Capítulo 31 - Águas do Passado

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Os 40 anos é uma idade terrível. É a idade que nos tornamos aquilo que somos

-Charles Péguy

-Charles Péguy

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Thiago

Meu coração esmoreceu ao ver o rosto de Antônio. Por qual maldito motivo ele estava aqui? Por que agora? O entardecer deixava a escuridão crescente cobrir cada detalhe de seu rosto. Como ele é bonito, continuou o mesmo de 20 anos atrás, e eu gostava de cada detalhe dele. Os olhos escuros, as sobrancelhas marcadas, até mesmo a pequena pinta abaixo da mandíbula. Eu não estava pronto para vê-lo, não agora:

— E então Antônio, já descobriu onde os bruxos guardam suas bolas de cristal? — Eu não sei ao certo o porque perguntei isso, apenas senti a mais profunda dor crescer dentro do meu peito. Vendo o homem que eu amei me jogar as traças como se fosse um lixo. E eu me sentia péssimo por ainda estar tão apegado a ele, aos anos que vivemos juntos, mas o peso de cada segundo que passamos longe um do outro parecia crescer mais e mais. Minha desesperança em relação a ele aumentou significativamente quando ele falou do meu nariz. Era sério isso?

Rapidamente desviei minha atenção para o garoto ruivo que corria desesperadamente atrás dos outros meninos. Eles podiam ser um tanto estranhos, agressivos e peculiares, mas definitivamente se importam uns com os outros mais do que tudo no mundo. E isso, com certeza, é o que os faria vencer qualquer coisa.

Quando chegamos ao laboratório tudo aconteceu tão rápido que nem ao menos tive tempo de assimilar quando Antônio saiu em disparada para socorrer a menina loira que estava embaixo dos escombros, obviamente recebendo um grito arisco e mal humorado da garota ruiva. Se elas foram criadas por ele, tenho certeza que passaram por poucas e boas para deter domínio completo de suas habilidades, da maneira mais esmagadora possível. Ele fez o mesmo comigo, tenho certeza que seus métodos continuam os mesmos.

De supetão vejo Miguel saindo depressa, ignorando tudo à sua volta com uma mancha vermelha sobre a bochecha, sendo seguido por Max e Victor, que pareciam realmente atordoados. O que havia acontecido? Poucos segundos depois sinto o cheiro de perfume caro e clichê de Antônio, ele continua usando essa mesma marca? Seus olhos transmitiam dureza e frustração, e com a voz embargada ele solta:

— Elas não querem nem minha ajuda... Eu... Como isso foi acontecer Thiago? — Aconteceu por você ser um metido arrogante. Porém, não tive a mínima coragem de olhá-lo nos olhos e dizer tais palavras. Quando foi o momento que me tornei um covarde? Eu simplesmente não resisto ao seu olhar de pesar, então seguro sua mão iniciando uma corrida sobre a grama alta, para longe das correntes de metal e das paredes de pedra.

Nem ao menos acredito no que estou fazendo, um homem já na casa dos 40 anos correndo tal como uma criança pela grama iluminada por holofotes gigantes, e o fato de estar segurando a mão do meu ex-marido tornava toda a situação um tanto quanto embaraçosa. Porém, eu estava feliz naquele instante, talvez pudesse esquecer somente por alguns minutos os momentos de sofrimento que passei. Queria apenas sentir a mão quente de Antônio colada na minha enquanto o vento soprava meu rosto, e deixava meu nariz quebrado com um leve formigamento.

Garotos Infames - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora