Capítulo 67 "Onde ele está?"

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     Lucas e Lucinda finalmente chegaram em casa depois de tudo que havia acontecido. Os dois permaneciam em silêncio, só era possível ouvir os passos deles pelo chão. O gato Salém espiou de longe, mas não se aproximou. Coisas de gato, às vezes não querem muito contato. Lucas caminhava lentamente em direção ao seu quarto, pretendia tomar um bom banho e dormir, para tentar esquecer os últimos acontecimentos. 
     O coração de Lucinda estava despedaçado em ver o filho naquelas condições. Queria falar alguma coisa, oferecer conforto... Mas o que poderia fazer? Achou melhor dar um tempo à ele, deixá-lo dormir um pouco. Mais tarde faria uma comida gostosa para tentar animá-lo.
     Já no chuveiro, Lucas não conseguia se manter em pé, as forças sumiram, ele se sentou no box, apoiando as costas naquela lajota fria, chorando com tanta força, com tanta dor... Como se tudo que estava guardado, estivesse finalmente sendo posto para fora. A água caía sobre seu corpo e escorria pelo ralo, junto com suas lágrimas e sua vontade de viver. Naquele instante, Lucas entendeu porquê as pessoas se suicidam. A tristeza, o desespero, o fato de pensar, pensar e não achar saída... Isso de fato é aterrador. Aos poucos seu corpo foi cedendo conforme os pensamentos que tinha e deitado em posição fetal, Lucas relembrava a conversa que teve com Guilherme no hospital. "Por quê...?" dizia em tom baixo. As marcas em seu corpo eram tão vívidas como em sua mente. Ele jamais seria capaz de esquecer tudo que viveu com Guilherme. 
Caliman se sentia incomodado com tudo o que tinha acontecido. Não era da sua conta se Guilherme e Lucas haviam se separado, mas por experiência, ele sabia que os rapazes não estavam bem, principalmente Lucas. Obviamente Guilherme não iria procurar Lucas, mesmo estando na cara que estava morto de preocupação. 
Caliman: "Para de andar de um lado para o outro, está me deixando nervoso!"
     Guilherme olhou para o amigo e sentou no sofá. Não conseguia ficar quieto, as mãos e pernas balançavam involuntariamente. 
Guilherme: "Não consigo!" levantou-se novamente.
Caliman: "Liga pra ele..."
Guilherme: "Não posso!" interrompeu. 
Caliman: "Eu também estou preocupado. Vamos fazer assim? Eu vou na casa dele."
     Imediatamente Guilherme parou. Virou para o amigo e o abraçou.
Guilherme: "Obrigado." disse, ainda abraçado.
Caliman: "Tudo bem, tudo bem. Assim que tiver notícias, eu te ligo."
Após se despedir da irmã, Rodrigo foi em direção a casa de Christian. Na mensagem, Miguel disse que o mais velho estava melhor, mas Rodrigo queria ver com seus próprios olhos. E ainda tinha o assunto que Heloísa falou, precisava contar isso aos mais velhos. 
     Era final da tarde, havia um lindo pôr do sol no horizonte quando Rodrigo chegou. A casa estava silenciosa, ele imaginou que Christian estivesse dormindo por conta do resfriado e da dor de cabeça, então, entrou sem fazer barulho. Ao passar pela porta e seguir pelo corredor, se deparou com uma cena que o deixou paralisado.
      Toca o interfone.
Lucinda: "Ah sim, pode deixá-lo subir."
     A porta já estava entreaberta quando Caliman chegou. Bateu de leve e Lucinda veio atendê-lo.
Lucinda: "Que bom que veio!" disse o abraçando e olhando para fora, como que procurando alguém. 
Caliman: "Ele não veio..." disse, sem graça.
Lucinda: "Tudo bem, eu entendo. Mas entre, o Lucas está no quarto. Sente-se, vou chamá-lo."
Caliman se sentou em uma poltrona de couro marrom, na sala, enquanto aguardava. Estava apreensivo, porque sabia que Lucas estaria mal, provavelmente perguntaria sobre Guilherme, talvez Lucas iria chorar. "Deus, será que consigo fazer isso?", pensava. Consolar uma pessoa é algo nobre, mas muito difícil.
Ouviu alguma coisa, mas não conseguiu identificar bem o que era. Ainda sim, permaneceu em silêncio, o barulho poderia não ser na casa e Rodrigo não queria atrapalhar o descanso de Christian.
Ao se aproximar, Rodrigo conseguiu entender que o barulho era mesmo ali. De repente ouviu a voz de Christian: "Eu te amo, sou capaz de tudo por você..." Andava lentamente, sem fazer barulho algum, seu coração acelerado indicava que sabia muito bem o que estava acontecendo ali, mesmo que sua mente ainda não quisesse acreditar.
Mas foi quando seus olhos viram, que a ficha finalmente caiu. Christian e Miguel não estavam apenas prestes a fazer sexo, aquilo era amor, qualquer um poderia ver. Lá no fundo, Rodrigo sempre soube, mas o tempo que passavam juntos era tão maravilhoso que ele se deixava enganar sempre que tinha aquela sensação horrível de que estava sobrando.
      Não podia mais olhar, estava ficando louco com os gemidos e juras de amor. "Eu... te... amo..." ouvir essa declaração de Miguel com a voz cheia de desejo e paixão, foi a gota d'água. As pernas de Rodrigo falharam, não conseguia se mover. Lentamente, foi escorregando pela parede, até sentar no chão, com as duas mãos na boca tentando conter o choro. Ficou ali, paralisado, ouvindo tudo, cada gemido, cada respiração, cada palavra de amor, até que eles finalmente chegaram ao orgasmo.
     Rodrigo sabia que precisava sair dali, a qualquer momento eles iriam levantar, não tinha condições de encará-los.
     Com as pernas ainda trêmulas, começou engatinhando, depois se levantando de forma desajeitada, esbarrou em algo, foi aí que sua carteira caiu e ele nem percebeu, só queria fugir dali.
      Depois de uns 15 minutos Lucas apareceu na sala, Caliman já estava apreensivo com a demora.
Lucas: "Desculpe a demora, estava no banho.", disse, caminhando com dificuldade e sentando-se na poltrona ao lado da de Caliman.
Caliman: "Sem problemas.", disse sem jeito.
     Fez-se um silêncio constrangedor. Lucas olhando para baixo, apertando as mãos. Caliman não sabia o que dizer, nem o que fazer. De repente, Lucinda chega trazendo xícaras, café e chá.
Lucinda: "Que bom que veio."
Caliman: "Bom, na verdade, vim saber se o Lucas está bem, se vocês estão precisando de alguma coisa...", disse envergonhado.
     Lucinda olhou para o filho que permanecia de cabeça baixa, sem responder. Parecia que nem estava ali, sua mente estava visivelmente em outro lugar.
Lucinda: "Ah sim...", disse, quando percebeu que Lucas não responderia, e continuou "Vamos ficar bem sim, obrigada pela preocupação.", disse colocando a mão no ombro do filho.
     Caliman não sabia mais o que dizer, o clima estava estranho, achou melhor ir embora.
Caliman: "É... Então já vou... Se precisarem de qualquer coisa, não hesitem em me ligar."
     Toca o telefone de Lucas, era Miguel. Lucas pede a sua mãe que atenda. 
Lucinda: "Alô, sim sou a mãe dele. O quê? Querido, fala devagar... Como? Calma!", disse, parecendo tão nervosa, que chamou a atenção de Lucas.
Lucas: "Me passa, mãe, eu atendo."
     Miguel fala para Lucas que Rodrigo saiu sem carteira, que eles não sabem onde ele está e que ele não atende o celular. Queria saber se Rodrigo tinha entrado em contato.
Lucas: "Não vejo o Digo desde hoje na hora do almoço. Mas como assim ele saiu? O que aconteceu?"
       O coração de Caliman falhou uma batida. Será que tinha acontecido algo de ruim com Rodrigo? 
       Miguel teve vergonha de dizer o que realmente tinha acontecido. Disse que eles tiveram uma briga e que Rodrigo saiu com pressa, esquecendo a carteira.
Lucas: "Mas foi uma briga feia então, hein! Pra ele ter saído assim! Vou ligar pra ele, tentar achá-lo. Vou dando notícias pra vocês.", disse, desligando o celular.
Caliman: "O que aconteceu com o Rodrigo?", disse, visivelmente preocupado.
      Lucas disse que, pelo que entendeu, parece que eles tiveram uma briga e Rodrigo saiu com pressa, esquecendo a carteira. Christian e Miguel estavam preocupados porque o mais novo não atendia o celular e estando na rua, à noite e sem dinheiro, algo de ruim poderia acontecer.
Caliman: "Ele não tem pra onde ir! O que ele vai fazer sozinho na rua?!", disse, um tanto exaltado.
     Lucas e Lucinda estranharam a reação do outro, mas não comentaram nada. Lucas pegou o celular, tentou ligar para Rodrigo mas sem sucesso.
Caliman: "Bom, agora eu vou mesmo. Se souber do Rodrigo, pode me avisar?"
Lucas: "Claro."
     Lucinda abraçou o rapaz e, agradecendo mais uma vez, o acompanhou até a porta.
Lucinda: "Querido, me fala uma coisa... Foi o Guilherme que te pediu para vir? Pode me dizer, não vou contar pro meu filho.", disse cochichando.
     Caliman passou a mão no cabelo, sem jeito. Nem precisou responder, porque Lucinda entendeu e deu um sorriso.
Lucinda: "Vai com Deus, querido."
      Miguel andava de um lado para outro.
Christian: "Se ele veio aqui e viu tudo, deve estar magoado... ele não tem pra onde ir... e ainda sem a carteira...", disse, muito preocupado. 
Miguel: "Ele vai procurar o Lucas, tenho certeza. Vamos continuar ligando, uma hora ele atende."

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