Capítulo 27

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BELLA


Mesmo com os dias se passando, a dor dentro de mim permanecia, eu sabia que não devia sentir absolutamente nada pela mulher que acreditei por toda a vida ser minha mãe, mas era inevitável. Eu sentia por sua perda, por nossa história que em nada foi real e por mim, por ter sido uma mera peça para Elisa a fim de ferir meus verdadeiros pais.

Ela conseguiu abalar toda a minha família, hoje eu sei disso.

E como se tudo não pudesse ficar pior, ainda naquele mesmo dia em que me foi revelado sobre o que aconteceu, minha mãe contou que Isadora viajou e não sabia do seu destino. Isadora fugiu. E o pior foi entender que provavelmente minha irmã fez isso logo após sua visita a mim e só depois de quase vinte e quatro horas que meus pais descobriram seu sumiço, um absurdo tremendo e foi a primeira briga entre muitas que eu e meus pais tivemos nos dias seguintes.

A negligência que eles tiveram com Isadora é tão pesada quanta a que tive, eu não consigo imaginar o que é ter pais presentes em corpo e ocos em espíritos. Laura e Pedro sofreram todos esses anos com meu rapto, mas esqueceram que ainda tinham uma filha perto deles, que era esperado todo cuidado e amor, mas eles foram relapsos.

A primeira briga foi a pior porque eu estava no meu limite e simplesmente vomitei as palavras que estavam entaladas na minha garganta. O choque era nítido no rosto de ambos, inclusive de Rodrigo que presenciou toda a cena, e só souberam negar minhas acusações. Porém, no dia seguinte, eu pude ver o olhar culpado em seus rostos, tal como seus olhos inchados indicando o choro, Laura e Pedro finalmente estavam entendendo a merda toda que fizeram com minha irmã, mas mesmo assim não aliviei para eles, não mesmo. Sempre que possível eu alfinetava um ou outro ou ambos se estivessem juntos, o que gerou algumas outras brigas entre nós.

Eu não aguentava mais ficar dentro do hospital, Rodrigo sabia o quanto eu estava incomodada, mas deixou claro que não iria intervir ao meu favor que só sairia daqui quando realmente fosse o tempo certo. E, droga, mesmo ele me repreendendo com minhas reclamações, eu sentia aquele calorzinho gostoso com cada cuidado seu comigo, pois mesmo com minha melhora, ele não saiu de perto de mim, praticamente morando no hospital por minha causa. E, droga, eu amo esse homem, amo demais. Eu nunca imaginei sentir algo tão poderoso por alguém e ao mesmo tempo tão frágil, como se só ele tivesse o poder de acabar comigo num estralar de dedos.

- Por quê está me olhando assim? - escuto sua voz ao fundo e dou uma risadinha.

- Por que te amo. - declaro-me com calma e sinceridade.

Ele suspira baixinho e sai da poltrona em que estava para se aproximar mais de mim, sua mão acolhe a minha e recebo seus lábios gentilmente aos meus. 

- E eu amo você, meu amor. - declara de volta ao me dar um beijo na testa.

Sinto lágrimas pinicarem meus olhos, emocionada por ter alguém como ele na minha vida. Rodrigo já me conhecendo como conhece, envolve meu corpo num abraço generoso, sinto suas mãos acariciando meus cabelos e suspiro sem me conter.

- Quero tanto ir embora daqui... - falo em seu ouvido.

- Bella, você...

- Acho que finalmente seu pedido será concedido. - escuto aquela voz que tem me incomodado bastante nos últimos dias ao recusar todas as minhas tentativas de sair do hospital.

Eu e Rodrigo nos afastamos um pouco surpresos, sequer ouvimos a chegada da médica de tão envolvidos que estávamos em nossa bolha.

- Acabo de assinar sua alta, Isabella. - avisa a doutora Lima e abro um sorriso grande em sua direção.

Finalmente.

- Obrigada. Rodrigo, vamos agora arrumar tudo para irmos. - digo animada, já afastando as cobertas de meus pés.

- Mas antes disso, quero frizar algumas recomendações que eu já fiz para seus pais e seu noivo. - ela avisa e encaro Rodrigo chocada. Ele sabia! Ele sabia que eu receberia alta e não me falou nada. - Quero repouso absoluto durante mais uma semana e depois pode fazer pequenos movimentos, sem exagerar. Na terceira semana, pode fazer curtas caminhadas de dez minutos, mas sempre com alguém de companhia, tudo bem? Esse primeiro mês ainda será monitorada, Isabella e é importante que siga as recomendações, inclusive, nada de bebida alcoólica por enquanto também.

- Eu farei tudo certinho. - confirmo ao assentir. - Só de estar longe daqui já será um alívio. - respiro fundo e escuto suas risadas, mas só fui sincera. - Obrigada por tudo, doutora. Soube que fez um trabalho incrível, você e toda a sua equipe.

- Fiz o meu trabalho. - é o que responde, como sempre formal. - Bom... Agora podem organizar tudo para partirem, já falei com seus pais também e pediram para avisar que chegam para buscar vocês. 

- Doutora Lima... - Rodrigo a chama. - Eu nem tenho palavras para agradecer por tudo o que fez, você salvou a vida de... - sua voz embarga e me emociona também, busco sua mão para que veja que estou bem agora e com ele. - Obrigado. - a doutora assente, dando-lhe um sorriso curto, antes de sair da sala.

- Ro... Eu estou bem. - falo em voz alta e agora sou eu quem trago seu corpo para um abraço reconfortante.

O nosso abraço é sempre o melhor, disso não tenho dúvidas e acredito que Rodrigo também não.

- Eu te amo tanto, Bella... 

- E eu amo você, lindo. - retribuo igualmente afetada.

O beijo acontece naturalmente, como aquele imã que me puxa para ele e não quero nunca mais soltar. É um beijo de saudades, amor, carinho, cuidado, vontade de ficar junto. Somos bons juntos e é tudo o que queremos.

Sua testa encosta na minha enquanto suas mãos acariciando meu rosto, fecho os olhos apreciando sua atenção.

Estamos bem e agora vamos para casa! 

Eu sei que tudo vai ficar como queremos e planejamos. E, claro, o mais importante é que estaremos juntos, nos amando e cuidando como sempre pareceu ser tão natural para nós e entre nós. Respiro aliviada, ciente que já aconteceu tudo o que tinha para acontecer, agora precisamos olhar em frente e seguir o nosso caminho. 

Afinal o que mais poderia dar errado?



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👀


Bella: em outra vida - Série GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora