Caliman andava apressado, batendo os pés com força no chão, estava irritado.
Guilherme: "Calma aí, nervosinho!" corria, tentando alcançar o amigo.
Guilherme: "Vai me deixar falando sozinho?" disse, segurando o outro pelo braço.
Caliman: "Eu te disse para não comprar outro celular pra mim. Não é porque você é rico, que pode fazer o que quiser!"
Guilherme se assustou com a reação do amigo, não era para tanto. Deu espaço para o outro, esperando que quando Caliman estivesse pronto, falasse qual era o problema. Mas isso já estava indo longe demais, Caliman estava muito estranho.
Guilherme: "Tudo bem. Te dei espaço, te respeitei, mas já deu. O que está acontecendo com você?"
Caliman não queria preocupar o amigo dizendo que seu ex estava ligando. Se sentia vulnerável e envergonhado com essa situação. Sabia que Guilherme faria uma piadinha, ou pior, iria tirar satisfações com o ex. Caliman com certeza não queria nada disso.
Caliman: "Desculpa, não quis dizer isso, me perdoa se te ofendi." disse, respirando fundo, tentando se acalmar.
Guilherme permanecia de braços cruzados, olhando fixamente para o amigo.
Caliman: "É que não acho certo abusar assim de você, só isso. Pare de comprar coisas pra mim, já te pedi isso!"
Guilherme não ficou satisfeito com a resposta mas achou melhor não insistir. Afinal, estavam na rua, definitivamente não era o melhor lugar para uma conversa tão séria.
Eles se acalmaram e continuaram até chegarem ao apartamento de Guilherme.
Guilherme: "Em minha defesa, se o senhor me permite dizer, comprei o celular pra você, mais por minha causa." disse, abrindo a porta do apartamento.
Caliman: "Sei..."
Guilherme: "Como você poderia vir correndo me salvar dos meus problemas se eu não tivesse como ligar pra você?"
Os dois sorriram e sentaram no sofá. Caliman parecia pensativo, Guilherme percebeu mas não iria tentar fazer o amigo falar, se claramente ele não queria.
A hora do encontro com Rodrigo se aproximava, Lucas começou a se arrumar. Tomou um banho rápido e tentava achar uma camisa que escondesse o máximo dos seus hematomas e marcas. No fundo do armário achou uma blusa de linha preta, com gola rolê que uma tia havia lhe dado de presente e ele nunca tinha usado porque achava muito brega. Ironicamente, a blusa era perfeita, mangas e gola compridas, escondia tudo que era preciso. "Até que não está tão ruim assim." pensava, enquanto se olhava no espelho. Terminou o look com uma calça de brim preta e sapato social. Fez um coque no cabelo, colocou os óculos, ensaiou um sorriso no espelho e logo saiu.
Miguel: "Você tem mesmo que ir?" falava de forma manhosa, tentando fazer Rodrigo mudar de ideia.
Rodrigo: "Não fala assim, que você me mata! Tenho que ir sim, mas volto logo."
Christian: "Vem cá, garoto!" deu um selinho nos lábios de Rodrigo e o levou até a porta.
No caminho para encontrar com Lucas, dentro do Uber, Rodrigo se pegou pensando na cena que presenciou mais cedo. Não entendia porque a visão de Caliman assustado e chorando não saía da sua cabeça. Talvez porque se identificava com ele. Muitas vezes chorou sozinho, muitas vezes teve que esconder seus sentimentos e fingir que estava tudo bem. Em meio a esses pensamentos, nem se deu conta que já estava chegando. Avistou Lucas de longe, antes de descer do carro.
Rodrigo: "Lucas!" gritou ainda de dentro do carro, acenando para o outro.
Lucas esperou o amigo pagar o motorista e entraram juntos na confeitaria.
Lucas: "Aqui é lindo, Digo!" disse, espantado.
O local era uma padaria e confeitaria durante dia e a noite, servia um buffet self service de caldos e sopas. Era um lugar estilo retrô, com luz baixa, as mesas cabiam no máximo 4 pessoas, com poltronas de camurça bordô e móveis rústicos. As paredes tinham tijolinhos aparentes e as janelas e vidraças eram envelhecidas, com desenhos de flores e formas geométricas, lembrava as janelas de uma catedral. Na porta de entrada, havia um pequeno sino, que fazia barulho sempre que alguém entrava ou saía e tinha um aroma constante de sopa, bolo e biscoitos saindo do forno, como casa de vó. Um ambiente muito aconchegante e acolhedor.
Rodrigo: "Sabia que você iria gostar, acho aqui a sua cara." disse, satisfeito.
Lucas: "Gostar? Eu quero é morar aqui!" disse, ainda olhando o lugar, encantado com tudo.
