Capítulo 11: Surpreendente.

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Boa leitura, xoxo.

Z A Y N

 Eu não sei o que fazer quando mais de cinco crianças estão me "atacando", então faço a única coisa que poderiam se esperar de um Grão-Senhor com quase 500 anos de idade e vivência. 

 Eu me jogo no chão e finjo estar sentido dor. 

 - Não, não, alguém me ajude! - Penso em rolar na terra para fazer uma cena mais dramática, mas então eu lembrei da pouca dignidade que ainda me restava. 

 - Nós derrubamos ele! - Elas gritam em comemoração e acho que vão me sacrificar ali mesmo, não sei, me amarrar e me jogar no fogo, mas na real elas vão e abraçam Aria. - Viu, tia?? A gente derrubou ele! - Ela ri e concorda com eles, que continuam comemorando e se afastam aos poucos. 

 Eu me sento no chão, olhando indignado para as crias que me derrubaram e foram embora, pouco se fodendo para mim. 

 - Nem as crianças gostam de você, grão-senhor. - Ignoro a provocação de Aria e me levanto, sacudindo para tirar a sujeira e olhando em volta. 

 Estava com saudade da minha casa. Adorava passar meu tempo livre nas lojas de Velaris, olhar pro céu e encontrar a mais densa e brilhante noite possível. 

 - Eu com certeza divertir elas mais do que você. - Aria dá de ombros e se vira e eu não sei como ela conseguia ter roupas de batalha que mesmo assim ainda se pareciam com uma névoa ao se movimentar. 

 - Como está as costas? Acho que consigo ver a terra daqui. - Eu sabia que não estava tão sujo e ela também, mas noto seu sorriso que me conforma que ela não está falando sério e Aria sai andando, indo fazer o que provavelmente veio em primeiro lugar. 

 Estávamos na Corte quando notamos que Niall sumiu, logo depois, Sapphire e os outros notaram que Aria também, então, achamos que eles só poderiam estar aqui e viemos de intrometidos. Olhando em volta e vendo o quanto eu estava sentindo falta, me perguntei porque não vim antes. Deveria ter vindo, definitivamente. 

 Olho por cima da cabeça das pessoas e acho Aria se movimento tão suavemente entre as pessoas que quase não era notada, resolvendo seguir a mesma direção, já que todos os outros tinham se dissipado e eu estava meio sem saber o que fazer ali. 

 - Você virou a minha sombra agora? Te contratei como guarda-costas e não lembro? - De novo, ignoro seu tom e percebo o que ela está olhando. 

 - Você vai comprar planta? - Observo ela pegar o pequeno cacto, ou algo semelhante com um cacto que dá no mundo mortal e ele brilhar, parecendo mais vivo e... azul?

 - Não, esse aqui estava morrendo.  - Ela devolve a planta no lugar e continua andando calmamente. 

 - Estou te seguindo porque não tenho mais nada para fazer. - Explico, dando a brecha de que se ela quisesse que eu parasse eu, sei lá, voltaria para a Corte que estava "sozinha", por sinal. 

 - Eu imaginei que sim. - Percebi que Aria não tinha um destino em mente, ela só estava andando. - Como era? - Fico confuso com a pergunta súbita e a curiosidade genuína. 

 - O que? - Ela me olha impaciente, mas então sua expressão muda para algo parecendo com o pesar, melancólico. 

 - O mundo. - Fico levemente com peso na consciência ao lembrar que, de novo, por minha culpa, ela deveria conhecer apenas aqui e as Cortes próximas. 

 - Eu mesmo não vi muito para poder te dizer. - Tento brincar, mas estava falando a verdade. - Mas fora daqui a atmosfera é mais... leve. Não tem magia em canto algum, o mundo parece negar isso. Isso é tão bom, quanto ruim, porque parece uma versão antiga de viver. As cores não são tão vivas, por exemplo... - Falo me lembrando da primeira vez que a vi a grama do outro lado e achei que estava morta por não enxergar um verde e sim cinza. - As pessoas são mais acolhedoras também, apesar de cansadas. A pobreza e desigualdade assola o outro lado de um jeito que eu nunca tinha visto. Tirando a parte de não ter responsabilidades, não é nada muito superior aqui. - Termino meu monólogo, ficando surpreso com o quanto que tinha falado. Não era a minha intenção. 

  - Como você vivia lá? - Eu fico meio perdido, porque não esperava que ela fosse conversar comigo por tão cedo, muito menos parecer interessada. Mas sei, no fundo da sua mente, que era apenas curiosidade e eu era o meio para as respostas. 

 Aria me odiava, podia falar que não o quanto quisesse, poderia esconder ou não pensar nisso, mas me odiava. Não sei porque perceber isso me deixa... triste? Chateado, seria a palavra mais correta. 

 - Eu não precisava trabalhar, realmente. Minha esposa, Násthya, era próxima da nobreza, mas mesmo tendo muito dinheiro, seria esperar muito que ela sustentasse cinco marmanjos, então apenas caçávamos e vendíamos ou trocávamos coisas da floresta que os humanos não sabiam ou tinham medo de conseguir. - Explico, sentindo uma nostalgia invadir meu corpo. Não é porque eu estava com saudade daqui, que não gostava de morar lá. - Era uma vida simples, mas confortável. - Encolho os ombros. - Normal. 

 Normalidade era o que eu procurava para a minha vida a anos e lá foi o que mais próximo que eu consigo disso, o que era louco considerando que a última coisa que deveria ser considerada normal por mim era algo vindo de, literalmente, outro mundo. 

  - Quais Cortes você já visitou sem ser pro habitual? - Pelo visto, estava servindo como sua janela pro mundo. Sorrio e continuamos andando, desviando de algumas pessoas e cumprimentando pelo caminho. 

 - Todas. - Os olhos prateados brilham na minha direção. 

 - Qual você mais gostou? - Forço a memória, porque apesar de realmente já ter visitado todas, fazia tempo e a maioria eu apenas ia, fazia o que tinha que fazer e ia embora. O habitual que ela quis dizer, imagino eu, ser os bailes, mas não contam, já que não podemos sair das Cortes em si. 

 - A nossa. Nenhuma se compara a Corte Noturna. - Aria rola os olhos e me cutuca com o braço. Rio e falo a segunda opção. - A Invernal é de tirar o fôlego. Mas não pude ver muito. - Apesar de sermos Cortes e territórios conectados e sermos cordiais uns com outros, ninguém queria estrangeiros nas suas terras, muito menos grão-senhores. 

  - Quem sabe algum dia eu visito. - Eu e ela duvidamos muito disso, porque quando isso fosse possível, teria a paz eterna entre todos, o que, de novo, era algo bem impossível. 

 - Mas de verdade, a Noturna é a mais bonita. - E sempre seria. 

 *

 Quando Aria disse que nunca mais falaríamos sobre o beijo, ela estava certa. Nunca mais ela tocou ou pensou no assunto, pelo menos, perto de mim. Era como se nunca tivesse existido, porque eu queria saber como ela estava conseguindo para aprender também. 

 Tirando o meu drama, as coisas estavam ainda mais corridas na Corte, com os bailes se aproximando. O nosso seria o que iria abrir a temporada, então o peso de ser perfeito recaía tudo nas nossas costas e não teve um ser que escapou do estresse ou de ajudar com alguma coisa, por menor ou maior que fosse. 

  Estava fazendo a última prova de roupa e, por mais que Aria não estivesse 100% feliz com a ideia, seria também o meu retorno oficial como grão-senhor da Corte Noturna. Nós sabíamos quem mandava em tudo aqui, mas querendo ou não, para fora, eu era considerado a ameaça maior, mesmo depois de ter feito o que fiz. O pensamento de eu ser o mais ameaçador dessa Corte me faz rir, porque sim, eu tinha uma vastidão de poder quase que infinita, mas Aria chutaria a minha bunda numa facilidade que eu confesso me assustar as vezes. 

 O que estava incomodando ela, na verdade, não era tanto isso e sim a imagem de "casal" que achamos ser o melhor a se passar, desde o início, agora sendo botado um prática. Para quem estava de fora, eu realmente tinha fugido, abandando ela, casado com uma humana e agora voltado. Eu também ficaria incomodado nessa situação, mas tinha certeza que estariam julgando mais a minha traição do qualquer outra coisa. Além de que, termos que fingir o habitual de sempre para as outras Cortes. 

 Virávamos literalmente outras pessoas. As mais ameaçadoras que conseguíamos ser. Nossa Corte era famosa por causa medo, não importava se fosse num campo de guerra ou num salão de dança. 

  - É cada coisa que a gente se submete. - Aria passa por mim falando sozinha e eu rio, porque o que ela estava reclamando era de ter que devolver as armas que escondia, já que a costureira não deixou ela usar. 

 Seria, definitivamente, uma noite interessante. Não sabia se boa, mas surpreendente, certeza. 

Night Court - Zayn Malik.Onde histórias criam vida. Descubra agora