◇ Flashback ◇

118 19 4
                                    

Anne.

Era mais uma tarde da minha vida sem graça, hoje não tinha aula na faculdade e por isso fiquei o dia inteiro na cama, tenho que confessar que usei um pouco da branca fina mas o efeito passou e eu já tava "sóbria" de novo.

Mas entrem em um raciocínio, ninguém nunca tá sóbrio 100%. Digo, não é só a bebida que causam efeitos bizarros e loucos, sua própria mente é a pior droga que tem e você não pode fazer nada pra se livrar.

Continuando...

Mal falei com o Gilbert nesse dia e nem tava muito afim de falar com ele, mas como uma boa observadora acho que ele taria bebendo ou compondo alguma música, ele é bom nisso. Umas das coisas que eu mais admiro nele é sua praticidade de compor muito rápido, e conseguir transmitir toda sua dor, alegria, surtos e teorias em um simples papel e transformar em música.

Ai você me fala: ah mais hoje em dia todo mundo faz música.

Será que realmente faz? Será que eles conseguem transmitir com tanta facilidade tantas coisas? Alguns conseguem, claro. mas outros fazem só por hit e dinheiro.

O que seria de um violão com cordas sem um bom musico?!
– Shandy Crispim

E essa frase faz total sentido, o que importa ter um violão com cordas se não tem um músico que consiga toca-las com o coração e o amor. Tocar todo mundo pode, faz aula e aprende, mas tocar com paixão não é todo mundo que consegue.

Naquele fim de tarde passei na faculdade pra deixar alguns papeis e resolvi passar pelo Campus e quem eu encontro lá? O Gilbert.

  –Oi.. –Falo chegando na sua frente.
  –Oi. –Ele olha surpreso.
  –Posso sentar? –Pergunto
  –Ah sim, claro. –Ele se afasta e eu me sento do seu lado. –O que você fez hoje? Sumiu o dia inteiro.
  –Nada muito interessante. –Confesso.
  –E porque não me ligou? –Ele fixa seus olhos pelo campus.
  –Não queria te incomodar. –Desculpa de merda em Shirley.
  –Você nunca incomoda.

E um silêncio se instalou. tínhamos estranhas manias de ficarmos em silêncio admitindo as coisas ao nosso redor. Bem coisa de maconheiro, eu sei. Mas era um jeito de nós conectarmos fotografando na nossa mente aqueles pequenos e únicos momentos.

Gilbert.

Como já sabem, nunca faço nada que preste ou que tenha forças pra me tirar do meu estado. Passei o dia bebendo e compondo, eu tinha uma estranha facilidade de compor muito rápido, acho que tudo que é feito com amor acontece de uma forma única e fácil, mesmo que você esteja com mil facas presas no seu peito, você ainda luta pra liberar todo o amor que ainda lhe resta na pouca coisa que te faz feliz.

Fui pro campus da faculdade porque o único lugar calmo que conheço. Fiquei o dia todo sem falar com a Anne, eu sei que ela não tava ocupada, mas deixei ela no canto dela.

Ela coloca a cabeça no meu colo, como se precisasse sentir o calor de outra pessoa.

(Pensamento da anne: eu realmente precisava, precisava sentir sua energia junto da minha e queria decifrar sua alma sombria como todas as outras vezes.)

  –E você, o que fez hoje? –Ela pergunta baixo.
  –Eu fiquei compondo. –"Confesso" porque eu sabia que ela já sabia que eu não fiz só isso.
  –Você bebeu né? –Ela ainda pergunta deita no meu colo.
  –Um pouco. –Não fico surpreso com sua pergunta.
  –Tá bom.– ela parece não se importar com aquilo.
  –O que tá pensando?
  –Em nada. –Ela responde e respira fundo. –E você?
  –No quanto você é boa demais pra mim. –Respondo e ela continua na mesma posição enquanto eu passo a mão pelo seu cabelo.
  –Você é besta. –Ela da um sorriso bobo e se encolhe pra mais perto de mim. –A lua está linda. –Ela fala baixo mas o suficiente pra só nos dois escutar.
  –Sim, a Lua está sempre linda. –Confirmo porque eu sei o que significa a lua está linda.
  –Sinto que sua alma da triste. –Ela comenta. –O que aconteceu? –Ela vira o rosto pra mim.
  –Não sei, eu só tô meio triste. –Na verdade eu só me sentia cansado de tudo e sobrecarregado.
  –Sangre comigo desta vez.. –Ela diz.
  –Como?
  –Sangre comigo desta vez, dívida sua dor comigo, eu aguento. Sangre comigo desta vez, até nos esgotarmos. –Ela se senta do meu lado novamente e me abraça.

Ficamos abraçado por um tempo e ela me beija e eu sinto seu gosto doce, um beijo calmo e sereno. Quando estávamos tristes nossos beijos sempre eram assim, calmos, sem pressa e como precisássemos só da nossa companhia mesmo que o mundo... nossos mundos estivessem acabando.

Explicação da frase "A lua está linda":

Em primeiro plano, isso é um episódio conhecido como Soseki Natsume, escritor e filósofo japonês que traduziu "I Love you" como "A lua está bonita".

A estrutura de "eu", "te" e "amo" é muito simples. É uma mensagem muito direta, simples e forte. Quando se diz eu te amo você está transmitindo de forma direta pra a pessoa que você deseja. A imagem que se dá é que eles estão olhando um para o outro ao falar isso.

E a estrutura "A lua está linda"?

Quando eu digo "A lua está linda", automaticamente você recebe de forma implícita a mensagem e pode não entender nada.

"A lua é linda" não é uma palavra que se diz olhando nos olhos um do outro, e sim um convite para apreciar a lua.

Quando você diz "A lua é linda" e a pessoa retorna: "Está mesmo".

Em outras palavras, se ambos puderam compartilhar e sentir a beleza da lua juntos, você pode confirmar o amor ali. Mesmo que não se atreva a concretizar em palavras, essa comunicação será suficiente por si só. Foi assim que Soseki expressou o amor.

Em vez de enfrentar um ao outro, eles se abraçam e olham na mesma direção.

“A lua está linda” não é uma mensagem clara e direta como “eu te amo”. Mas com a intermediação da lua, você inclui amor em palavras casuais e consegue expressar amor sem dizer diretamente. 

E é isso, espero que tenham entendido e amado tanto quanto eu essa simples frase mas com um poder tão forte. :)

Love is not over Onde histórias criam vida. Descubra agora