1. Uma Ilha Estranha

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P.O.V. Thyri

Estou voando há muitas horas, então decido parar para descansar, e sentir o meu corpo humano de volta. Assim eu fiz. Pousei em um conjunto de rochas no meio do mar, e senti meu corpo se contrair até que eu voltasse a ser uma viking normal.

A cada dia que passa fica mais difícil odiar essa maldição. Talvez eu nem devesse odiá-la. Ela me mostrou um novo mundo, o mundo dos dragões, mas essa maldição também me tirou da minha família, amigos.

Eu me sento na beirada da rocha e encaro meu reflexo distorcido nas águas turbulentas do oceano. Eu estou um trapo, meu cabelo cor de corvo antes preso em uma trança longuíssima, está extremamente bagunçado. Olheiras fundas tomam conta de uma boa parte de baixo dos meus olhos verdes, e para fechar com chave de ouro, meu corpo está dolorido como se eu tivesse corrido uma maratona.

Minha última missão não foi muito fácil, envolvendo caçadores de dragões e muitos chutes.

Eu saí pelo mundo para proteger os dragões. Eu vi o que eles passam, e já senti a dor que muitos passaram enquanto estava transformada em dragão. Vikings são terríveis e agora eu sei disso. Sinto nojo de mim mesma por um dia ter quase matado um pobre dragão.

Faz algumas semanas que estou tentando criar uma forma de conviver com a fera em mim, ao mesmo tempo em que eu sou humana. Um dia eu quase consegui. Fiz as asas cresceram nas minhas costas, mas saiu do controle, logo as garras aparecerem e os dentes afiados também, então, me transformei em dragão.

Olho para a minha roupa, uma bota marrom no pé esquerdo, o outro sabe-se lá onde está. Também visto uma calça bege cheia de furos com pedaços de outros tecidos remendados por debaixo de uma saia azul-cinzento que por pouco não chega ao joelho, além de uma blusa de manga curta e cinza. Não tenho armas, já que tenho minhas garras e presas na forma dracônica.

Com minhas forças já restauradas, decido voltar a voar.

Novamente sinto meu corpo se contrair, então asas grandes e brancas saem das minhas costas, rasgando a minha blusa por trás. Ela já estava bem surrada então nem fez diferença. Tentei manter essa forma por alguns segundos, e adivinha? Isso aí, a mamãe aqui conseguiu. A minha pele em volta das asas alternava entre carne e escama. Eu sentia as escamas cobrindo minhas áreas por debaixo da roupa, como acontece com a maioria dos que são como eu. As escamas aparecem para nos proteger, como uma armadura, mas no meu caso, o meu cérebro de dragão não entendia que eu já estava vestida.

Bati as asas até que ficasse por cima das nuvens, de fora do alcance da visão de qualquer comerciante que passasse com seu barco por ali.

O sol estava se despedindo, e o céu dava boas-vindas a lua, então tive a noção do quanto estava tarde. Fui para debaixo das nuvens e ao longe pude enxergar uma ilha, grande por sinal. Quanto mais eu descia, mais eu podia ver os detalhes do lugar: grandes estátuas de vikings esculpidas de rochas - boca das estátuas estavam abertas, e por dentro pegavam fogo, deixando elas levemente horripilantes.

Eu diria que esse lugar fica a doze dias ao norte de desânimo e alguns graus ao sul de morrendo de frio, enraizado no meridiano da tristeza.

Abraço a mim mesma e pouso na ilha, onde algumas ovelhas pastavam, preocupadas em encher o estômago nem notaram a minha presença. Recolho as asas e observo em volta, o lugar era uma grande aldeia, cheia de casas aparentemente novas em folha. Se passou um tempo até eu me atrever aproximar das ovelhas. Eu estava tentando me esconder quando o pobre animal ao meu lado foi pego por uma besta que cospe fogo.

Grande e vermelho-brilhante, com listras pelo corpo. A cabeça grande com o pescoço longo, impossível não saber o que é. Um Pesadelo Monstruoso.

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