Acharam uma mesa num canto discreto e em seguida foram se servir. Lucas optou por sopa de tomates com croutons e Rodrigo pegou uma tigela de canja de galinha. Comeram e depois provaram outras iguarias servidas ali, enquanto conversavam sobre trivialidades. Rodrigo ainda tentando achar uma brecha para puxar assunto com o amigo mas Lucas estava se divertindo tanto, ele parecia tão alegre e relaxado, que Rodrigo não queria quebrar esse clima bom, queria deixar o outro aproveitar ao máximo, já que estava claro que Lucas parecia ter se esquecido de qualquer problema. Quando já estava totalmente satisfeito e já tinha provado todos os caldos e sopas que quis, Lucas pediu um chá de erva doce com hortelã, adoçado com mel.
Lucas: "Olha, eu estou literalmente no céu! Nunca mais vou embora, vão ter que chamar a polícia!" disse, em meio a uma gargalhada.
Rodrigo admirava a felicidade momentânea do amigo e se sentia feliz por ter proporcionado isso à ele. Lucas tinha feito tanto por ele e depois de desencontros e tristezas, a amizade deles permaneceu, isso era uma vitória.
Rodrigo: "Lu, estou tão feliz de ver você assim alegre e relaxado, de verdade." olhava o outro com ternura.
Lucas: "Obrigado Digo, eu precisava disso."
Mesmo em um dia frio, com tantos caldos, sopas e agora com o chá quente, Lucas começou a sentir calor e a gola da camisa o incomodava. Mexeu um pouco na gola, tentando afastá-la do pescoço suado. Com isso, Rodrigo conseguiu ver de relance algumas marcas.
Rodrigo: "Está tudo bem?"
Lucas: "Estou com calor" disse sorrindo, usando a mão para se abanar.
Rodrigo: "Como vão as coisas com o Gui?" resolveu ser direto, sem mais rodeios.
O semblante de Lucas mudou. O rosto alegre de antes, agora dava lugar a uma expressão de dor.
Lucas olhou para o lado, deu um gole em seu chá e desconversou.
Lucas: "Até agora você não me disse porquê me chamou aqui. Você falou no telefone que tinha algo sério para conversar. O que era?"
Claramente Lucas estava se esquivando da pergunta. Mas ele estava certo, Rodrigo disse que tinha algo importante para falar.
Antes, quando conversou com Caliman, ainda não sabia sobre o que falar com Lucas, mas depois teve a ideia de conversar sobre a cena de ciúmes de Miguel e pedir conselhos à Lucas. Essa seria a tal conversa importante e depois, Rodrigo tentaria falar sobre Guilherme.
Rodrigo contou sobre a cena de ciúmes que Miguel teve, como se sentiu ofendido e triste com essa desconfiança mas que depois tudo ficou esclarecido entre eles. A conversa foi curta, afinal, não havia muita coisa a ser dita.
Lucas: "Eu não estou entendendo várias coisas. Por que o Caliman te chamou pra conversar sobre trabalho, se o trabalho de vocês raramente se cruza? Por que o Miguel ficou com tanto ciúme se essa conversa de vocês não foi nada demais? E principalmente, por que você me chamou aqui pra falar sobre isso, se você o Miguel e o Chris já até fizeram as pazes?"
Rodrigo estava sem fala. "Realmente sou um péssimo mentiroso!", pensava.
Rodrigo: "Tudo bem, vou dizer a verdade." mas não pensava em dizer toda a verdade, só parte dela.
Rodrigo: "Tudo que eu falei é verdade, aconteceu mesmo. Só não foi por isso que te chamei aqui."
Lucas: "Precisa mentir pra me fazer vir até você, Digo?" disse, com tristeza.
Rodrigo: "Claro que não! Sei que nossa amizade é pautada na verdade, me perdoa. Mas é que eu não sei mais o que fazer pra você se abrir comigo."
Lucas sabia que o amigo só estava tentando ajudar. Lucas era bom ouvinte, bom em dar conselhos mas péssimo em se abrir e falar sobre seus sentimentos. Mas amizade é uma via de mão dupla, tudo precisa ser compartilhado.
Lucas: "Me desculpe por isso. O que quer saber?" disse, se inclinando para frente na mesa e olhando o outro nos olhos.
Rodrigo: "Quero saber tudo! Eu vejo que não está bem, mas não sei ao certo o que está acontecendo, não posso te ajudar, isso me deixa muito frustrado, porque você já fez tanto por mim..."
Lucas sentiu carinho e preocupação nas palavras do amigo, sabia que ele realmente só queria o melhor. Na verdade, Lucas precisava mesmo conversar, colocar algumas coisas para fora, que o sufocavam. Rodrigo com certeza era a melhor pessoa para ouvi-lo, aliás, Rodrigo era o único em quem Lucas confiava.
Lucas: "Digo, você sabe que eu não sou muito de falar sobre meus sentimentos, é complicado pra mim... Mas se tem alguém em quem eu confio, é você." disse, segurando na mão do outro.
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Intensidade [CONCLUÍDA]
RomanceConteúdo inadequado para menores de 18 anos 🔞 Rodrigo é um rapaz tímido, que próximo de fazer 13 anos, sofreu uma grande decepção. Hoje, com 17 anos, ainda não conseguiu superar essa dor do passado que o persegue. Mas a vida lhe dará uma nova chanc...