Capítulo 68 "Perdido"

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     Desnorteado, Rodrigo andava pela rua. Os sons e gemidos que acabara de ouvir, ainda ecoavam em sua mente e, com as mãos nos ouvidos, tentava contê-los. Sua blusa, já encharcada pelas lágrimas, estava colada ao corpo dele, completamente molhada. Ele andava e andava, sem querer chegar a algum lugar, apenas queria ir o mais longe possível, como se a distância fosse poder arrancar a dor que estava sentindo. Seu celular vibrava no bolso da calça, mas ele não queria atender, tinha certeza que seria Christian ou Miguel, e Rodrigo não tinha condições de falar com eles. Sabia que era o fim, aliás, Rodrigo sabia desde o começo que os dois mais velhos se amavam, que cedo ou tarde isso poderia acontecer. 
     Imediatamente ao sair da casa de Lucas, Caliman liga para o celular de Rodrigo, que chama mas não atende. Até se esqueceu da promessa que fez a Guilherme, que ligaria assim que tivesse notícias de Lucas mas essa situação com Rodrigo o fez esquecer de tudo. Olhou no relógio, eram quase 21h. Caliman não fazia ideia de onde procurar Rodrigo, ele não o conhecia tão bem assim mas queria fazer alguma coisa, não aguentaria ficar sem fazer nada para ajudar.
     Toca o telefone de Caliman, é Guilherme. 
Guilherme: "Cara, e aí? Por que não me ligou? Estou quase louco aqui!", disse desesperado.
Caliman: "Desculpa, Gui. É que aconteceu uma coisa. Mas o Lucas está bem, falei com ele, está tudo certo. Eu já ia te ligar.", claro que não ia ligar, ele nem estava se lembrando de Guilherme, mas falou isso para não parecer insensível. 
Guilherme: "Aconteceu uma coisa? Como assim?"
Caliman: "É o Rodrigo. Parece que teve uma briga entre ele, o Chris e o Miguel, daí ele saiu sem a carteira, ninguém sabe onde ele está, não atende o celular...", disse preocupado.
     Guilherme ficou surpreso com a preocupação do amigo, tanta, que até fez ele esquecer de ligar para contar sobre Lucas. Guilherme já tinha percebido um clima entre Caliman e Rodrigo, e agora estava constatado que havia algo começando entre eles, pelo menos da parte de Caliman.
Guilherme: "Fica calmo, vamos achar ele."
Caliman: "Como?! Não sei nem por onde começar a procurar!", disse, um tanto alterado.
Guilherme: "Eu tenho minhas fontes. Vem pra cá, nós vamos achar ele, eu te prometo."
     Christian andava de um lado para outro.
Miguel: "Pode parar, por favor? Está me deixando mais nervoso!"
     Se abraçaram por uns instantes, cada um se sentindo culpado do seu jeito.
Miguel: "Quando acharmos ele, vamos explicar o que aconteceu. O fato de termos ficado juntos sem ele, não quer dizer que não gostamos dele também."
     Christian ficou calado por alguns minutos, pensando.
Christian: "Mas esse é o problema. Eu gosto do Rodrigo sim, tenho carinho e desejo por ele mas...", levantou, ficou de costas para Miguel e continuou "Mas você eu amo. Entende a diferença? É claro que o garoto já sacou isso!"
Miguel: "Eu também amo você...", disse abraçando Christian por trás "Entendo o que está dizendo, é diferente sim. Deus! O que vamos fazer?!"
     Christian se virou e olhou nos do outro.
Christian: "Primeiro vamos achar ele, depois a gente pensa no que fazer."
      Lucas parecia ter esquecido tudo pelo que estava passando, andava de um lado para outro tentando falar com Rodrigo pelo celular. Ligou para alguns colegas da empresa, talvez Rodrigo poderia ter entrado em contato com alguns deles. Pensou em ligar para Heloísa, mas não queria preocupá-la, então acabou não ligando. De repente, o celular toca, era Caliman. 
Lucas: "Achou ele?!" disse apressado, antes que o outro pudesse sequer dizer "alô".
Caliman: "O Gui vai dar um jeito, vá pra casa dele, nos encontramos lá." desligou o telefone sem dar à Lucas tempo de responder. 
     Lucas não pensou duas vezes, saiu apressado.
     Quando Caliman chegou no apartamento de Guilherme, haviam algumas pessoas lá. "O que é isso?", pensou.
Guilherme: "Vamos achar o Rodrigo.", disse com convicção. 
     Guilherme usou seu dinheiro e influência, aquelas pessoas estavam ali para rastrear o celular de Rodrigo. Um dos rapazes explicou que enquanto o celular estivesse ligado, eles poderiam rastrear. Mas se a bateria acabasse ou se Rodrigo desligasse o celular, o contato seria perdido. Caliman não podia acreditar! Parecia cena de filme! Seu coração se encheu de esperança, aguardava ansioso pela localização de Rodrigo.
     Quando chegou na frente do apartamento de Guilherme, Lucas parou. Algumas memórias passaram por sua mente, angústia e medo invadiram seu coração. Tudo ainda era muito recente e pela forma que Guilherme o deixou no hospital, talvez não fosse uma boa ideia subir até lá. Mas, em contra partida, Rodrigo precisava de sua ajuda, Lucas precisava deixar tudo de lado, pelo menos por um tempo, para ajudar o amigo.
      Ao abrir a porta, Guilherme quase teve um infarto! Estava tão envolvido com tudo que acontecia ali, que quando abriu a porta e viu Lucas, se assustou. Ele estava com olheiras profundas, "Ele parece ainda mais magro! Como pode ser possível?", pensou Guilherme. Estava com uma camiseta preta, calça jeans azul clara, chinelos e o cabelo solto, parecia que tinha saído às pressas. As marcas em seus pulsos e alguns hematomas ainda eram bem visíveis, mas Lucas parecia não se importar. 
Lucas: "Oi... Eu vim por causa do Rodrigo. Obrigado mesmo por ajudar." disse, sem jeito.
Guilherme: "Claro..." não conseguia dizer mais nada, ainda estava atônito.
Lucas: "O Caliman me ligou, disse pra eu vir. Espero que não tenha problema..."
     Guilherme ficou calado, não conseguia falar, estava sem reação. Lucas pensou que talvez não tenha sido boa ideia ir até lá, cogitou dar meia volta e ir embora.
     Caliman viu os dois parados na porta e achou melhor intervir. Não sabia se estava tudo bem ou se estavam se estranhando.
Caliman: "Lucas! Que bom que chegou! Vem aqui, vou atualizar você."
     Guilherme deu espaço para que Lucas passasse, sem falar nada. Caliman contou o que sabiam até aquele momento e que precisavam aguardar. 
     Todo aquele movimento deixou Lucas meio tonto, então foi até a sacada respirar um pouco, estava muito nervoso. Encostou na bancada olhando para o céu estrelado, tentando se acalmar. De longe, Guilherme o observava, seu desejo era correr até ele e o consolar, sabia como o outro estava preocupado. Guilherme estava fazendo tudo isso por Lucas, porque sabia como ele ficaria preocupado com Rodrigo, seu melhor amigo.
     Sentaram na sala em silêncio, enquanto os especialistas trabalhavam. Lucas estava agitado, balançava as pernas em sinal de nervosismo. 
Guilherme: "Vamos achar ele, fica tranquilo." disse em tom baixo, tocando na mão de Lucas, que olhou surpreso para Guilherme. 
     Caliman, percebendo a aproximação dos dois, levantou disfarçadamente para deixá-los sozinhos. Foi até a cozinha, apoiou as mãos na bancada, "Onde ele está?", pensou. Num lampejo, veio à sua mente coisas ruins que poderiam acontecer com Rodrigo por estar na rua alterado pela briga, sem a carteira e com o celular provavelmente sem bateria. Um frio percorreu sua espinha e as mãos começaram a tremer. "Não posso imaginar o pior!", pensou.
       Lucas tirou sua mão do toque de Guilherme, não queria que o outro pensasse que ele estava ali para isso, não queria mais mal entendidos. 
Guilherme: "Desculpa.", disse envergonhado. 
Lucas: "Tudo bem, me desculpa também, foi impulso..."
     Depois de quase uma hora, já passavam das 22h, conseguiram a localização, não deu para ser muito precisa, porque o celular foi desligado. Mas já dava para saber em qual bairro ele estava, e então começar as buscas.
Caliman: "Acho que já sei onde ele está!", disse e saiu correndo.
      Guilherme e Lucas se entreolharam, mas tentaram disfarçar, enquanto os profissionais arrumavam suas coisas para irem embora. Lucas percebeu que ficaria sozinho com Guilherme e começou a se preparar para sair também. Na verdade, o que ele mais queria, era ficar com seu amado, mas não suportaria ser rejeitado outra vez, nem mandado embora, já tinha sofrido demais.
     Olhou ao redor, o local parecia familiar. Rodrigo não se deu conta que havia caminhando por tanto tempo. O celular finalmente parou de vibrar, e se sentiu aliviado com isso, a bateria tinha acabado. Não sabia que horas eram, nem onde estava. Foi aí que, Rodrigo caiu em si e começou a perceber sua situação. Tateou sua calça em busca da carteira e não encontrou, pegou o celular e constatou o que já havia pensado, sem bateria. Então o desespero bateu! O que fazer? Não tinha para onde ir, não tinha dinheiro e nem como ligar para alguém. O nervosismo começou a tomar conta, mas ele não queria se desesperar, então se manteve firme. Novamente percebeu que o local parecia familiar, andou por mais um quarteirão e viu que estava próximo da empresa. 
      A Editora Intensity ficava aberta aos funcionários 24h por dia, Lucas mesmo já havia passado a noite na empresa várias vezes. "É pra lá que eu vou.", pensou Rodrigo. Para sua sorte, o vigia era conhecido, Rodrigo não precisou apresentar o crachá da empresa para entrar, tinha ficado na carteira dele.
     Subiu o elevador e quando viu o andar totalmente vazio, resolveu caminhar pelos corredores, se lembrando dos momentos que viveu ali com Christian e Miguel. Lembrou da vez que encurralou os dois mais velhos na sala de reuniões, após o primeiro beijo deles na boate. As lágrimas começaram a cair novamente. Como estava sozinho, não precisava se conter, chorou muito, colocou toda tristeza e frustração para fora.
     De repente, enquanto passava pela sala de Guilherme, veio à sua memória o dia em que viu Caliman chorando, se lembrou de como ficou penalizado e de como queria ajudá-lo. Um barulho alto afastou Rodrigo desses pensamentos, ele se virou rapidamente. Assustado e sem conseguir entender ainda de onde vinha o barulho, foi tomado por um abraço. 
Caliman: "Não acredito que eu te achei!", disse, abraçando o outro.

Intensidade [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora