Capítulo 70 "Válvula de escape"

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Miguel: "Por que você ainda está nervoso? O herói Caliman daqui a pouco entra por aquela porta trazendo ele!", disse com sarcasmo.
       Miguel já estava de saco cheio de toda aquela situação, na verdade, se quando Rodrigo chegasse eles tivessem uma conversa franca sobre a relação, Miguel ficaria aliviado. Ele não tinha coragem de dizer isso em voz alta, mas era assim que ele se sentia. 
Christian: "Por que está falando assim? O quê está acontecendo?"
Miguel: "Ah, quer saber a verdade? Estou cansado de me sentir culpado por amar você!"
      Christian ficou calado, apenas olhando para o outro, pensou por uns instantes antes de falar.
Christian: "Eu te entendo, mas não podemos simplesmente... Olha, vamos esperar ele chegar, vamos ver o que ele vai falar. Não vamos tomar decisões precipitadas."
     Christian entendia Miguel, mas ao mesmo tempo não queria magoar Rodrigo. Se culpava por ter deixado essa relação ir tão longe. Ele não se arrependia de ajudar Rodrigo, nem de ter levado ele para sua casa, mas sim de ter se deixado levar. Tentou tanto não ceder, mas Rodrigo foi insistente e Miguel também. 
     Lucas chegou em casa, tirou a camiseta e deitou na cama. Mesmo exausto, não conseguiria dormir até saber que Rodrigo estava bem, em casa. Estava preocupado com o amigo, porque se a briga tivesse sido mesmo feia, talvez Rodrigo não quisesse ou não pudesse voltar para a casa de Christian, então não teria para onde ir, isso deixava Lucas mais e mais apreensivo. Decidiu ligar para Caliman, saber como estavam as coisas.
      A expressão de dor e desespero de Rodrigo acabava com Caliman, claro que ele jamais deixaria Rodrigo sozinho naquela situação, não faria isso com ninguém. Mas ao mesmo tempo, Caliman não queria se deixar levar pelo sentimento que crescia em seu coração e que já começava queimá-lo por dentro. Rodrigo estava completamente envolvido por Christian e Miguel e mesmo sabendo que os dois não gostavam dele da mesma forma, parecia não estar disposto a acabar com a relação entre eles. Caliman já havia sofrido muito, não podia sofrer mais.
Caliman: "Tudo bem, não fique assim.", disse tentando acalmar o outro.
     Rodrigo não quis magoar Caliman, não fez nada por vingança, nem nada desse tipo. O que Rodrigo sentiu foi verdadeiro e muito forte. Naquele instante toda dor, sofrimento e tristeza desapareceram, dando lugar a uma sensação de tranquilidade que Rodrigo só sentia quando estava perto de Caliman. O desejo veio logo em seguida quando sentiu o toque de Caliman em sua pele, foi algo inexplicável, uma sensação totalmente nova para Rodrigo. 
       Esse turbilhão de sentimentos fazia com que Rodrigo ficasse mais confuso e exaltado. E a possibilidade de perder Caliman, de vê-lo se afastar e de saber que o havia magoado, deixava Rodrigo desesperado. 
Rodrigo: "Não está tudo bem! Você precisa entender que o que quase aconteceu foi... Não sei! Porra!", disse alterado. 
      Caliman viu como o outro estava alterado e cansado, sabia que o dia dele tinha sido horrível, e na verdade, o dia de Caliman também não tinha sido dos melhores. Decidiu deixar seus sentimentos de lado e ajudar Rodrigo, queria levá-lo embora para que finalmente pudessem descansar. Os dois precisavam de uma boa noite de sono.
Caliman: "Tudo bem, não quero que fique assim. Vamos deixar isso de lado, fingir que nunca aconteceu, ok?"
     Toca o celular de Caliman, era Lucas. Rodrigo se assustou ao ouvir o toque, estava muito alterado.
Rodrigo: "Não atende!", gritou.
Caliman: "É o Lucas! Não vou dizer nada demais, só tranquilizá-lo. Já tem muito tempo que estamos aqui, se não atender, eles vão acabar vindo atrás de nós."
     Rodrigo acenou com a cabeça, indicando que sim, Caliman atendeu a chamada.
Lucas: "Finalmente atendeu! O que aconteceu? Achou ele?", disse nervoso.
     Caliman explicou à Lucas que pela localização do celular, imaginou que Rodrigo estivesse na empresa e acertou. Disse que o havia encontrado e que estavam apenas conversando mas já estavam de saída. Falou ainda que Rodrigo estava um pouco chateado, mas bem. Lucas o agradeceu por cuidar de seu amigo e pediu para que Caliman mandasse uma mensagem assim que deixasse Rodrigo em casa. Se despediram e desligaram.
Rodrigo: "Obrigado por não contar nada à ele."
Caliman: "Claro, não vou contar à ninguém. Vamos?"
      Desceram o elevador em silêncio, Caliman chamou um Uber, mas não sabia qual endereço colocar. 
Caliman: "Se quiser, pode passar a noite no meu hotel, eu durmo na casa do Gui."
      Rodrigo cogitou aceitar mas não adiantava adiar o enfrentamento , precisava resolver tudo o mais rápido possível.
Rodrigo: "Obrigado, mas não posso aceitar. Preciso dar um jeito nisso hoje."
       Com essas palavras firmes e cheias de atitude de Rodrigo, Caliman se encheu de esperanças, seu coração acelerou. Deu um sorriso de lado, imaginando como seria Rodrigo colocando um fim na relação dos três.
Caliman: "Tá certo, vou com você até lá, depois vou embora."
      Após desligar a chamada com Caliman, Lucas mandou uma mensagem para Christian, não quis ligar porque estava irritado com o ciúmes sem propósito do mais velho. A mensagem dizia que Caliman havia encontrado Rodrigo e que o deixaria em casa. Depois dessa mensagem, pensou mandar uma para Guilherme também, mas se conteve. 
Christian: "Mensagem do Lucas!", gritou e continuou: "O Caliman já está trazendo o garoto para casa."
      Miguel revirou os olhos.
Christian: "Olha lá o que você vai falar quando eles chegarem!"
     Dentro do carro os dois permaneciam calados. Era quase 1h da manhã, Rodrigo estava exausto, parecia que suas energias tinham sido sugadas. Ele encostou a cabeça para trás no banco do carro e fechou os olhos. Sua expressão era de dor e cansaço, Caliman passou a viagem toda olhando para ele, queria dizer alguma coisa mas não sabia o quê. Fez uma prece silenciosa para que tudo desse certo, para que aquele garoto na frente dele pudesse ser feliz.
      O carro finalmente parou, Rodrigo hesitou abrir os olhos, seu coração acelerou, sabia que a hora de encarar tudo havia chegado. Olhou para Caliman ao seu lado, forçou um sorriso, abriu a porta e saiu. 
     A noite estava silenciosa e uma brisa leve soprava balançando as árvores. Rodrigo respirou fundo e quando ia dar o primeiro passo em direção a porta, sentiu seu braço sendo segurado. 
Caliman: "Espera!"
        Rodrigo virou-se lentamente, estavam a poucos centímetros um do outro, Caliman podia ouvir a respiração descompassada do outro, o corpo de Rodrigo tremia. 
Caliman: "Se você precisar de mim para qualquer coisa... qualquer coisa mesmo... me liga. Eu vou onde você estiver, pode ser a qualquer hora. Entendeu?"
          Uma lágrima escorreu dos olhos de Rodrigo, ele acenou com a cabeça concordando com o que o outro havia dito.
Rodrigo: "Obrigado... Eu... Eu...", as palavras não saíam.
Rodrigo queria tanto um abraço de Caliman naquele momento! Isso com certeza daria forças a ele para enfrentar o que estava por vir. Mas ele prometeu que não se aproximaria de novo. O medo de afastar Caliman era maior do que tudo, então, ele ficou parado, apenas deixando as lágrimas caírem.
Caliman: "Não chora, por favor..." disse, levando uma mão ao rosto do outro.
     Rodrigo suspirou ao sentir o toque, colocou sua mão por cima da mão de Caliman e fechou os olhos. Ficou assim por poucos segundos, então soltou a mão do outro e foi em direção a porta, sem olhar para trás.
      Caliman ficou ali parado, em pé, o vendo ir embora. Sentiu um aperto no peito, mas pelo que Rodrigo tinha dito mais cedo, que ia resolver tudo, Caliman estava certo de que ele iria terminar tudo com Christian e Miguel. 
      A porta se abriu, Miguel saiu com pressa e abraçou Rodrigo.  Christian avistou Caliman de longe e acenou com a cabeça, como se dissesse "obrigado" e Caliman acenou de volta. Os três entraram na casa, então ele viu que não tinha mais jeito, agora era hora de ir embora.

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