Capítulo 33 "Conseqüências"

768 77 7
                                    

Guilherme chegou cedo à Editora. Foi chamado por Pedro para resolver a situação daquele dia fatídico. Bateu na porta da sala de Pedro e foi convidado a entrar. Lá dentro estava não só Pedro, mas também três advogados do corpo jurídico da empresa. Informaram a Guilherme que, além de arcar com os custos do equipamento que foi destruído, ele teria que fazer um acordo com a empresa ou seria intimado por destruição de patrimônio.
Logicamente, Guilherme preferiu fazer o acordo, mesmo sem antes saber do que se tratava. Pedro o informou, que ele teria que fazer 9 semanas de tratamento psicológico diário, com um terapeuta indicado pela empresa. E se após esse período o terapeuta achasse que Guilherme estava melhor, aí sim estaria com sua dívida quitada perante a empresa.
Na verdade, por mais que Pedro sempre dissesse que não se importava, ele se preocupava com Guilherme. Por um lado, por causa de sua mãe que foi amiga de infância da mãe de Guilherme e por outro, porque ficou penalizado com a situação de Guilherme, sem ninguém para apoiá-lo.
         Surpreendentemente, Guilherme aceitou as condições da empresa, sem questionar. Iria começar a terapia já no dia seguinte.
Sobre Lucas, Guilherme sentia muita falta do outro. Mas não tinha coragem de tocar no assunto sobre sua mãe, não queria que Lucas soubesse de tudo. Com certeza, Lucas iria odiá-lo ainda mais. Achou melhor guardar os poucos momentos lindos que viveram, em seu coração e seguir com sua vida. 
Christian, Miguel e Lucas chegaram praticamente juntos à empresa naquela tarde. Pedro havia chamado Guilherme pela manhã e os rapazes a tarde. Não queria que se encontrassem. Chegando a sala de Pedro, todos se sentaram para ouvir o que ele tinha a dizer.
Pedro começou contando sobre o acordo que a empresa fez com Guilherme e sobre como ele aceitou tudo sem reclamar. Christian, Miguel e Lucas apoiaram a decisão de Pedro e da empresa sobre isso. Realmente Guilherme precisava de ajuda. Falaram também sobre o futuro de Rodrigo. Pedro disse que a empresa continuaria a pagar o salário do rapaz, desde que ele trabalhasse em casa e cumprisse as metas. 
Christian não estava muito de acordo com Rodrigo trabalhar enquanto ainda não havia se recuperado completamente, achava que o mais novo precisava de mais descanso, mas Rodrigo era quem iria decidir isso. Antes de encerrar a reunião, Pedro precisava falar com os rapazes sobre mais uma coisa. 
Pedro: “Pra finalizar a reunião, só pra deixar tudo bem esclarecido, ainda tem mais uma coisa que quero falar com vocês sobre o Guilherme.”   
Miguel revirou os olhos, não queria mais nem ouvir o nome de Guilherme. Lucas, calado, permanecia atento. Ele não queria admitir, mas tudo relacionado a Guilherme, o interessava. 
Pedro contou sobre como a mãe de Guilherme morreu e como o pai do rapaz sempre o culpou por isso. Disse, que quando Guilherme se assumiu homossexual, aos 14 anos, a mãe logo adoeceu e em seguida se suicidou. Contou também sobre a péssima relação que ele sempre teve com o pai, que piorou quando Guilherme herdou uma grande quantidade de dinheiro deixada por sua mãe. Pedro disse ainda que Guilherme, nunca superou a morte da mãe e que inclusive, se achava responsável. 
Lucas ouvia tudo, atônito. “Meu Deus, como fui injusto com ele!” pensava, tomado pelo remorso. Sentiu um nó na garganta, ao imaginar Guilherme chorando sozinho durante anos, se culpando pela morte da mãe. “Como pude deixar ele sozinho? Como pude falar aquelas coisas?” pensava, enquanto Pedro continuava a contar a história. Sua vontade era correr até Guilherme e se desculpar. Mas como? Será que Guilherme sequer abriria a porta pra ele?
Miguel ficou penalizado com tudo que ouviu. “Mesmo assim, não justifica, mas começo a entender…” pensou. A raiva que estava sentindo por Guilherme, começou a amenizar após ouvir os relatos de Pedro. 
Christian sabia bem o que era se sentir culpado. Não havia passado por nada tão horrível como Guilherme, mas conhecia a sensação. Era o que ele sentia por ter se deixado envolver com Miguel e Rodrigo. Se sentia mal, por ser mais velho e mesmo assim, se deixar levar pelos sentimentos como um adolescente. 
Quando terminou a história, Pedro pediu para que os rapazes não comentassem com os funcionários sobre nada que havia sido dito na reunião. Eles, obviamente concordaram.
Ao sair da sala de Pedro, Christian vai falar com Lucas. 
Christian: “Você tem falado com Guilherme?”
Lucas: “Faz dias que não vejo ele.” disse com o semblante triste. 
Christian: “Você sabia que ele estava no hospital, do lado de fora do quarto do Rodrigo e ouviu toda a discussão aquele dia com a dona Marisa?”
        Lucas ficou pasmo. Saiu tão apressado e com tanto ódio aquele dia, que não reparou em nada a sua volta. 
Lucas: “Sério?!”
Christian: “Ele disse que foi pedir perdão ao Rodrigo, mas não deixei ele entrar. Não era uma boa hora.”
Lucas: “Você fez bem…”
Miguel: “O que foi, Lucas? Está pálido! Tudo bem?”
Eram muitas revelações no mesmo dia. Lucas se sentia péssimo. Queria correr até Guilherme, gritar que estava apaixonado por ele, mas faltava  coragem.
Lucas: “Estou bem… Só um choque de realidade, é muita coisa pra digerir.”
Guilherme tinha acabado de sair da primeira seção com a psicóloga. Surpreendentemente, foi melhor do que ele esperava, na verdade. Mas seu bem estar logo passou, quando ele viu quem o esperava na porta do prédio. 
Guilherme: “O que você quer?”
Roberto: “Você sabe muito bem o que eu quero. Não se faça de bobo!”
Guilherme: “Já disse que não  vou te dar nada! Pode sair daqui!”
Roberto: “E se eu começar a gritar aqui, a contar uma coisa ou outra…”
Guilherme que ainda nem havia descido da moto, saiu rápido e pegou Roberto pelo colarinho. 
Guilherme: “Eu já perdi meu emprego e o homem que eu amo! As duas únicas coisas que me importavam nessa vida! Não tenho mais nada a perder! Pode gritar o quanto quiser, eu não ligo!” disse, entrando no prédio. 
Roberto: “Sobre perder seu emprego, é mérito seu, sempre foi um péssimo funcionário. Agora sobre essa outra coisa que você disse, tenho que te dizer, o mérito é todo meu!” disse, soltando uma gargalhada. 
Guilherme não podia acreditar no que acabara de ouvir! Olhou pra trás e encarou Roberto. 
Guilherme: “O que foi que você disse?!”
Roberto: “Eu falei que nunca iria te deixar em paz, enquanto você não me desse o que é meu!”
Guilherme: “Como você pôde fazer isso? Você contou pra ele?!”
Roberto: “Ah sim! E você tinha que ver a expressão de decepção estampada no rosto dele!” disse com sarcasmo. 
Guilherme começou a se sentir mal, percebeu que estava prestes a ter outro ataque de pânico. Sua visita começou a escurecer, seu coração acelerado, parecia que ia explodir! O ar começou a faltar. Se apoiou no portão e logo sentou no chão. Roberto vendo que ele estava passando mal, se abaixou e falou no ouvido de Guilherme: “Você nunca vai ser feliz, eu vou garantir isso.”, disse e foi embora. 
O porteiro veio ajudar Guilherme, o levou até seu apartamento. Já dentro, Guilherme começou a praticar uns exercícios que havia visto na internet para tentar se acalmar. Começou a fazer efeito, Guilherme foi se acalmando, não chegou a ter de fato o ataque de pânico. Ficou alegre por conseguir se controlar, mas sua cabeça doía muito. Tomou um remédio e foi se deitar. Tentaria dormir um pouco. 
Já na cama, ficou remoendo em sua mente, a discussão que teve com Lucas. Agora entendia porque o outro estava tão bravo. “Ele tem razão… Não posso arrastar ele pra esse meu mundo louco. Foi melhor acabar com tudo entre nós mesmo.” pensou. Com muita dificuldade, acabou pegando no sono logo em seguida.

Intensidade [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora