Capítulo 56 "Ciúmes"

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Era horário de almoço, a empresa estava praticamente vazia, Rodrigo queria falar com Caliman, pedir ajuda sobre o encontro que teria com Lucas mais tarde, mas Miguel estava de olho. Rodrigo fingia estar concentrado no que fazia no computador, mas sua mente estava longe.
Miguel: "Vamos almoçar? O Chris está vindo pra nós irmos."
Rodrigo: "Ah... Vão vocês, eu preciso terminar isso aqui... O Pedro está no meu pé..."
Christian se aproximou, notou que Miguel estava estranho. 
Christian: "O que aconteceu? Vamos?"
Rodrigo não queria mentir, mas precisava traçar um plano para o encontro com Lucas à noite, precisava falar com Caliman o quanto antes, mas sabia que não teria como, se os dois estivessem lá.
Rodrigo: "Eu falei pro Miguel que preciso terminar isso aqui, mas podem ir vocês."
Miguel continuava calado e emburrado com os braços cruzados, encarando Rodrigo. "Com certeza tem algo errado aqui.", pensou Christian.
Christian: "Tudo bem. Vamos então, Miguel?"
Miguel: "Você não vai mesmo?", continuava encarando o mais novo. "Vai ficar sem comer?"
Rodrigo: "Estou sem fome, mas posso pedir um sanduíche."
O clima estava ficando tenso. Miguel podia jurar que Rodrigo estava mentindo, só não sabia o porquê. Queria insistir até que o mais novo cedesse, mas isso com certeza não iria funcionar, eles acabariam brigando. Christian olhou para Miguel, que entendeu que o melhor era deixar como estava.
Christian: "Ok, estamos indo então."
Se despediram com um selinho e os dois mais velhos saíram em direção ao elevador. Rodrigo observou, sem chamar a atenção deles, até que entrassem. Respirou aliviado e foi em direção a sala de Guilherme e Lucas. Sabia que Guilherme havia saído para o almoço, mas Caliman não, isso era perfeito, poderiam conversar sem problemas. 
Dentro do elevador, Christian notou que Miguel estava irritado. Olhou para o mais novo e colocou o braço direito em volta do pescoço dele.
Christian: "Vai passar o almoço todo com essa cara amarrada?"
Miguel: "Não é possível que você não notou."
Christian: "Acho que você está exagerando, o garoto só tinha muito trabalho. Esquece isso, vamos curtir o almoço.", disse puxando o mais novo para mais perto de si que ainda continuava de braços cruzados.
Será que estava mesmo exagerando? Será que, na verdade, estava morrendo de ciúmes? Miguel refletiu por uns instantes e o elevador chegou ao térreo.
Miguel: "Você tem razão, acho que estou com ciúmes. O Rô era só "nosso", agora que ele vai voltar a vir pra empresa, tenho que me acostumar", deu um sorriso sem graça.
Christian sorriu, pegou na mão do outro e entraram no carro de Christian para irem almoçar.
A porta da sala estava entreaberta, Rodrigo estendeu a mão para bater, mas ouviu algo estranho. 
Caliman: "Para de me ligar, caralho! Já troquei de número várias vezes! Nunca vai me deixar em paz?!"
Caliman jogou o celular na parede, que ao cair no chão, se partiu em dois. Passou as mãos no rosto, parecia desesperado. Estava de costas para a porta, por isso não percebeu que era observado. Rodrigo se assustou, pensou em dar meia volta, mas quando olhou novamente, Caliman estava aos prantos, com as mãos no peito, como se sentisse dor, chorando alto. Em um impulso, Rodrigo entrou na sala e colocou a mão no ombro do outro que se assustou. 
Caliman: "O quê... O que você está fazendo aqui?", disse assustado, tentando enxugar o rosto. 
Rodrigo: "Desculpa... A porta estava aberta..."
Caliman se desvencilhou do toque de Rodrigo e encostou na mesa. Rodrigo achou estranha a forma com que o outro não se deixou ser tocado, achou melhor se afastar, deu um passo para trás.
Rodrigo: "Você está bem?"
Não houve resposta. Caliman mantinha a cabeça baixa, o corpo arqueado, parecia extremamente triste. Rodrigo se abaixou um pouco para encontrar os olhos do outro, Caliman ergueu a cabeça e o encarou. 
Rodrigo: "Se precisar conversar, pode falar... Sei que a gente não se conhece, mas eu estou aqui agora..."
Caliman: "Está tudo bem.", interrompeu, "Só perdi a razão por um minuto, acho que acontece, não é?", sorriu sem jeito. 
Rodrigo sorriu de volta, puxou uma cadeira e sentou ao lado dele.
Caliman: "Desculpe por isso."
Rodrigo: "Não se desculpe. Eu que entrei sem bater."
Caliman parecia mais calmo, sentou ao lado do Rodrigo e dobrou as mangas de sua camisa.
Caliman: "Mas por que veio aqui? Aconteceu alguma coisa?"
Rodrigo contou que após conversarem, ficou pensando em um jeito de falar com Lucas, então, o chamou para jantar naquela noite. Lucas foi resistente mas acabou aceitando, iriam se encontrar às 20h em algum lugar que Rodrigo ainda não sabia. E pior, disse à Lucas que tinha um assunto muito sério para tratar com ele, mas isso era só desculpa. Na verdade, Rodrigo ainda não sabia o que inventar, por isso precisava tanto da ajuda de Caliman.
Rodrigo: "Eu sou péssimo mentiroso e estou inventando desculpa em cima de desculpa, vou acabar me atrapalhando e estragando tudo!"
Caliman sorriu, Rodrigo parecia adorável assim tão preocupado. 
Caliman: "Calma, vamos pensar em algo. Já decidiu onde vão jantar? Bom, eu não conheço nada aqui ainda, mas te aconselho a irem em um lugar mais calmo, sem muita gente, pra poderem conversar numa boa."
Rodrigo: "Sim, tem razão... Acho que conheço o lugar perfeito! É uma confeitaria que a noite, serve bufê de caldos e sopas. Nesse friozinho, vai ser ótimo e é bem tranquilo lá, nunca fica cheio."
Caliman: "Ótimo, lugar resolvido. Agora só falta o "assunto"."
Pensaram por mais uns momentos, trocaram ideias, mas a hora de almoço passava e nada de encontrarem uma solução. Falaram também sobre o relacionamento de Guilherme com o pai, Rodrigo falou algumas coisas sobre sua mãe, não muito, porque esse assunto ainda o machucava. Comentou que via semelhanças no pai de Guilherme e em sua mãe.
Caliman contou mais detalhes sobre o estado em que Lucas se encontrava no apartamento de Guilherme, depois da noite "intensa", já que pela manhã a conversa deles foi rápida. Rodrigo falou que talvez não fosse bom que eles ficassem juntos, já que pareciam não se acertar, mas Caliman estava convicto de que Lucas e Guilherme se amavam, só precisavam de um "empurrãozinho" para se entender.
Eles nem perceberam, mas já havia passado quase duas horas, o pessoal estaria chegando a qualquer momento.
Rodrigo: "Olha a hora! É melhor eu ir! Se o Miguel me vir aqui..."
Caliman: "O Miguel? Por quê?"
Rodrigo corou, não devia ter mencionado isso.
Rodrigo: "Você sabe que eu e ele..."
Caliman: "E o Chris também, não é?"
Rodrigo arregalou os olhos! Será que todos na empresa sabiam sobre eles três?
Caliman: "Mas o que tem isso? Não entendi."
Rodrigo: "Desculpa, eu não devia ter falado isso, é besteira...", sorriu nervoso, "Mas quando nos falamos de manhã, o Miguel ficou um pouco... ciumento."
Caliman se assustou, mas por outro lado, se sentiu um tanto lisonjeado. Depois sentiu uma ponta de culpa, não queria ser responsável por estragar o relacionamento de ninguém. Já tinha sentido na pele isso, não desejava à ninguém.
Caliman: "Nossa... Peço desculpas por isso, você sabe que eu não tive a intenção, não é? Você sabe, certo?"
Rodrigo: "Claro cara, de boa. Eu nem devia ter mencionado isso, sinto muito."
Foram andando até a porta, Rodrigo se preparava para sair. 
Caliman: "A hora passou e não pensamos na desculpa pro seu encontro com o Lucas."
Rodrigo: "Na verdade, acabei de pensar em uma coisa... Acho que vai dar certo. Bom, agora eu vou mesmo, obrigado."
Virou-se em direção a porta e então parou novamente.
Rodrigo: "Sobre aquele outro assunto, o que fez seu celular se suicidar..." sorriu e continuou "Se quiser conversar, estou à disposição."
Caliman sorriu sem graça, passou a mão no cabelo e pegou a maçaneta. Quando abriu a porta, Christian, Miguel e Guilherme estavam no corredor. "Não acredito!", pensou Rodrigo. 
Miguel lançou um olhar fulminante para Caliman, que deixou o mais velho constrangido. Foi andando rápido, pisando firme, até eles. Rodrigo entrou na frente de Miguel, teve a impressão que o outro iria se atracar com Caliman.
Rodrigo: "O que está fazendo?", falou baixo, quase sussurrando.
Miguel: "Você mentiu na minha cara?"
Guilherme e Christian se aproximaram rápido, parecia que ia rolar uma briga ali.
Guilherme: "O que é isso?"
Miguel: "Não se mete!"
Rodrigo: "Mentir pra você? Como assim?"
Christian, como sempre, chegou impondo respeito. 
Christian: "Chega de cena! Miguel! Rodrigo! Na minha sala, agora!"
Caliman e Guilherme se entreolharam mas não disseram nenhuma palavra.

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