Capítulo 77 "Você está bem?"

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Guilherme franziu a testa, torceu os lábios e se afastou um pouco, era como se tivesse levado um soco no estômago! Lucas não podia amá-lo, não devia! 
Guilherme: "Não diz isso, por favor!"
     Lucas levantou o queixo de Guilherme com os dedos, para que o outro pudesse olhar em seus olhos.
Lucas: "Eu te amo!", disse mais alto.
      Guilherme o encarou por alguns segundos, Lucas parecia decidido, não gaguejou, não hesitou, não recuou. Não sabia o que fazer, se dissesse que também o amava com toda sua alma, Lucas jamais se afastaria. Se dissesse que não sentia o mesmo, magoaria Lucas ainda mais e não podia suportar vê-lo sofrer mais uma vez por sua causa.
        Caliman andava de um lado para outro, próximo à pia da cozinha esperando a resposta de Rodrigo. 
Rodrigo: "Não é nada disso!", disse, aflito e continuou: "Eu me meti no meio do Chris e do Miguel e olha o que aconteceu! Não quero fazer isso com você também! Ainda mais agora que seu marido apareceu...", disse essa última parte com desgosto. 
Caliman: "É ex marido, você sabe!"
Rodrigo: "Na verdade, eu não sei. Não sei nada sobre você.", disse com firmeza.
Caliman: "O quê? Como assim? É só me perguntar. Conto o que você quiser saber!"
      Rodrigo respirou fundo, estava exausto, o dia tinha sido longo, cansativo e triste. Passou as mãos no rosto, depois cruzou os braços, apoiado na bancada da cozinha.
Rodrigo: "Você sabe tudo sobre mim, coisas que não contei nem pro Lu, que é meu melhor amigo. Mas você nunca me contou nada da sua vida."
        Lucas podia ver como Guilherme hesitava em tudo, até em olhá-lo nos olhos, percebia que o outro estava travando uma luta entre sua vontade e o que julgava ser certo.
Lucas: "Como posso amar se tenho tanto medo?", a voz de Lucas embargava, "Mas quando eu olho pra você, todas as minhas dúvidas vão embora..."
       Uma lágrima escorreu pelo rosto de Lucas, até parar em seu lábio superior. Guilherme, gentilmente, colheu essa lágrima com um beijo doce. 
Guilherme: "Eu também te amo."
          Lucas sorriu, parecia que finalmente podia respirar, se lançou nos braços de Guilherme, o abraçou, entrelaçando seus braços no pescoço do outro. Guilherme afundou seu rosto no ombro de Lucas, sentindo mais uma vez aquele cheiro familiar, que ele tanto sentia falta. Ficaram assim por alguns segundos, o mundo parecia estar funcionando em câmera lenta. 
Guilherme: "Você não faz ideia... de como é difícil me controlar!, respirou fundo, "Mas não posso fazer isso, me perdoa.", disse, soltando os braços de Lucas de si.
       Lucas levou um susto! Depois de receber o "eu te amo" de volta, achou que finalmente tudo estaria bem. Olhava, incrédulo, para Guilherme, que continuava irredutível.
Lucas: "Quê...?", não conseguia encontrar palavras.
       Realmente Caliman não tinha contado sobre sua vida à Rodrigo, falar sobre certas coisas era difícil.
Caliman: "Tudo bem, você quer saber sobre o Andrey? Certo, eu... e ele... nós ficamos juntos muito tempo...", não conseguia encontrar as palavras certas, estava inquieto.
Rodrigo: "'Xi... Xi... Tá tudo bem. Não precisa falar se não se sentir confortável."
Caliman: "Não é isso... É que..."
Rodrigo: "É difícil falar disso, não é?", interrompeu. 
       Guilherme segurou nas mãos de Lucas e o olhou nos olhos.
Guilherme: "Você mudou a minha vida, precisa saber disso. Eu não sabia o que era amor...", as lágrimas queriam cair, mas Guilherme não permitiu. Engoliu em seco e continuou: "Mas não podemos fazer isso, por favor, me entende!"
       Lucas estava atordoado com tudo que acabara de ouvir, nunca tinha visto Guilherme tão vulnerável daquele jeito, mas não tinha sentido continuar argumentando. 
Guilherme: "Fica aqui hoje, está tarde pra você ir, vou ficar preocupado."
         Lucas balançou a cabeça concordando, ainda em choque, enxugou seu rosto e caminhou para deixar a sacada, Guilherme o seguiu. 
       Caliman ia responder, quando viu Lucas e Guilherme se aproximando. 
Guilherme: "Está tarde, se quiser, pode passar a noite.", disse, olhando para Rodrigo. 
Rodrigo: "Obrigado, mas não sei se...", disse olhando para Lucas. 
       Lucas sabia que se fosse embora, Rodrigo não ficaria lá. Estava tarde, e era visível que o mais novo não queria ir para a casa de Christian. Decidiu ficar, se Rodrigo quisesse.
Guilherme: "O Caliman pode dormir comigo e vocês ficam no quarto dele..."
Lucas: "Ficamos no sofá mesmo.", interrompeu e olhou para Rodrigo que concordou acenando com a cabeça. 
      Guilherme deu um suspiro discreto, que bom que Lucas iria ficar.
Guilherme: "Querem tomar banho? Tem toalha no banheiro."
Lucas: "Não, estou bem, obrigado."
Rodrigo: "Se não se importar, eu quero sim, estou sujo de café... Aliás, essa camisa é sua.", disse sem jeito. 
      Guilherme emprestou uma bermuda para Rodrigo, pegou dois travesseiros e duas cobertas. Deu algumas instruções, disse para ficarem à vontade, que se sentissem em casa. Ele e Caliman deram boa noite e foram para seus quartos.
       Eram quase 2h da manhã, Rodrigo tomou um banho rápido, vestiu a bermuda de Guilherme e foi encontrar Lucas na sala. O mais velho tinha tirado a camisa para ficar mais confortável, e já estava deitado de lado, sem os óculos, com os olhos fechados. Rodrigo não fez barulho, pensando que o outro já estivesse dormindo. Se ajeitou no outro sofá, deitado de barriga para cima.
Lucas: "Você está bem?", disse ainda com os olhos fechados.
Rodrigo: "Não sei o que é 'estar bem' há muito tempo...", disse, virando o rosto para fitar o outro.
Lucas: "O que foi isso no seu braço?", agora já estava com os olhos abertos. 
     Rodrigo colocou a mão em cima da marca em seu braço, tinha esquecido completamente dela. A manga da camisa ajudava a disfarçar, mas sem ela, era impossível. A marca não estava mais apenas vermelha, agora tinha um leve tom de roxo.
Rodrigo: "Ah... não foi nada...", disse sem jeito. 
      Lucas levantou e foi sentar perto do amigo.
Lucas: "Digo, é sério! Quem fez isso?", disse, analisando a marca no braço do outro.
     Rodrigo balbuciava mas não conseguia formar as palavras, tinha medo do que poderia acontecer se todos soubessem o que Christian fez.
Lucas: "Fala, Digo!!"
Rodrigo: "Foi o Chris!", disse de uma vez.
       Lucas ficou horrorizado! Como Christian poderia fazer uma violência dessas?
Lucas: "Vamos à polícia amanhã de manhã!"
Rodrigo: "Não!!!", gritou, mas logo se lembrou que era madrugada, não queria acordar os outros. "Não é o que você está pensando!", dessa vez, sussurrou.
Lucas: "Se você defender ele ou disser que a culpa foi sua, eu nem sei o que faço com você, Digo!", disse irritado. 
Rodrigo: "Lu, por favor, confia em mim! Não foi nada, estou te dizendo! Ninguém sabe disso, não quero que saibam! Por favor!", suplicou. 
     Lucas se lembrou da conversa que teve com Rodrigo alguns dias atrás, quando Rodrigo viu as marcas em seu corpo e não julgou. Ele merecia receber a mesma consideração agora, ou pelo menos, o benefício da dúvida. 
Lucas: "Tá, tá! Mas você tem que acabar com isso!"
Rodrigo: "Eu sei, eu sei...", disse, cabisbaixo. 
       Lucas estava com ódio de Christian. Mesmo sem saber toda a história, podia ver que o relacionamento dos três já não estava fazendo bem a Rodrigo. 
Lucas: "E ainda tem o Caliman, não é?"
     Rodrigo encostou no sofá com as mãos no rosto, soltou um suspiro.
Rodrigo: "É... Tem ele também."
       Lucas percebeu que Rodrigo estava fechado, não queria falar sobre nada, muito menos sobre seus sentimentos. Não iria ficar insistindo com o amigo, achou melhor dar um tempo, um espaço pro outro.
Rodrigo: "Mas e você? Como se sente voltando aqui depois... daquele dia?"
Lucas: "Essa não é a primeira vez que venho aqui depois daquele dia.", disse, olhando para as mãos, tentando disfarçar. 
Rodrigo: "Não me diga que vocês..." 
Lucas: "Não! Claro que não! Vim aqui no dia que você sumiu, o Gui montou uma força tarefa pra te encontrar.", sorriu nessa última parte.
       Rodrigo não sabia que Guilherme tinha feito isso por ele, precisava agradecê-lo depois. 
Lucas: "Estou cansado, vou dormir. Boa noite, Digo."

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