Capítulo 29 "Ainda tenho lágrimas pra dar"

942 80 5
                                    

     Lucas estava receoso, não sabia como livrar Guilherme, não tinha como inventar alguma desculpa, mas ao mesmo tempo, não queria falar de sua vida pessoal com Pedro. Alguma coisa no vice-presidente o deixava irritado, possivelmente seu jeito de agir e falar como um ditador.         Lucas já havia pedido para que ele mudasse e fosse mais empático, mas não adiantou. Miguel estava certo sobre Pedro ser o primeiro a chegar na empresa, soube pela secretária que muitas vezes viu o vice-presidente passar a noite lá.
    Bateu na porta e esperou por uma autorização para entrar. Pedro estava sentado na frente do computador, já aquela hora da manhã.
Pedro: “Entre.”
Lucas: “Bom dia Pedro, posso conversar com você?”
Pedro: “Sim. Sobre o quê?”
Lucas: “Bem, é sobre o Guilherme. E… O Rodrigo.”
Pedro: “Humm… Sabe que não sou psicólogo, então por favor, resolvam isso entre vocês.”
    Certamente não era aquela resposta que Lucas esperava de Pedro, mas se conteve.
Lucas: “Entendo. Inclusive você sempre deixou isso bem claro, mas é sobre o incidente de ontem.”
Pedro: “Eu já soube que o Guilherme praticamente destruiu o CPD, mas já fizemos um orçamento e sei que ele irá arcar com o prejuízo. O jurídico da empresa também vai entrar com as medidas cabíveis. Não é porque ele pode pagar, que deve sair impune de tudo. Soube da briga entre ele e o rapaz novo, o… o…”
Lucas: “Rodrigo.”
Pedro: “Isso. Quanto a briga, não posso fazer nada, não foi dentro da empresa, mesmo que sejam funcionários. Mas posso pedir para o RH continuar pagando o salário do Rodrigo, enquanto ele estiver afastado.”
Lucas: “O jurídico da empresa? Como assim?” perguntou, preocupado.
Pedro: “Isso não é da sua competência.” respondeu rispidamente.
Lucas abaixou a cabeça, sentiu raiva mas não tinha nada que ele pudesse fazer. Guilherme realmente havia passado dos limites.
Pedro: “Sobre o Rodrigo, não esqueça de lembrá-lo de que ele pode trabalhar home office.”
Lucas: “Você só pensa na empresa?” disse, já no limite, não suportava esse jeito do Pedro.
Pedro: “Não, mas certas coisas, como já conversamos, estão fora da minha alçada.”
Lucas: “Claro, como sempre.”, disse saindo, não aguentava mais ficar perto daquele homem que o tirava do sério.
    Já estava de saída, mas lembrou de que não havia avisado sobre Miguel e Christian. Pedro já havia voltado a usar o computador.
Lucas: “O Miguel pediu para avisar que ele e o Christian vão se ausentar alguns dias. Provavelmente vão mandar alguma mensagem mais tarde.”
Pedro: “Obrigado por avisar.”, disse, sem tirar os olhos do computador.
“Francamente, poderia ser um pouco mais humano.”, pensou Lucas.
Chegando na recepção, se preparando para ir embora, a recepcionista o avisou que alguém estava esperando por ele. Se assustou ao ver que era Roberto, o pai de Guilherme. 
Roberto: “Bom dia Lucas, sei que está em horário de trabalho, mas posso trocar uma palavrinha com você?”
“O que ele pode querer falar comigo?!” pensou Lucas, temeroso. 
Lucas: “Cla… claro. Pode falar.”
Roberto: “Prefiro que seja em um lugar mais reservado. É um assunto delicado.”
       Lucas gelou. Com certeza o que Roberto tinha pra falar era sobre Guilherme. Sentiu medo de descobrir algo horrível. Não estava em condições de levar mais nenhum baque.
Lucas: “Vamos até a minha sala. É muito cedo, o Guilherme ainda não chegou. Podemos conversar lá.”
No caminho, Lucas tentava controlar a ansiedade, seu coração batia forte. Uma mistura de sentimentos tomou conta dele. E ainda precisava ir até o hospital ver como Rodrigo estava.
Lucas: “Entre, pode sentar.” disse, apreensivo.
Roberto: “Prefiro ficar de pé mesmo, vou ser breve.”
        Lucas também ficou em pé, mas encostou na mesa. Pensou que era melhor estar apoiado em algo, caso precisasse.
Roberto: “Então… Não sei como falar, nem por onde começar, por isso vou dizer de uma vez.”
Lucas escutava atentamente. 
Roberto: “O Guilherme é meu filho e eu o amo, mas preciso te dizer que ele não é uma boa pessoa. Você deveria se afastar dele.”
Roberto não amava o filho, muito pelo contrário, mas queria tocar o coração de Lucas. Na verdade, a real intenção dele, era afastar de Guilherme tudo aquilo que era importante para o rapaz, queria fazê-lo sofrer, já que Guilherme não deu o dinheiro que Roberto tanto queria. “Vou acabar com tudo que Guilherme mais ama.” pensou Roberto e continuou.
Roberto: “Eu não sou cego, sei que existe algo entre vocês e sei também, pelo seu rosto, que já aconteceu alguma coisa que fez você se decepcionar com meu filho.”
Essa verdade Lucas não podia negar. Mas o que ele sentia por Guilherme ainda falava mais alto, mesmo estando tão confuso.
Lucas: “Eu não sei onde o senhor está querendo chegar. Eu sei que o Gui tem alguns problemas mas…”
Roberto: “Você sabia que minha esposa está morta por causa dele?” interrompeu e continuou “Ele matou a própria mãe!”
Lucas não podia acreditar nisso! Já era demais! Todo o descontrole de Guilherme começava a fazer sentido para Lucas. Ele estava pasmo, sem ação. 
Lucas: “Como… Como assim?” disse, em tom baixo.
Roberto: “É claro que ele não te contou nada disso! Afaste-se dele! Você é um bom rapaz, não merece ser contaminado pelo Guilherme.”
Roberto saiu da sala e fechou a porta, deixando Lucas completamente arrasado. “Meu Deus! Não dá pra acreditar nisso!” pensou, passando a mão pelo rosto. Ficou alguns minutos ainda parado, estava sem reação. Mas logo se lembrou de tudo que ainda precisava fazer, não podia se deixar abalar assim. Saiu da empresa e até se esqueceu de ir em casa troca de roupa, foi direto para o hospital. 

