Capítulo 47: Arma.

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Boa leitura, xoxo

A R I A

 Com o tempo "vago" que a falta dos treinamentos de Louis deixou, eu percebi que tinha muitas horas livres de tédio na Corte, coisa que eu tinha esquecido nos últimos meses. Depois de ter a certeza que a guerra em si não aconteceria até a primeira neve, também tinha sentindo dar uma relaxada, como se eu estivesse tentando esquecer um problema que estava longe, mas também estava batendo na porta. 

 Ainda não querendo pensar sobre isso e fingir que não iria acontecer - mesmo que eu tivesse a plena certeza que aconteceria - pego o cristal azul vibrante que estava dentro de um frasco de vidro. Como se tomasse vida, o cristal ao tocar na minha mão "recarrega" e fica ainda mais claro, a luz iluminando o meu rosto e a mesa a volta. Aos poucos, sentia ele voltando a ser o que era a primeira vez que tinha tido contato com ele. 

 Não achava que ele era mais uma ameaça, mas estava começando a pensar se poderia ser usado como uma arma. Eu mesma poderia facilmente conjurar um fogo agora, rápido, sem problemas, porém eu teria que estar perto para poder controla-lo... Com esse cristalzinho, não. Apesar de sentir que ele me obedeceria, ainda tinha a sensação dele estar mais ligado com o seu mestre original, se podemos chamar disso. 

 Então meio que querendo ou não, valia mais a pena aprender a fazer um desse próprio do que usar esse já pronto e contar com a sorte. O problema, era saber exatamente como. E eu estava me ocupando com isso e matando o meu tempo vago. 

 Não era qualquer tipo de cristal, conseguia ver. Era feito de um material que eu nunca tive contato antes, não tinha nenhuma referência para saber da onde começar, com o que comparar ou tomar de base. Simplesmente não sabia o que era. E também não dava só para imaginar e criar um. Já tinha tentado. Dessa parte em diante, chegávamos no problema de não saber como colocar um fodendo espírito da natureza preso. E, para ser bem sincera, não sabia também se queria fazer isso. 

 O fogo que se encontrava preso dentro do cristal da minha mão não parecia muito feliz. Apesar de ter "reacendido" quando eu o toquei, ele parecia estar se apagando cada vez mais, como se estivesse triste por estar ali e não quisesse mais estar. Então, decidi focar meus esforços em outro objetivo: libertar a pequena parte do espírito livre do fogo que agora se encontrava preso. 

 Começo tentando procurar alguma falha no cristal, não sei, algo que pudesse ser o começo para uma rachadura e futuramente, a demolição completa, mas... nada. Era impenetrável. Sem falhas, riscos, alguma parte que parecesse ser mais frágil, nada. Com um suspiro, jogo o cristal dentro do frasco de vidro novamente, decidindo que não pensaria nisso por agora. 

 Mas... Pensaria no que, então? 

 Eu iria enlouquecer. Era isso. Conseguir ver. Conseguia sentir. Até tudo acontecer e a "acabar" - isso nunca acabaria - eu estaria presa nessa bolha de loucura e ansiedade. O lado bom de se ter um laço, era que você não precisava contar pro outro que estava surtando, a outra parte sabia e fazia como Zayn fez agora, passando pela porta como se eu o tivesse chamado de forma verbal, quando eu só pensei em, sei lá, me jogar da torre e calcular se sobreviveria ou não. 

 - O que diabos? - É a sua fala preocupada assim que ele chega perto e eu rio. 

 - Relaxe, eu não pretendo pular de nenhuma janela. - Lhe garanto, mesmo que estivesse realmente considerando. Quem sabe assim o tempo passava mais rápido, não sei, uma ocupação, ver as feridas se fecharem. 

 - Vamos todos enlouquecer até esse bendito inverno chegar. - Eu concordo. Iríamos. 

 - Pense no lado bom. Se estivermos loucos até lá, não saberemos ou iremos passar pelo que vai acontecer. - Seu olhar levanta, preocupado, procurando o meu. 

 - Você já pensou em... - Ele não termina a sua frase, mas eu sabia o que era. Sabia pela sua mente e sabia porque já tinha pensado algo bem parecido com isso. 

 - Não acho que seria algo leal e justo fazer isso, Z. - Zayn concorda, por mais que a ideia de apenas se afastar e deixar as outras Cortes se foderem fosse bem tentadoras, não iriamos conseguir dormir com nós mesmos se o fizéssemos. 

 Além dos motivos óbvios, como Kael, fazer isso também seria uma péssima ideia porque nada nos garantia que iríamos passar despercebidos por Hybern e que ele realmente não se esforçasse para conseguir nos tomar, mesmo que não lhe fosse de muita serventia. Também tinha certeza que a Criatura iria querer vir atrás de mim - não da minha Corte, especificamente. - de um jeito ou de outro. Ou seja, recuar agora, seria apenas assinar a certeza que teríamos que lutar mais para frente, talvez uma batalha ainda pior do que seria essa que nos pouparíamos. 

 - Tem razão. - Concorda ele, mas eu estaria mentindo se falasse que meu deus, como isso seria uma coisa incrível. Só jogar nas mãos dos outros e ir embora... O peso das responsabilidades pesavam sob os ombros só de pensar isso, imagina de se fazer. Não poderia fazer isso, não poderia. 

 - Eu já não sei mais se estou pensando certo ou o que. - Resmungo e sei que Zayn me entende. Era como se os pensamentos estivessem tão embaralhados, tão fora de ordem, sintonia, que não parecia meus... Não sei. Como se normalmente, eu não os tivesse. Sinceramente, não sei explicar. 

 - Mas você tem que manter a mente forte... - Sabia disso. A Criatura desde daquele dia não tentou contato novamente, mas apenas aquele pequeno tocar seu em mim foi o suficiente para enraizar um medo dia e noite, noite e dia, com uma sensação de perigo eminente. Como se eu tivesse que estar atenta vinte e quatro horas por dia, porque ele estava apenas esperando uma brecha para tentar algo novamente. Era algo de se gelar a espinha, só de lembrar. 

 - Estou mantendo. - E realmente estava. Só a parte de treinar meus poderes era um exercício. Apesar de muito diferente, as vezes funcionava como um músculo. Para fazer qualquer tipo de magia direito, tanto seu corpo, quanto sua mente, deviam estar saudáveis e fortes, para conseguir trabalhar em sintonia e um não sobrecarregar o outro. Exercício mental, no entanto, era mais difícil que o físico, já que esse último eu tinha alguém bem impertinente para me ajudar. 

 - Posso te ajudar no outro também... - Eu rio quando Zayn vai para esse lado, já que na verdade eu estava falando de Liam ser impertinente. Ele era focado e sabia colocar qualquer um na risca. Meu exército, meus guerreiros, nunca estiveram tão bem treinados quanto agora, nas mãos dele e de Ruby. 

 - Engraçadinho. - Lhe mostro a ponta da língua e ele ri, desviando o olhar para o vidro com a luz cintilante nova.

 - Esse cristal não estava apagado? - Zayn pergunta curioso, pegando o frasco na mão e girando calmamente, fazendo o cristal seguir seus movimentos dentro do vidro. 

 - Estava. - Concordo. - Eu toquei nele e ele acendeu. - Não preciso ler a sua mente para ver a desaprovação ali. 

 - Não combinamos de não tocar mais nele? - Me sinto uma criança sendo repreendida e rolo meus olhos. 

 - Não me lembro de fazer isso. - Lembro de comentarmos por alto, mas em nenhum momento selar acordo nenhum de nunca mais tocar no cristal. 

 - Pode ser perigoso, Aria. - Sabia disso e ele sabia que não precisava repetir, mas olha ai, ele repetiu e eu toquei no cristal. 

 - Eu sei que não é. Poderia ser útil, se eu soubesse como examinar direito, mas como não posso tocar nele... - Faço um drama, mesmo que já tivesse desistido de mexer nele. 

 - Realmente foi esperto usar os cristais que "nascem" na base da Prisão, inteligência temos que dar para ele... Fico me perguntando se ele foi lá pessoalmente ou criou um. - Eu paro, encarando Zayn, que continuava falando e rodando o frasco, aleatório ao fato que tinha acabado de me dar a resposta da pergunta que eu estava fazendo a tarde inteira. 

 - Você sabe que cristal é esse? - Pergunto, tão surpresa que sinto a boca seca e ele para de encarar o objeto na sua mão, se virando para mim com uma expressão que dizia que era óbvio. 

 - Claro. Está basicamente em volta de toda a Prisão, Aria. Dentro também. - Sua mente me envia imagens que eu parecia ter deletado, porque realmente, os cristais da Prisão eram idênticos ao que estava na mão de Zayn. 

 - Acho que vamos ir para a Prisão novamente. - Ele claramente não estava esperando por essa. - Sem visitar nosso amigo, no entanto. - Não estava indo para ver o Entalhador, estava indo para conseguir uma nova arma, talvez. 

Night Court - Zayn Malik.Onde histórias criam vida. Descubra agora