Capítulo 2 - Um Sentimento Corrompido

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Afinal, sem a Dor não reconheceríamos o Prazer!

-John Green


Victor

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Victor

Sinto uma mão insistente bater na minha perna. Mas que droga! Será que eu não tenho um minuto de paz? Abro os olhos ainda entorpecido pelo e vejo Miguel dando tapas com suas mãozinhas delicadas.

— Victor! Acorda seu idiota!

Ele segura a toalha na cintura com a outra mão, enquanto fios de cabelo molhados batem de vez em quando em sua testa. Que droga! Ele estava lindo e eu não queria ter que ver isso logo de manhã. Me ajeito na cadeira que estava. Que ideia de idiota foi essa de dormir em uma cadeira? Agora minhas costas estão um desastre:

— Cala a boca Miguel! Está cedo ainda! Me deixa! — Miguel bufa impacientemente, adorava vê-lo perder a paciência comigo. Sem dúvidas deixa-lo irritado era incrivelmente divertido:

— Cedo minha bunda! Já é meio-dia. Deixa de corpo mole e vamos almoçar

— Eu não estou fazendo corpo mole... — Murmuro enquanto arrumo o cabelo de qualquer jeito, faço uma nota mental que dormir de gel é sempre uma péssima ideia.

Me espreguiço relutantemente, meus braços estão doendo, minha cabeça está pulsando, e dispenso comentários sobre as minhas costas. Eu não entendi ao certo o que aconteceu ontem à noite, mas acho que meu cérebro vai pifar se eu pensar sobre isso. Vou pegar algum papel para desenhar alguma coisa ou sair para brigar com alguém, eu preciso me distrair. A escolha seria brigar com algum Nerd no corredor. Isso sim parecia uma ótima ideia.

Olho de soslaio para Max, me perguntando se ele lembra da noite passada? Saímos da fraternidade para tomarmos um ar e acabamos indo para um Lago Superior. Estava de noite, nós dois estávamos no pior estado que se pode imaginar, com certeza foi no calor do momento. Mas que momento. Ele não demonstra nada, nenhum olhar. Nada. Admito para mim mesmo que ele se esqueceu e irei fazer o mesmo. Não quero que ele ache que eu gosto dele nem nada do tipo. Bom, eu gosto. Mas ele não precisa saber disso.

Passo a mão pelo rosto ainda sentindo o cheiro degradante de bebidas e drogas pelo quarto. Acho que a maior parte do cheiro vinha de mim, mas eu não ligava. Estou com fome demais para pensar sobre isso. Com isso todos saímos do quarto em direção ao refeitório. Parece que temos uma formação pronta para todos os momentos. O baixinho no meio, Max à direita e eu marchando à esquerda. Andamos em silêncio pelo corredor, é familiar estar na presença dos dois, nos conhecemos desde a primeira série e nunca mais nos separamos e agora aos 18 anos estamos na mesma classe do Internato Dom Quixote para alunos "especiais". Que é uma forma gentil de dizer "problemáticos".

Divago em meus pensamentos, me sentindo confuso e irritado comigo mesmo. Queria ser o senhor perfeitinho, assim como Miguel, ou interessante como Max, mas acho que estou mais para a porcaria de uma decepção que nenhuma família daria conta de lidar. Notas baixas, sempre em observação por ser "explosivo demais", me metia em brigas por qualquer coisa. Não sei o que estava acontecendo comigo, só sentia que deveria jogar essa frustração em algum lugar. E os punhos pareciam uma ótima forma de aliviar isso.

Chegamos ao refeitório, ele estava vazio como esperado do dia de domingo. Todos já tinham vazado há muito tempo. Menos nós, é claro. Eu sou um órfão que não tem onde cair duro e os outros dois têm suas mães que são muito amigas, mas trabalham no exterior. Zero notícias de nossos pais. Ficamos juntos como uma família. Eles são meus únicos amigos e embora eu prefira morrer a dizer isso em voz alta, são as únicas pessoas que eu tenho na vida.

...

Estávamos comendo purê com frango e algo que em algum momento poderia ter sido arroz, mas não estou certo disso. Miguel não largava aquele vídeo game portátil que fazia um barulho irritante:

— Miguel! Para de jogar esse troço e come mano! — Não bastou nem mesmo um segundo Max me olhar com a cara feia:

— Fala assim com ele não! — Por que ele está defendendo o Miguel? Não sei o que estou sentindo no momento, mas não gostei nada daquilo:

— Vai defender é? Estão namorando por acaso? — Agora era Miguel que levantava seu rosto. Como não se apaixonar com aqueles olhos? Que inferno, eu tenho que me controlar:

— Me deixe, Victor. Velho, você tem que ver esse jogo novo! O gráfico está incrível. Por que ao invés de encher o saco você não tenta imitá-lo? — Ele arqueia a sobrancelha, me fazendo ceder quase que imediatamente. Um dos malefícios de conviver com alguém muito tempo é que a pessoa sabe todos seus pontos fracos. Inclusive Miguel tinha completa ciência que uma das minhas distrações favoritas era desenhar aleatoriedades:

— Está bem, me mostra o jogo. Se eu vou copiar ou não são outros quinhentos — Ele agora sorri animado, as sardas em seu rosto se tornam mais visíveis. Eu gosto de Miguel. Me lembro de quando nos encontramos pela primeira vez. Ele estava chorando todo sujo com um brinquedo em mãos. Eu não sei bem o motivo, mas ali eu sabia que o queria perto de mim. No mesmo dia eu conheci Max. Foi naquele dia que tudo mudou. Volto a mim quando escuto a voz de Miguel:

— E então o que achou? — Tenho que admitir, o garoto era um Nerd mas tinha um excelente gosto artístico:

— Gostei. Você sabe do que eu gosto — Depois de falar isso percebi o quanto que podia soar mal. Agora o rosto de Max estava marcado pela mais completa ira, no tempo que Miguel sorriu timidamente:

— Sim, eu sei.... Que tipo de amigo eu seria se não soubesse disso? — Abro um meio sorriso sem graça, nem brigo quando ele abocanha um grande pedaço do meu frango. O que me preocupa é o olhar mortal que Max lançava, ele está se mordendo de ciúmes. O conhecia bem demais para não notar algo desse tipo, mas agora não sei se é por minha causa ou por conta de Miguel. E ambos fariam sentido.

Max

O que exatamente era aquilo que eu estava vendo? Miguel está se jogando para cima de Victor? E o bobão ainda tem a coragem de soltar frases de duplo sentido? Ele esqueceu do que aconteceu ontem à noite? Esse idiota ainda me paga! Meu rosto com certeza revelava que eu estava muito irritado, já que Miguel me olha preocupado:

— Max, você está com dor de barriga? — Olho para ele com ironia:

— Você não está vendo minha diarreia explosiva? Realmente a escondi maravilhosamente bem — Ele esmorece depois daquela resposta, me sinto um pouco culpado, ele só está preocupado, talvez mais com meu intestino do que comigo, mas tudo bem:

— Desculpe Miguel, eu estou com raiva — Ele levanta o olhar curioso e com mais um daqueles sorrisos diabólicos ele questiona:

— O que está te deixando assim? — Eu não resisti, olhei com toda fúria que conseguia diretamente para Victor:

— Melhor deixar quieto — Deixo essa solta no ar, Victor me pergunta silenciosamente o que era aquilo. Consigo ler em seus lábios, mas mesmo sem vê-los sua cara dizia tudo. O loirinho agora estava completamente compenetrado no jogo enquanto eu fuzilava o brutamonte a minha frente. Sinto o clima de competição crescer cada vez mais, o problema é que eu ainda não tinha decidido por quem estou sentindo ciúmes.

Victor ou Miguel.


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