27. Voando Só

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Eu estava dormindo, mais uma vez sonhando com meu pai. Lembro-me de seus conselhos e de suas piadas sem graça, sinto saudades.

Meus olhos se abrem. Eu escuto um grunhido de dragão. Faço minhas orelhas desaparecerem e retornarem no topo de minha cabeça em forma dracônica, então, escuto uma canção, como um chamado.

Fiquei sentada em minha cama improvisada, tentando distinguir se eu ainda estava sonhando ou se alguém realmente cantava. Tomo coragem e me levanto, indo até a tenda de Soluço e Banguela, que fica de frente a minha.

— Soluço. — O chamo, olhando em volta na busca de Banguela. Pelos deuses, é um dragão, não devia ser tão difícil encontrá-lo — Soluço! — Ando até ele, o chacoalhando. Ele estava no chão, provavelmente caiu do baú/cama.

— Uhn? Para, ainda está muito cedo. — Ele pediu.

— Soluço Horrendous Haddock III! — O chamo pelo nome completo, pegando o livro em seu rosto e o batendo na sua barriga. Ele resmungou, mas se sentou.

— O que foi? — Perguntou, passando uma das mãos nos olhos e a outra no cabelo.

— O Banguela sumiu. — Revelo, o puxando para fora da tenda.

Corremos para dentro da floresta. Soluço me seguia já que eu era a única com o olfato aguçado. O garoto ia dar de cara com com uma parede de folhas caídas que as árvores fizeram, mas para a sua sorte eu o paro.

Puxamos as folhas ao mesmo tempo, como se abríssemos as cortinas para saborear um novo dia.

Chegamos a tempo de ver Banguela cair de uma pequena rampa de areia. Depois da floresta vinha um lago, onde o dragão já havia se recomposto. A sua frente estava a Fúria da Luz que parecia se preparar para algo.

Eu e Soluço nos deitamos no chão e nos esgueiramos pela grama até que pudéssemos observá-los claramente.

A Fúria da Luz empurrou uma parte da areia com suas asas e se levantou, trotando em um giro, depois grunhiu enquanto voltou a se sentar.

— Sua vez. — Ela disse.

Banguela olhou para o nós, pedindo ajuda.

Soluço ficou de joelhos e bateu os braços, simulando asas.

Banguela olhou para a dragão e bateu as asas devagar, para que não agitasse a areia. Ele deu um sorriso.

A Fúria da Luz apenas o olhou e depois lambeu o próprio ombro, como se ainda esperasse que ele fizesse sua parte da "dança".

O Fúria da Noite olhou novamente para Soluço. O homem voltou a simular asas com seus braços, os balançando enquanto se levantava em um sapateado estranho. Nisso ele acabou pisando em graveto seco, causando barulho e chamando a atenção da dragão. Eu o puxo para baixo.

— O que está fazendo? — Pergunto, me segurando para não gritar.

— Uma dança do acasalamento! — Respondeu.

— Então trabalha nessa dança porque não está sensual o bastante!

— São seus amigos? — A Fúria da Luz perguntou a ele, que apenas sorriu, nervoso.

— Talvez.

Banguela começou a bater as asas, dessa vez mais rápido e agitando a areia. Ele começou a rodar sem controle até a Fúria da Luz, que se protegeu de uma parte da areia com a sua asa. Depois de alguns segundos ela retirou a asa da frente, revelando um rosto coberto por areia. A dragão espirrou, depois, lambendo o focinho.

O Fúria da Noite olhou para o garoto ao meu lado, esperando as instruções.

Soluço fechou o punho e esticou o dedão, sinalizando um "legal", depois, balançou os indicadores como em uma roda e se levantou posicionando suas mão abaixo das axilas, imitando as asas de uma galinha e trotando a minha volta.

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