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Acabei me revirando na cama a noite inteira. Corrompida por sensações ruins:
A angustia e a tristeza, assolando meu peito, como um corvo em uma plantação.
Felizmente não tive pesadelos, contudo, insônia é algo comparavel.

Ao despertar, estou enlaçada entre os lençóis. Meu cabelo caótico, como um ninho.

Me espreguiço ainda deitada na cama.
Minha sonolência acaba quando ouço algo, então percebo que não acordei por total conveniência do meu cerebro.

Meu celular emite varias vibrações de cima do meu criado-mudo. Rolei na cama até perto do móvel e pego o aparelho.
Depois de desbloqueia-lo, me encostei na cabeceira da cama abrindo o aplicativo de mensagens.

Fico boquiaberta sentindo uma pontada
no peito, como se meu coração tivesse tentado pular para fora da minha garganta.

Era Adam novamente. As duas primeiras mensagens fazem eu sentir como se minhas estranhas estivessem se enlaçando, isso doí.
Meus olhos começam a percorrer cada palavra:

"Me desculpe. Eu não acredito que discuti daquele jeito com você e apontei toda aquela merda. Eu sou uma pessoa horrível... me desculpe por desconfiar de você. Eu te amo! Desculpe por esquecer o quanto devemos ficar juntos e aguentarmos um ao outro kkk. Somos assim desde o fundamentel, como unha e carne e ao mesmo tempo, água e óleo. Os excluídos da turma, mesmo que não diretamente, porém os populares."

Acabo sufocando uma risada graças as ultimas duas frases.

"Esqueça as ultimas coisas que eu disse. O que eu quero dizer é... Quero que você vá nessa viagem, apenas não me deixe, precisamos um do outro."

Esse foi o final da texto. Em seguida há uma foto nossa no primeiro ano. Sentados em um banco de madeira no pátio, usando os malditos uniformes.

Adam era um magrelo nesse tempo, como eu. A diferença é que eu tinha o cabelo loiro, tingido de ruivo meses antes de eu entrar na faculdade.

Sequer lembrava mais dessa fotógrafia.

A foto me dá uma sensação de conforto com as lembranças. Como entrar em um ponto parado, de que nada vai mudar.
Nunca ficaremos sozinhos se estivermos juntos.

Suspiro, aliviada. A magoa de ontem a noite desapareceu, e é como se tudo tivesse sido apagado. Não devia ser assim, mas não tenho vontade de continuar pensando no negativo e sim no positivo.
É como meu irmão disse: "Voltariamos uma hora ou outra."

Começo a digitar uma mensagem e envio:

"Quer fazer chamada?"

Um segundo após ele visualizar minha mensagem, meu celular começa a tocar.

Conversamos sobre muito, retornamos ao passado, falando sobre travessuras e coisas fizemos as escondidas. Era tudo realmente divertido. Me fazendo esquecer tudo, mais uma vez...

A conversa durou até que minha barriga roncasse e no final, reatamos.

*

Os últimos dias do mês se escaparam rápidos, como se eu tivesse pego um punhado de areia da praia.

E hoje é o dia da viagem.

Bradley e eu tivemos muito trabalho juntos nos últimos dias. É um parceiro e tanto para correria da arrumação da festa. Otimo para me deixar de bom humor. Quando
verificamos a cobertura, nós dois concordamos que era o lugar perfeito.

Adam e eu nos entedemos. Não falamos da nossa briga, foi como se nunca tivesse acontecido. Não sei se isso é algo bom. Contudo, ele aprovou a viagem.
Eu decidi que não contaria ao meu pai, ou teria que dizer o propósito da viagem. E se eu falhar, não gostaria de voltar com as más noticias para ele. Consequentemente, menti que iría passar o final de semana com alguns conhecidos.

Minha mãe sabe a verdade, mas não comentou nada.

- Me dê sua mala. - Bradley pediu parado de frente ao porta-malas.

Agarro a alça da minha mala preta, mas está tão pesada que tenho que fazer força. Não devia ter colocado tanta coisas. Quando consigo levanta-la alguns centímetros do chão, Bradley passa suas mãos por cima das minhas, envolvendo a alça.

- Deixa comigo. - Falou com um sorriso exibido.

Soltei a mala e imediatamente seus ombros deram um solavanco para baixo me fazendo cair na gargalhada, o contrario dele que fez uma careta.

- Mas que merda tem aqui, chumbo? - Questinou. Sua voz saiu falhada graças ao esforço.

Gargalho o observando jogar minha mala no porta-malas junto com as dele.

- A culpa não é minha. A mala é de rodinhas, não foi feita para levantar. - Cruzo os braços, tentando me aquecer esfregando dos meus ombros até meus cotovelos.

Hoje não era dos dias mais bonitos em Miami. Uma ventânia mais que forte, rodando toda as ruas, acompanhada de um céu cheio de nuvens escurecidas.

Talvez seja um sinal para que eu não faça essa viagem? Que nada. Tenho que parar com esses pensamentos negativos, porém sinto minha boca secar apenas de pensar em convencer o casal.

Bradley move sua cabeça em descrença, fechando o porta-malas do carro.

- Então.... Vamos. - Disse sacudindo o moinho de chaves barulhento em suas mãos. Aceno rápida mente.

Em seguida, ele ando de lado oposto ao meu e acena para os dois atrás de mim.
Viro de costas. George está com o braço ao redor dos ombros Clare, que treme de frio graças ao vento, que chacoalha varias mechas do seu cabelo loiro quase platinado.

Encaro o rosto de cada um, então ergo a mão sorrindo, acenando sem descruzar meus braços. Os dois acenam de volta; Clare de um jeito encolhido pelo frio e meu irmão calmamente.

Já nos despedimos de verdade, com abraços e beijos. Não que seja uma viajem que dure muito tempo, mas é porquê somos assim.

Abro a porta do carro e entro.
No interior, agradeço pelo aquecedor.

Em silêncio, Bradley ligou o carro e o dirigiu até o aeroporto. Nosso vôo saia em exatos quinze minutos quando chegamos, tivemos que correr.

Sentamos em poltronas lado á lado. Compartilhariamos duas horas de vôo com a companhia um do outro.

- Como se sente? - Bradley perguntou folheando uma das revistas besteirois do avião.

Essa era sobre o que? Culinaria?

- Ansiosa. - Respondo sinceramente, desconfortavel, tento me acomodar na poltrona. - Vamos conseguir mesmo entrar nesse evento, né? - Agarro seu pulso por cima do tecido liso do seu terno, sou puro impulso e nervosismo.

Uma seriedade cai sobre seu rosto, fazendo seus lábios se comprimirem.
Ele solta a revista no canto e gira, ficando de frente para mim.

- Eu prometo. - Disse, seu olhar me penetrando como uma bala.

Collins pôs sua mão sobre a minha.
Me atentei a tira-la bruscamemte, mas não fiz. Continuei encarando seus olhos, procurando verdade, sentindo ela e toda confiança emanavam.

E só então quando me senti segura volto a respirar, sem sequer perceber que eu havia parado.

Me reencosto na poltrona suspirando alto e sua mão abondona a minha, deixando-a gelada novamente. A torço entre minhas coxas, tentando esquenta-la e me fazer esquecer a sensação da sua pele sob a minha.

Parecia algo obscuro toca-lo. Afinal, sempre ficava algo como uma cicatriz a cada toque, uma cicatriz invisível mas que estava lá.
É estranho.

Bradley voltou a caçar na revista, com o rosto pacífico, como um beber depois de tirar uma soneca.

Ele não consegue parar de me deixar perturbada.

Segredos de um verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora