Capítulo 33: Ferro.

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A R I A

 -Mamãe... - Eu rio, quando a minha mãe parece no quintal de casa, apontando para o amigo que tinha criado. Não me deixavam falar com muitas pessoas, eu não podia. Mas ali, eu tinha feito um amigo. Tinha pegado uma pedra e a feito crescer, mas agora ele estava muito grande. Tinha pelo menos o tamanho do meu pai, musgo cobrindo muitas partes do seu "corpo" de pedra e ele sorri para a minha mãe, com os dentes afiados de pedras, que grita e me puxa para perto dela.

 - O que é isso?! Caspian! - Escuto ela chamar meu pai desesperada e tanto eu quanto o o grande gigante de pedra ficamos confusos. - Foi você que fez isso?! - Ela estava brava comigo. 

 - Foi... - Eu respondo, com medo dela brigar comigo, mas sabendo que mentir era pior. 

 - Se livre dele. - Ela me solta automaticamente, com a ordem fria. Meu pai aparece na porta, mas minha mãe o desmaia logo em seguida, se virando para mim. - Se livre dele, Aria. - Depois do seu choque inicial, todo o desespero tinha sumido do seu rosto, como se ela tivesse tomado controle da situação em segundos. - Eu estarei aqui de volta em dois minutos e eu espero que isso tenha sumido. 

 Ela bate a porta e eu tento entrar, com medo. Eu não gostava de ficar no nosso quintal com a porta fechada. 

 - Mamãe, me deixe entrar! - Eu peço e escuto seus passos indo mais para o fundo da casa, me ignorando. - Mamãe! Eu estou com medo! - Estava ficando de noite e eu não sei porque, vendo o medo da minha sobre a criatura, eu também estava ficando assustada. - Mamãe, me deixe entrar! - Eu peço novamente mas é como se eu estivesse falando sozinha. 

 Me viro pro quintal, assustada das coisas que poderiam sair de trás das árvores. E se algum Urgal viesse e tentasse me matar? O gigante de pedra se aproxima de mim, mas parece ficar triste quando eu me encosto mais na porta. 

 - Você pode ir embora? - Eu pergunto, com a voz baixa, não querendo que a minha mãe escutasse isso. Ela queria que eu destruísse ele. Eu sabia que podia, eu podia fazer muitas coisas, mesmo sendo muita nova. 

 O gigante assente com a cabeça, mas parecendo também com medo da floresta. 

 - Vem. - Eu lhe chamo, ainda muito assustada, mas sabia que se não conseguisse que ele sumisse, eu não iria poder entrar em casa. Eu podia forçar ou quebrar a porta, mas então minha mãe colocaria mais ferro na minha comida, então eu ficaria ainda mais sem meus poderes. Ela dizia que era preciso, mesmo que me deixasse tonta e enjoada. Ela dizia que eu não era normal e era perigosa tanto para eles, quanto para mim mesma, por isso teria que ficar assim. 

 O levo o mais longe que a minha coragem permite e assim que vou me despedir dele, já estou triste e ainda com medo, já que teria que voltar sozinha. 

 - Tchau. - Aceno e observo o gigante começar a andar para dentro da floresta. Dou um grito quando olho para trás e tinha uma sombra preta olhando na minha direção. 

 Com o pouco de poder que me restava, graças ao efeito do ferro, sinto as minhas mãos ficarem quentes e o fogo crepita ali, me preparo para seja lá qual fosse o ataque que iria sofrer, mas a pessoa sai das sombras, sorrindo e parecendo amigável. 

 - Está tudo bem, eu não quero machucar você. - Eu podia ter apenas 7 anos, mas eu não era burra. 

 - Quem é você? - Era um illyriano grande, de cabelos castanhos e olhos azuis. O sorriso amigável sempre presente. 

 - Louis. É um prazer conhecer a minha futura grã-senhora. - Ele termina a sua frase com uma pequena reverência. 

 *

 Acordo do meu sonho, sem saber o se era um sonho. 

 Nem lembrava de ter mostrado poderes quando era pequena. Lembrava de estar sempre enjoada e com dor de cabeça, mas nunca imaginei que minha mãe colocava ferro na minha comida. A minha mãe colocava ferro na minha comida? Eu não sei distinguir o que disso foi uma lembrança e o que foi um sonho, já que eu lembrava desse dia de uma forma muito diferente. 

 Balanço Zayn do meu lado, que acorda confuso. 

 - Louis já me conheceu antes de tudo? Quanto eu era menor? - O olhar culpado no seu rosto é tudo o que eu preciso como resposta. 

 - Niall e Louis sempre estiveram por perto de você. Antes de irem para o mundo mortal comigo. Principalmente enquanto você crescia, sua mãe por algum motivo queria que você crescesse naquela parte um pouco afastada de Velaris, com muita floresta. Não era seguro, você claramente era o alvo das outras Cortes, tanto por ser a minha futura parceira segundo a Sacerdotisa, quanto pelo seu poder. - Okay, essa parte do sonho era real. 

 - A minha memória... O que você sabe sobre apagarem a minha memória? - Manipularem seria mais o caso. 

 - Eu não sei nada sobre isso, Aria. - Zayn fala na língua antiga e não tem como eu desconfiar que ele estava mentindo. 

 Mas não apagaram a minha memória. Não, com certeza foi a culpa de tanto ferro no meu sangue. Nos deixavam fracos, tontos e mil e outras coisas. Eu sempre tive medo do meu poder. De usá-lo. De realmente usá-lo. Nunca o testei. Nunca soube seu limite, sua extensão. Nunca soube o que eu poderia fazer além do básico e agora tinha descoberto que era porque a minha mãe me falava que eu perigosa. A minha mãe literalmente me envenenou por anos. 

 E fez um ótimo trabalho, porque quando eu fui levada para a Corte, para longe dela, já era tarde demais. Ela já tinha conseguido plantar o medo que eu sentia por mim mesma na minha cabeça. Era sobre isso que o Entalhador estava falando. Acho que lembrei, sonhei, com isso agora porque ele me deu o gatilho necessário para pensar sobre isso. 

 Forçando a minha memória, aquele gigante de pedra não foi a única coisa que eu criei. Eu criava tudo de qualquer coisa. Pedaços de galho, folhas, tudo se tornavam "amigos" para mim. A cada vez que eu fazia isso, minha mãe aumentava a dose de ferro, o que fazia que fazer isso novamente ficasse cada vez mais difícil até eu nunca mais tentar. 

 Ainda hoje, ou melhor dizendo, até hoje, ainda sentia meu poder meio... adormecido. Como se estivesse lá, mas estivesse longe ou difícil de tocar. 

 - Você quer falar sobre isso? - Zayn pergunta e eu lembro que ele ainda está no quarto. Por um momento tinha esquecido, perdida nos meus pensamentos. 

 - Eu não sei se quero falar sobre isso. - Digo a verdade, porque realmente eu não sabia. Como a minha mãe, o ser mais doce que eu conhecia, fazia isso comigo? Por que ela fazia isso comigo? 

 - Tudo bem. Eu estou aqui. - Zayn não deita novamente para dormir, apenas fica acordado do meu lado em silêncio pelas próximas duas horas. 

 Não era nem que eu não queria falar sobre isso. É que eu não sabia como falar sobre isso. Qual o sentido disso? Por que? Por que? Era a única dúvida que ficava me circulando. Ela achou que estava me protegendo? Naquela época ela já sabia da onde o meu poder vinha? Ela tinha medo de mim? Por que? Era uma coisa tão cruel e fria de se fazer. Porque aquilo me fazia mal. Ferro nos faz mal só pelo contato, imagine ingerir isso por anos e anos. Não duvidava, inclusive, que isso tivesse me deixado com alguma sequela, porque não era possível isso. 

 Eu passei a minha infância inteira com dor de cabeça, enjoos, vomitando pelos cantos e sonolência. Eu dormia, pelo menos, treze horas por dia, porque não conseguia ficar acordada, com a mente nublada. Era como se até agora uma névoa espessa estivesse nessa parte da minha vida, na minha memória, porque eu não lembrava desse tipo de coisa. Ou então eu lembrava, mas eu nunca realmente parei para pensar sobre. Sobre o quanto que isso era estranho e anormal de se fazer com a própria filha.

 Deito no travesseiro novamente e como um espelho, Zayn imita meus movimentos, em silêncio, apenas me dando a sensação de que eu não estava sozinha ali. Ainda sem falar nada, me aproximo do seu corpo e abraço, ficando ali. Sua mão reposta nas minhas costas e começa a fazer círculos lentos, me tentando para a inconsciência que o sono tanto me chamava. 

 Decidindo que teria que pensar e fazer algo sobre isso depois, resolvo tentar voltar a dormir. Amanhã, além de tudo, era um grande dia. Iríamos firmar as alianças com os urgals e eu realmente esperava que ocorresse tudo bem. Eu não sei se iria conseguir suportar mais algum problema, fosse o que fosse, por menor ou maior que seja.   

Night Court - Zayn Malik.Onde histórias criam vida. Descubra agora