Capítulo 65 "Fica comigo"

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     Já eram quase 11h, Rodrigo não podia esperar mais, começou a se organizar para ir ao hospital.
Miguel: "Quer que a gente vá com você?"
     Antes que Rodrigo pudesse responder, Christian chegou. 
Christian: "Desculpa, garoto mas não vou com você. Minha cabeça está explodindo, já falei com o Pedro, vou pra casa. Tudo bem ir só com o Miguel?"
     Ao ouvir isso, o semblante de Miguel mudou, ficou muito preocupado. Tocou a testa de Christian para sentir se o mais velho estava com febre. Olhou para Rodrigo, depois novamente para Christian, com certeza Miguel estava dividido.
Rodrigo: "Vá pra casa com o Chris, Miguel. Não quero que ele fique sozinho."
     Miguel respirou aliviado. Por um segundo, Rodrigo viu aquele casal que ele conheceu há uns meses atrás, quando ainda não eram três. Os dois se olhando com carinho, a preocupação de Miguel... Isso ainda machucava Rodrigo, essa sensação de não pertencer. Mas logo se desvencilhou desse pensamento, porque precisava ir ver Lucas antes que ele recebesse alta.
Rodrigo: "Tudo bem, já vou então. Depois vou direto pra casa ver como você está. Se cuidem, qualquer coisa me liguem."
    Sentados na sala de espera, Caliman e Lucinda tomavam café, quando Rodrigo chegou. Viu a mãe de Lucas, parou por um momento, depois continuou a caminhar, decidiu enfrentá-la se fosse preciso. 
Lucinda: "Pode vir até aqui, rapaz, tudo bem.", disse, olhando para Rodrigo. 
Rodrigo: "Boa tarde...", disse sem jeito, sem nem saber ao menos se já passava do meio dia. 
     Rodrigo olhou de relance para Caliman, que retribuiu o olhar, e foi ao encontro de Lucinda.
Lucinda: "Eu sei que você se importa com meu filho, não vou impedir você de vê-lo, fique tranquilo. Mas agora ele está conversando com o Guilherme."
Rodrigo: "Muito obrigada, dona Lucinda. Eu me importo mesmo com o Lu.", disse, com receio e continuou "Posso esperar, sem problemas.", disse, enquanto sentava na sala de espera.
     Uma enfermeira chamou Lucinda para tratar com ela sobre a alta de Lucas, deixando os dois rapazes sozinhos na sala.
Caliman: "Tudo bem?"
Rodrigo: "Pensei que ela fosse me impedir de ver o Lu.", disse, aliviado.
     Sabendo que dessa vez seria o fim, Lucas não podia deixar Guilherme sair assim. Precisava fazê-lo mudar de ideia, mostrar que o amava.
Lucas: "Foi um acidente, Gui! Por favor, não faça isso!, dizia, tentando se aproximar do outro mas sem sucesso.
Guilherme: "Eu não aguento mais!", o desespero começava a tomar conta. 
     Com as duas mãos na cabeça, Guilherme andava de um lado para outro dentro do quarto.
Lucas: "Se acalme! Vamos conversar, por favor!"
Guilherme: "Fui eu quem começou essa história, eu sei! Se eu pudesse voltar atrás...", as lágrimas começavam a cair. "Me perdoa por ter entrado na sua vida! No começo, era só curtição mas..."
Lucas: "Mas você se apaixonou, não é? Eu também! Nunca imaginei que isso pudesse acontecer mas aconteceu! Por favor, vamos ficar juntos! Fica comigo!", finalmente conseguiu chegar perto de Guilherme. 
Guilherme: "Você não entende!! Eu não posso mais ver você machucado por minha culpa! Quando vi você sem respirar... pensei que... Ah meu Deus! Não sei o que eu faria!", disse, segurando o rosto de Lucas com as duas mãos.
     Sem pensar em mais nada, Lucas avança sobre Guilherme e o beija apaixonadamente. O outro corresponde ao beijo com a mesma urgência e intensidade, consumidos pelo desejo.
        Várias coisas passavam pela mente de Guilherme naquele momento, um turbilhão de sensações. Seu desejo era pegar Lucas e sair com ele correndo dali, esquecer tudo o que passou, deixar tudo para trás e começar do zero. Queria gritar que o amava com toda sua alma, como nunca havia amado alguém antes. Mas a realidade era bem mais complicada. Guilherme sabia que não fazia bem à Lucas, se sentia quebrado, defeituoso. Todas as pessoas que ele já amou, foram tiradas dele. Então, ele preferia amar Lucas de longe, do que perdê-lo para sempre.
Guilherme: "Para...", disse ainda com os olhos fechados e continuou: 
"Já sentiu como... se tivesse as melhores intenções mas só cometesse um erro após o outro?", disse com tristeza.
Lucas: "Eu... Eu te amo...", disse, olhando nos olhos de Guilherme.
     Não sabia se era realmente o fim, mas não deixaria Guilherme sair pela porta sem que ele soubesse disso.
     Guilherme não podia acreditar! Como sonhou em ouvir isso! Ele também sentia o mesmo, mas não podia se deixar levar pelos sentimentos. Precisava afastar Lucas, precisava salvar Lucas de estar com alguém que só o machucava. Respirou fundo tentando acalmar seu coração que parecia querer explodir e conter as lágrimas.
Guilherme: "Mas eu não te amo.", disse, sem demonstrar emoção.
Lucas: "Mentira!!! Eu sei que não é verdade!", disse, agarrando na camisa de Guilherme. "Acabou de dizer que ficou preocupado comigo quando me viu desacordado! Me salvou, ficou aqui ontem, voltou hoje... Por que então?"
Guilherme: "Porque me senti culpado!", disse tirando as mãos de Lucas de si, com dificuldade.
Guilherme: "Acabou! Entendeu? ACABOU!"
     Guilherme saiu correndo, deixando Lucas paralisado, ainda sem acreditar. Voltou com dificuldade para a cama e se permitiu chorar. As lágrimas caíam molhando o lençol, seu corpo parecia doer ainda mais naquele momento. Pensou em ir atrás de Guilherme, mas não tinha forças e também, lá no fundo, Lucas sabia que já era tarde.
    Chegando na sala de espera, todos perceberam que havia algo de errado com Guilherme. Ele foi diretamente até Lucinda.
Guilherme: "Me perdoa, dona Lucinda. Fique tranquila, nunca mais vou machucar seu filho.", disse com a voz firme, tentando parecer bem.
     Caminhou depressa em direção a saída, deixando todos sem entender nada. Caliman correu atrás do amigo.
Caliman: "Ei! Espera! O que aconteceu dessa vez?"
   Guilherme parou, encostou a mão na parede, se apoiando. 
Guilherme: "Acabou... Acabou...", disse, ofegante. 
      Assim que Guilherme e Caliman saíram, Rodrigo entendeu o que havia acontecido. 
Rodrigo: "Posso ver o Lucas agora?", perguntou à Lucinda.
    Antes mesmo da resposta, ele saiu apressado ao encontro do amigo. Chegando ao quarto, encontrou Lucas aos prantos, em pé, apoiado na cama com os dois braços. 
Rodrigo: "Lu..."
     Lucas andou até o amigo e o abraçou com força, chorando em seu peito. O coração de Rodrigo se despedaçou ao vê-lo daquela forma.
Lucas: "Acabou... Acabou...", repetia sem parar.
     Lucinda entra no quarto e se depara com a cena. Foi ao encontro do filho, tentando consolá-lo, junto com Rodrigo.
     Lucas precisava se preparar para receber alta, então Rodrigo achou melhor ir embora. Disse ao amigo e à Lucinda que se precisassem de algo, era só ligar. Saindo do hospital toca o telefone, era sua irmã Heloísa. 
Rodrigo: "Alô, Helô! Tudo bem? O que aconteceu?!", disse, preocupado. 
Heloísa: "Não posso ligar pro meu irmãozinho? Estou com saudade, ué!", disse com um sorriso.
Rodrigo: "Desculpa... é que são tantos problemas... Mas deixa pra lá! Como você está?"
Heloísa: "Estou bem. Na verdade, quero conversar com você. Está livre agora?"
     Mesmo sua irmã dizendo que estava tudo bem, Rodrigo sabia que havia algo de errado. Fazia muito tempo que não via Heloísa, se falavam apenas por telefone para que a mãe deles não descobrisse. Se ela queria vê-lo pessoalmente, com certeza é porque tinha acontecido algo. Rodrigo marcou com ela na mesma confeitaria que tinha ido com Lucas, se encontrariam dentro de 1h. Mandou uma mensagem para Miguel dizendo que iria ver Heloísa e depois para casa. Perguntou também sobre Christian, Miguel respondeu que ele já estava melhor, Rodrigo ficou mais aliviado. 
    Ao que tudo indicava, Christian tinha pegado um resfriado. Miguel fez um chá para ele e ficou monitorando sua temperatura. Fez também uma sopa e, próximo às 13h, fez Christian comer um pouco. Ficaram deitados na sala assistindo TV, em meio a cochilos. Lá pelas 14h, Miguel recebeu a mensagem de Rodrigo avisando que ainda não iria para casa.
     Após descansar um pouco, tomar os remédios e o chá, Christian se sentia melhor, revigorado. Mas algo o estava incomodando e Miguel percebeu. 
Christian: "Você já pode ir, estou bem agora.", disse sem olhar para o outro. 
Miguel: "Está me mandando embora?", disse com um sorriso, achando que o outro estava brincando. 
Christian: "Sim, estou.", disse, sério. 
     Miguel cogitou ir mesmo embora, se sentiu magoado com essa forma de falar do outro. Mas sabia que havia algo errado, Christian não iria simplesmente agir assim sem um motivo. Levantou-se e foi até onde o mais velho estava. 
Miguel: "Estou achando você estranho desse cedo. O que está acontecendo?", disse tocando no rosto do outro. 
     Christian se levantou, propositalmente para sair de perto do outro, não se deixou ser tocado. Miguel estava realmente preocupado agora. 
Miguel: "Não quer ficar perto de mim? O que eu fiz?", disse, indo atrás do outro.
       Parado, de costas para Miguel, Christian tentava não ser rude, escolhia as palavras. Fazia muito tempo que Christian não fazia sexo de verdade, desde que eles resolveram assumir a relação a três. Como Christian não queria desrespeitar a idade de Rodrigo, toda vez que eles ficavam juntos de forma mais íntima, Christian se mantinha afastado, quase não tocava nos meninos e nem permita ser tocado, com receio de que não conseguisse se controlar. Ele ficava de longe a maioria das vezes, apenas se masturbando enquanto olhava os meninos juntos. Ele nunca tinha ficado tanto tempo sem sexo, isso já o estava deixando louco e, consequentemente, irritado. Não queria falar isso diretamente para eles, afinal, ele mesmo escolheu essa situação, não queria fazer os meninos se sentirem mal. 
Christian: "Desculpa, eu estou irritado, mas não é com você. Quero ficar sozinho, por favor.", disse, tentando não ser ríspido.

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