Capítulo 75 "Estamos Ferrados"

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     Caliman sentiu como se todo o sangue do seu corpo tivesse escoado das veias! Ficou paralisado, com os olhos esbugalhados, a boca entreaberta, com o susto que levou vendo Rodrigo. Quanto da conversa ele teria ouvido? Será que a última parte, quando ele disse que já tinha alguém, também foi ouvida?
Caliman: "Ah... Rodrigo... Esse é o Andrey, meu..."
Andrey: "Marido!", interrompeu, olhando Rodrigo de cima a baixo.
     Fez-se um silêncio. Rodrigo, com uma expressão de surpresa, olhou para Caliman como que pedindo explicação. 
Caliman: "EX MARIDO, que fique bem claro.", disse, quebrando o silêncio. 
       Rodrigo, ainda com os dedos entrelaçados aos de Caliman, se sentiu intimidado por aquele homenzarrão, bonito, rico e ex marido. Mas não deixou transparecer essa insegurança
Rodrigo: "Muito prazer.", disse, estendendo a outra mão para o cumprimentar, e continuou: "Eu sou o namorado.", disse, apertando firme a mão de Andrey e olhando em seus olhos.
      Por alguns segundos, parecia que o ar fugira de seus pulmões, Caliman, não conseguia respirar! Conhecia muito bem seu ex marido, um homem que, por ser rico, achava que podia tudo, que tudo que quisesse estava ao alcance de suas mãos, com apenas um estalar de dedos. Esse homem tão imponente e narcisista não aceitaria um desaforo desses de um simples garoto.
      Andrey, enfurecido pela resposta de Rodrigo, deu um passo a frente mas Caliman se interpôs entre Andrey e Rodrigo, protegendo seu "namorado" de seu ex marido.
Andrey: "Então é isso? Virou 'papa anjo' agora, Cal?"
Caliman: "Cara, vai embora! Você tá passando vergonha já! Um homem como você, se rebaixando desse jeito?", disse, mexendo com o orgulho de Andrey, conhecia bem seu ex marido, sabia tocar na ferida.
      Andrey olhou para Rodrigo uma última vez, recebendo um olhar fuzilante de volta. 
Andrey: "A gente se vê.", disse, voltando-se para Caliman, deixando claro que isso não terminaria assim.
      Os dois, ainda de mãos dadas, viram Andrey caminhar até sua Mercedes branca e ir embora. Assim que o carro saiu, Caliman, imediatamente, soltou a mão de Rodrigo, que se assustou com o gesto mas entendeu.
Rodrigo: "Ele é muito..."
Caliman: "Rico?", interrompeu. 
Rodrigo: "Isso também, mas eu ia dizer bonito."
     Caliman olhou para o outro e deu uma gargalhada.
Rodrigo: "Sério! Ele parece até artista de cinema! Acho que nunca vi uma pessoa bonita assim tão de perto, de verdade, sabe?"
Caliman: "A mesma quantidade de beleza que ele tem por fora, tem de maldade e feiúra por dentro.", disse, amargurado.
       Caliman começou a caminhar em direção ao ponto de táxi, deixando Rodrigo para trás, sem maiores explicações.
Caliman: "Obrigado pelo que fez, mas eu assumo daqui.", disse de longe.
Rodrigo: "Ei! Aonde você vai?", gritou, o seguindo. 
Caliman: "Encher a cara! Esse dia já deu o que tinha que dar!"
Rodrigo: "Ele ainda mexe tanto assim com você?", perguntou, com medo da resposta. 
     Caliman não respondeu, entrou no táxi sem nenhuma consideração com o outro que o seguia.
Rodrigo: "Vou com você!", disse, entrando no carro e continuou: "Bora, motorista!"
       Caliman não disse nada, chegou para o lado dando espaço para Rodrigo sentar.
        Enquanto Lucas ajeitava a moto na vaga, viu Guilherme olhando para alguma coisa ou alguém.
Lucas: "O que foi?", disse, procurando o que o outro tanto olhava.
Guilherme: "Tive a impressão de ter visto o... Roberto."
Lucas: "Seu pai?", olhava para os dois lados, procurando aquele ser desprezível.
Guilherme: "Acho que estou vendo coisas.", sorriu de lado.
      Lucas se preocupou, antes de subirem, deu mais uma olhada ao redor. Não queria deixar Guilherme sozinho, passando mal e a mercê do pai impiedoso, mas não viu nada de estranho.
Guilherme: "Fica à vontade aí, vou tomar o remédio, já volto.", disse, jogando as chaves sobre a mesa de centro. 
      Já no bar, Caliman virava um shot atrás do outro, o que fazia Rodrigo pensar cada vez mais que Andrey ainda era muito importante na vida dele. 
Rodrigo: "Ei, vai com calma!", tentava frear o outro.
     Caliman não parava, parecia até outra pessoa, não mais aquele cara sensato e contido de sempre. 
Rodrigo: "Caio, você está me assustando...", disse, tocando no braço dele e continuou: "Não quer conversar?"
Caliman: "Vai embora, garoto. Tem gente te esperando em casa.", falava já com a voz mole, a bebida fazendo efeito.
     Rodrigo podia ver que ele estava sofrendo, não iria deixá-lo assim.
Rodrigo: "Era com ele que você estava falando no celular aquela vez, não é?"
      Caliman soltou um suspiro, outra dose, não respondeu a pergunta. 
Rodrigo: "Fala comigo!", se irritou.
       Toca o celular de Caliman, era Lucas. Ele vira o celular para baixo e o coloca no balcão.
Rodrigo: "Não vai atender?"
Caliman: "Vou ao banheiro.", saiu trocando as pernas, deixando o celular para trás. 
       Sem pensar muito, Rodrigo atende o celular. 
Rodrigo: "Oi, Lu."
Lucas: "Digo?! Mas o quê...?!"
Rodrigo: "É uma longa história. O que foi?"
Lucas: "Estou com o Gui, ele tá passando mal, não quero deixar ele sozinho, por isso tô ligando pro Caliman."
Rodrigo: "O Caio não está em condições. Está completamente bêbado. É melhor você ficar com o Gui."
Lucas: "Como assim?!"
Rodrigo: "Lu, tenho que desligar!"
        Ao sair do banheiro, Caliman esbarrou em algumas pessoas, causando uma confusão entre bêbados. Estavam a ponto de se socar, causando uma briga de verdade! Rodrigo correu até onde estavam, arrancando Caliman de lá, antes que fosse tarde.
Caliman: "Me deixa!!", falou irritado. 
Rodrigo: "Já chega! Vamos embora!"
       Passavam das 21h, Rodrigo arrastava Caliman para fora do bar com dificuldade, entrou no mesmo táxi que os tinha trazido. Como não sabia onde Guilherme morava, ligou para Lucas, que deu o endereço.
       Guilherme andava de um lado para outro, mexendo em gavetas, armários, caixas... parecia procurar alguma coisa.
Lucas: "O Digo acabou de ligar, parece que o Caliman está bêbado e..." parou de falar ao ver a agitação do outro. "O que foi?"
Guilherme: "Não acho o remédio."
       Um medo estranho tomou conta de Lucas. E se Guilherme passasse mal de verdade e  tivesse uma convulsão? Um frio subiu por sua espinha, acelerando seu coração. Engoliu em seco e fez uma prece silenciosa. Não saberia como agir se Guilherme tivesse uma crise.
Lucas: "Vamos comprar então!", disse, já pegando suas coisas e a chave da moto.
Guilherme: "Não é assim, precisa de receita, não é só chegar na farmácia e pedir."
        O medo se espalhava pelo corpo de Lucas, suas pernas pareciam que não estavam mais ali, precisou se sentar. Seu coração batia tão rápido e tão forte, que ele podia sentir as batidas.
Lucas: "O que fazemos então?!", já estava visivelmente nervoso.
Guilherme: "Vou falar com meu médico.", disse, pegando o celular.
     Christian olhou o celular, nenhuma mensagem ou ligação. Miguel e Rodrigo não voltaram para casa nem deram satisfação. Andava de um lado para outro, sabia que tinha feito algo horrível e que não seria perdoado tão facilmente. Achou melhor não procurar os mais novos e deixar a poeira baixar, depois, com calma, tentaria conversar com eles e pedir perdão, principalmente a Rodrigo. 
       Deitado na cama, já pronto para dormir mas sem sono nenhum, Miguel refletia sobre tudo o que havia acontecido. Com a cabeça mais fria, conseguia ver agora que Christian agiu no calor do momento e acabou perdendo o controle. Claro que isso não justifica o comportamento agressivo que teve com Rodrigo, essa parte é imperdoável, mas nas demais questões, Miguel conseguia entender Christian. Afinal, todos estamos sujeitos a perder o controle. Resolveu deixar os ânimos se acalmarem, ficaria sem ver Christian por um tempo, tinha que manter sua sanidade, a relação já não era como antes, cheia de mentiras e desentendimentos. 
      Guilherme não queria que o outro percebesse, mas estava ficando preocupado. Desde que começou o tratamento, nunca tinha ficado tanto tempo sem o remédio. Sua última convulsão foi naquela vez em que Alexandre batizou sua bebida e... sabemos o que aconteceu. "Como posso ter esquecido de comprar?", pensava. 
      Ligou várias vezes mas o médico não atendeu, então Guilherme deixou uma mensagem. Respirou fundo, sabia que ficar nervoso poderia ser pior para sua situação e também não queria deixar Lucas mais assustado do que já estava. 
Guilherme: "Quando ele ouvir a mensagem, vai me retornar.", disse tentando parecer tranquilo. 
Lucas: "O quê?? Mas e se...?"
Guilherme: "Lucas!", interrompeu e continuou: "Não posso ficar ansioso que é pior..."
       Claro! Lucas estava fazendo a situação ficar ainda mais tensa com sua preocupação. Percebeu isso e parou com os questionamentos, tentou manter a calma e ajudar como pudesse.
Lucas: "Desculpa..."
Guilherme: "Tudo bem.", disse com um sorriso, tocando no ombro do outro. 
      Guilherme deitou no sofá, sua cabeça ainda estava pesada e Lucas sentou no outro sofá, de frente para ele, praticamente nem piscava, vigiando até a respiração de Guilherme. De repente, ouvem batidas na porta, Lucas foi atender, era Caliman bêbado sendo amparado por Rodrigo.
        Levantando-se rapidamente do sofá, Guilherme foi ajudar o amigo.
Guilherme: "O que aconteceu, cara?", perguntou, ajudando Rodrigo a segurá-lo.
Caliman: "Só estava me divertindo um pouco...", falou com a boca mole.
       Rodrigo ajudou Guilherme a carregar Caliman até o banheiro, depois saiu e foi encontrar Lucas na sala, que o olhava com desconfiança. 
Lucas: "Eu vou querer saber o que foi isso?"
Rodrigo: "Não vai não.", respirou fundo e continuou: "Mas e você? O que está fazendo aqui ainda?"
       Lucas explicou que Guilherme não tomou o remédio e que não tinha mais em casa, tentaram falar com o médico mas sem sucesso. Por isso, decidiu ficar, não queria deixá-lo sozinho passando mal.
      Rodrigo soltou um suspiro, sentou no sofá e passou as duas mãos no rosto.
Rodrigo: "Estamos ferrados... Eu e você."
      Lucas balançou a cabeça, concordando com o amigo.
Guilherme: "O que deu em você?', disse, enquanto tentava dar um banho frio em Caliman. 
Caliman: "Ele nunca vai largar aqueles dois idiotas... tóxicos... babacas...", gritava.
Guilherme: "Xiiiiuuu! Fala baixo, cara! Eles vão te ouvir!"
Caliman: "Eu não ligo!", começou a chorar, "Eu ia me declarar... achei que a gente ia ser feliz... Mas ele não... não me quer."
       Com dificuldade, Guilherme terminou de dar banho no amigo, o ajudou a se secar e o abraçou, tentando consolá-lo.
Guilherme: "Não fica assim, vai dormir que amanhã você vai estar melhor."
        Guilherme colocou um roupão no amigo e saíram do banheiro. O rosto e os olhos de Caliman estavam muito vermelhos, evidenciando que ele havia chorado, Lucas e Rodrigo perceberam imediatamente. 
Rodrigo: "Você está bem?", disse, indo ao encontro dele.
       Caliman acenou com a cabeça, dizendo que não, isso destruiu Rodrigo. "Ver o ex marido mexeu tanto com ele assim?", pensou. Mal sabia Rodrigo que toda a dor que Caliman sentia era por causa dele e não pelo ex. 
Guilherme: "Mas ele vai ficar bem sim. Nada melhor que uma boa noite de sono, não é?", voltou-se para Rodrigo e continuou: "Obrigado por trazer ele."
Rodrigo: "Gui, não sei se ele te disse, mas o ex dele foi lá na editora. Por isso que ele ficou assim.", disse um tanto triste. 
Caliman: "Acha que eu tô assim por causa daquele idiota?!", disse, indo em direção a Rodrigo.
Guilherme: "O quê? O Andrey está na cidade?"
      Caliman ignorou a pergunta do amigo, só tinha olhos para a expressão assustada no rosto de Rodrigo, só tinha ouvidos para as palavras que sairiam da boca dele. 
Rodrigo: "Você ficou mexido sim! Ficou abalado! Não tenta dizer que não!", falou, bem irritado. 
     Lucas e Guilherme se entreolharam, perceberam que estavam sobrando ali. Guilherme fez sinal com a cabeça, indicando para irem até a sacada e deixar Rodrigo e Caliman à sós, Lucas o seguiu.
Lucas: "É o que eu estou pensando?", perguntou, ao chegarem na sacada.
       Guilherme confirmou que sim, com um aceno de cabeça. Sentou numa das cadeiras, passou as duas mãos nas têmporas. 
Guilherme: "Eles queriam ajudar a gente, olha só no que deu.", disse pesaroso.
       Lucas não respondeu, apenas olhou para as estrelas e respirou fundo. Resolveu que não iria embora e deixar aquele caos ali, não só por Guilherme, mas agora por causa de Rodrigo também. A noite seria longa e estava apenas começando.
Caliman: "É sério mesmo? Você só pode estar me zoando!"
Rodrigo: "Não quero brigar com você, Caio. Você tá bêbado, tá alterado..."
     Os efeitos do álcool já tinham passado um pouco devido ao banho frio, mas Caliman ainda estava um tanto alterado. Ao mesmo tempo que estava irritado com tudo, com ter sido rejeitado por Rodrigo, com seu ex ter aparecido sem mais nem menos, ele tinha uma vontade avassaladora, quase incontrolável de tomar Rodrigo em seus braços e beijá-lo até que não pudessem mais respirar!
Caliman: "Eu estou alterado mesmo!", disse se aproximando de Rodrigo, olhando fundo nos olhos do outro.
      O olhar penetrante de Caliman deixou Rodrigo paralisado, hipnotizado. Um poder que ninguém mais tinha, só Caliman conseguia deixar Rodrigo desse jeito. Quanto mais o outro se aproximava, mais acelerado batia o coração de Rodrigo, seus cinco sentidos estavam totalmente domados. Caliman segurou Rodrigo pela cintura e o puxou com força para si, ficaram com os corpos completamente colados, Rodrigo soltou um gemido baixo.
Caliman: "O que me deixa alterado é ver você tentando fugir disso...", falava bem próximo da boca de Rodrigo, ainda o segurando pela cintura. "Eu ainda vou te beijar, te acariciar, explorar seu corpo com minhas mãos, minha língua... Então vamos transar, suar, nos beijar, vou admirar seu corpo nu... Ah como eu quero isso... E eu sei que você também quer, porque sua ereção contra a minha, nesse exato momento, prova isso. Eu não sei quando, nem como, mas você ainda vai ser meu!"

Intensidade [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora