30. Uma Fuga Nada Convencional

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Willorck não ficava muito longe. Sério, era tipo minutos de distância.

Quando eu pouso na ilha começo a ter flashbacks. Estava tudo diferente, estava tudo... Morto. As casas agora tinham um aspecto triste, frio. Não havia mais ninguém nas ruas, estavam vazias. As paredes das casas tinham buracos, madeiras faltando.

Ergo meu queixo e começo a andar pela aldeia. Parecia ter chovido recentemente, pois as ruas de barro estavam lamacentas.

— "Bom dia, pais" — Começo a treinar — ah, não... "Oi pais, lembram de mim?" — Bato minha mão na testa.

Eu tropeço em algo. Olho para baixo e me deparo com uma pelúcia, minha pelúcia. Era um lobo, ou pelo menos era para ser.

Meus olhos deslizam para o poço no centro do vilarejo, que agora estava quebrada, mas eu ainda lembrava dela inteira.

Flashback On

Eu estava correndo até o poço, onde um grupo de crianças brincavam com seus bonecos.

— Gente, olhem só o que eu ganhei! — Mostro o lobo de pelúcia. As crianças se assustaram pela minha furtividade, mas logo elogiaram o brinquedo — Foi a mamãe que fez, o nome dele é Peludinho.

Flashback Off

— Peludinho. — Eu solto uma risada baixa. Ele estava todo ensopado e sujo. O deixo em cima da antiga fonte e continuo meu caminho.

Minha casa era a única que parecia minimamente intacta, o que me deu esperanças, talvez meus pais tenham a reconstruído.

Subo alguns degraus e respiro fundo antes de encarar a porta. Levanto minha mão para tocá-la, quando noto que nem trancada estava, apenas encostada. Empurro-a levemente, o suficiente para que eu colocasse minha cabeça do lado de dentro.

Estava tudo igual, exceto pelo cheiro de podridão. Havia comida estragada na mesa, e as madeiras, tanto do chão quanto das paredes, estavam com mofo.

— Alguém em casa? — Eu ainda tentei. Ninguém respondeu.

Eu empurrei a porta por completo, mas ela se chocou com algo no caminho. Olho atrás dela e me deparo com o corpo de um dragão, cheio de ferimentos e uma poça de sangue a sua volta, o cheiro vinha mais forte dele, me dando vontade de vomitar

— Relaxa, Thyri, é só um dragão morto, não significa que seus pais também estejam. — Meus olhos estavam marejados, acho que uma parte de mim já estava caindo na realidade.

A chuva começou e eu corri para a parte de trás da minha antiga casa, me deparando com um buraco no chão, ele estava coberto por terra mas era em um nível diferente. Era como se Grimmel tivesse marcado o lugar. Me transformo em dragão e começo a cavar desesperadamente. Isso não podia ser real, talvez eu estivesse em um pesadelo, talve-...

Meus pensamentos são interrompidos quando minhas garras tocam algo. Volto a minha forma humana e afasto a terra, me deparando com duas mãos entrelaçadas, inchadas, não parecia que tinham morrido a tanto tempo, talvez à poucos dias.

Retirei toda a terra de cima de onde estavam os rostos, reconhecendo-os como os de Blair e Kirk Scarth.

Nós da casa Scarth tínhamos um único lema, que jamais se alterou conforme as gerações: Nunca abandonávamos uns aos outros. Eu quebrei esse juramento quando fugi. Eu condenei os meus pais do instante em que acusei Jadis.

Minhas mãos estavam transbordando em vermelho.

Tudo era por minha causa.

— NÃO! — Eu gritei para os céus — QUE MERDA, NÃO! POR FAVOR!

As Aventuras De Thyri Onde histórias criam vida. Descubra agora