçou. Andrey se curvou um pouco e escondeu o rosto no ombro de Caliman, como uma criança assustada pedindo colo.
Caliman: "Obrigado. Seja feliz você também."
Andrey ajeitou o corpo e levantou o rosto do ombro de Caliman. Ficaram abraçados por mais algum tempo e então, de repente, Andrey empurrou Caliman com força, quase derrubando ele.
Caliman: "O que deu em você?!", disse irritado.
Andrey estava pálido, olhando para um ponto fixo, atrás de Caliman. Quando Caliman se virou para ver do que se tratava, seu corpo gelou.
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Intensidade [CONCLUÍDA]
RomanceConteúdo inadequado para menores de 18 anos 🔞 Rodrigo é um rapaz tímido, que próximo de fazer 13 anos, sofreu uma grande decepção. Hoje, com 17 anos, ainda não conseguiu superar essa dor do passado que o persegue. Mas a vida lhe dará uma nova chanc...