2

620 88 124
                                    

Não era incomum que eu adormecesse com olhos topazianos pairando sobre a minha cabeça; era como se Ruggero estivesse o tempo inteiro me espreitando, vigiando cada sonho, escondido por trás de cada véu assombroso dos meus pesadelos de cada noite

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Não era incomum que eu adormecesse com olhos topazianos pairando sobre a minha cabeça; era como se Ruggero estivesse o tempo inteiro me espreitando, vigiando cada sonho, escondido por trás de cada véu assombroso dos meus pesadelos de cada noite.

E então eu me acordava com o peito ofegante, a boca ressecada e a pulsação acelerada pelo medo dos sonhos ruins, por todas as vezes que ele ia embora e pelas vezes que eu sequer podia vê-lo, mesmo sabendo que ele estava por perto.

Perdê-lo me corroía a sanidade e talvez eu já não tivesse mais nenhuma.

Passava pouco das cinco da manhã quando acordei definitivamente e decidi que não tentaria mais dormir, afinal precisaria começar a montar a minha farsa perfeita do dia. Faltavam poucas horas para o inicio das aulas.

Mais um ano letivo e isso não me animava nenhum pouco.

Todos esperavam que eu fosse bem, que já começasse a pensar nos estudos visando o vestibular no ano seguinte, mas eu não tinha a menor pressa, ainda teria o segundo ano do ensino médio inteiro para me preparar para o terceiro ano e, só então, dizer a quem interessasse que eu não pretendia sair de Bela Rosa para cursar faculdade nenhuma, tampouco pensava em viajar para me descobrir.
Eu só queria ficar ali e ponto. Sem planos.

Talvez uma parte minha ainda acreditasse que se eu não saísse de Bela Rosa, Ruggero voltaria para mim.
Sair daquela cidade seria admitir que acabou e eu não estava pronta para dizer adeus.

Me arrumei rapidamente, já estava craque em esconder a cicatriz e eu fiz um esforço enorme para chegar a esse grau de praticidade, principalmente porque olhar para ela me lembrava constantemente das palavras que ouvi dele no hospital.

Balancei a cabeça para afastar aquelas memórias.

Fui até a minha cama e a arrumei da melhor forma, depois remexi na mochila e enfiei dentro dela o celular e os fones de ouvido, por fim, contornei a mesinha e abri a gaveta para pegar o meu estojo, deslizei o zíper por seu trilho colorido e pesquei o último saquinho que ainda tinha dentro dele.

O último. E eu precisaria de mais.

Aspirei o pó e agitei a cabeça para lá e para cá, soltando um suspiro profundo pelos lábios entreabertos, depois escondi o saquinho dentro de um dos bolsos da mochila, guardei tudo e sai do quarto, porque já podia ouvir vozes vindas do andar de baixo.

Quando cheguei à cozinha, mamãe estava servindo café para o meu pai que tentava a todo custo fazer um laço perfeito em uma caixinha branca.

Franzi o cenho observando a cena.

─ Esqueci o aniversário de alguém? – Indaguei enquanto dava um beijo na bochecha da minha mãe e depois na bochecha do meu pai. ─ Para quem é essa caixinha?

Papai soltou um suspiro de frustração e deixou o laço torto de lado.

─ É só uma lembrancinha para os nossos novos vizinhos. – Explicou. – Quer dizer, as pessoas que se mudaram moram algumas ruas depois da nossa, mas como somos da família fundadora...

O Perfeito Topázio {Vol.2}Onde histórias criam vida. Descubra agora