2. Aliado?

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Eu não entendo o porque de não estar conseguindo me transformar direito. Deve ser o cansaço, não durmo à um bom tempo. O sol já havia se erguido, e eu nem sei onde fica o Penhasco do Corvo.

Escuto um grunhido, não humano, e sim de um dragão. Rapidamente corro para a direção de onde veio e lá o encontro. O pobre Fúria da Noite preso pelas cordas da boleadeira e desmaiado. Ele deixou um rastro de destruição por onde caiu.

— Ei, grandão — Eu passo minha mão do pescoço até a barriga do dragão, vendo se ele ainda respira —, Vai ficar tudo bem, aguenta aí.

Eu pego nas cordas e tento puxá-las, não tenho nada cortante então dificulta o meu trabalho. Eu podeira cortar com as minhas garras se eu conseguisse me transformar.

Procuro no chão alguma pedra afiada. Meu pé me incomodava muito, e a dor me impedia de pensar direito, mas não me impediu de achar a pequena pedra. Seguro a corda e começo a passar a pedra rapidamente pela mesma, mas ao invés de cortar o que prende o dragão, cortou a minha mão.

Eu devo ter sido amaldiçoada com o azar além do dragão no meu corpo.

— ARGH! — Eu seguro minha própria mão, grunhindo de dor — Segura aí, grandão, eu vou achar algo para te soltar... — Escuto alguém se aproximar.

Sem pensar, meu corpo se mexeu involuntariamente. As asas se abriram nas minhas cistas e eu voei até me pendurar num galho firme. Não demoro até localizar o intruso - o magricela.

— Ah, os deuses me odeiam! — Ele praguejou, fechando o livro em que rabiscava — Tem gente que perde a faca, tem gente que perde o escudo, e eu? Eu consigo perder um dragão inteiro. — Ele bate em um pequeno galho, que acaba voltando batendo com tudo no rosto do garoto — AI!

Os olhos dele param numa árvore quebrada, seguindo pela terra que está marcada por algo imenso que foi caindo montanha abaixo. Ele se esgueirou pelo caminho de destruição, e levantou a cabeça rapidamente, vendo o dragão preso pelas cordas.

Eu pulo pelos galhos voltando a árvore mais próxima do dragão, me preparando para lutar.

Soluço se levantou, apalpando a roupa, procurando seu punhal. Ele foi até o dragão, desacreditado.

— Olha só, e-eu consegui! — Ele começou a comemorar — Oh, eu consegui! Isso vai limpar a minha barra! É, eu derrubei essa fera poderosa.

Soluço colocou o pé em cima do dragão, que grunhiu e o chutou. O magricela foi para trás, com medo, e ergueu o punhal, novamente se aproximando. O dragão abriu os olhos, se preparando para morrer. Eu ia saltar em cima do garoto, mas meu pé fraturado estava preso nos galhos, eu tentava sair desesperadamente.

Que azar! Eu repetia na minha mente.

— Agora eu vou te matar — Ele apontou o punhal para o coração da fera —, Depois, eu vou arrancar o seu coração e vou levar para o meu pai. — Ele respirou fundo — Eu sou um viking. EU SOU UM VIKING!

O Fúria da Noite fechou os olhos, agora pronto para a morte. Minha voz falhara, eu não pude gritar, mas permiti que uma lágrima solitária caísse, enquanto eu esperava pelo pior.

O garoto descansou os braços na própria cabeça, soltando um suspiro cansado. Ele deu as costas por poucos segundos, até voltar e começar a cortar as cordas.

— O que... — Deixei escapar em um suspiro aliviado.

Eu enxuguei o caminho que minha única lágrima fez e então voltei a soltar o meu pé. Curiosamente, eu caí no chão.

O dragão escuro como a noite, agora não mais preso, avançou no garoto, o prendendo contra uma rocha com a pata. Eles se encararam antes do dragão dar impulso com as patas e rugir para o magrelo. Me perguntei se ele não ficara surdo com aquilo. O Fúria da Noite olhou para mim com seus olhos verdes-amarelados e fez uma tentativa falha de voar.

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