No hospital, Lucas não pôde entrar devido ao número de visitantes por paciente, já estar no seu máximo. Para sua sorte, encontrou Christian em um banco na frente do hospital, precisava saber das notícias.
Lucas: “Chris.”
Christian: “Lucas.”
Lucas: “Bom dia.”
Christian: “Bom, eu acho.”
Lucas: “Então, notícias do Rodrigo?”
Christian suspirou, ainda estava cansado e sua mente pesada com tudo. Lucas engoliu seco, imaginando o pior.
Christian: “O Rodrigo está estável, como disseram. Ele ontem teve que passar por uma cirurgia na perna, não entendi direito, mas sei que o joelho dele está detonado. Ele vai ter que fazer fisioterapia e tomar uns remédios controlados para dor.”
Cada palavra de Christian era como um soco que Lucas levava. Tentava não demonstrar nenhuma reação, mas naquele momento que ouviu sobre a medicação controlada, começou a chorar.
Lucas: “Já viu ele?”
Christian: “Não, sou o próximo a entrar, já dei meu nome.”
Lucas: “Quem está lá agora?”
Christian: “A mãe não desgruda dele, o que é bom. A irmã já veio visitar. Eu e o Miguel entramos depois, para a Marisa ir em casa pegar algumas coisas.”
Se a mãe de Rodrigo estava lá, Lucas definitivamente não poderia entrar.
Lucas: “Eu posso fazer alguma coisa?”
Christian: “No momento não. Se quiser tentar visitar amanhã, nós combinamos.”
Lucas: “Qualquer coisa, por favor, mande mensagem ou me liga.”
Christian: “Pode deixar.”
Lucas: “Estava esquecendo, já avisei o Pedro.”
Christian: “Obrigado. Bom ter uma preocupação a menos.”
Lucas: “Então, até amanhã Chris.”
Christian: “Até.”
Lucas pôde avistar Miguel chegando com dois copos de café. Acenou de longe, mas não recebeu resposta, Lucas estava sentindo o peso das suas ações.
Miguel não perguntou à Christian sobre a ida de Lucas, sabia que o mais velho iria falar o essencial sobre a conversa. Às 9:00h, era o horário da troca de acompanhantes e visitantes. Christian ficaria como acompanhante no lugar de Marisa e Miguel como visitante substituindo a irmã de Rodrigo.

Escuro, dor, vozes. Era o que restava para Rodrigo naquele primeiro dia após a cirurgia, mesmo com a medicação para aliviar a dor, ele continuava sentindo cada músculo doendo. Estava assustado não somente pelo que aconteceu, aquela explosão de Guilherme, mas pelas poucas coisas que ouviu enquanto estava voltando a si. Pôde assimilar que não voltaria tão cedo para a Editora e teria que fazer fisioterapia. “Mais um tempo trancado em casa sem fazer nada.”, pensou.
Rodrigo ouviu o choro da sua mãe e irmã, além das vozes preocupadas de Christian e Miguel discutindo sobre o comportamento de Guilherme e sobre como Lucas largou tudo e correu atrás dele. Após o efeito da anestesia, ainda se sentia meio grogue, mas podia jurar ter visto Christian beijar Miguel enquanto o mais novo chorava, aquilo doeu e muito, mas o que poderia fazer? Miguel era do Christian e vice versa, não poderia ter um terceiro. Rodrigo apenas se limitou a chorar em silêncio naquela noite enquanto todos dormiam.

Intensidade [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora