Surpresa boa.~18

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      Já se passaram duas semanas desde a morte do meu pai e um mês desde que o Caio foi embora. Desde então, tento voltar a vida real, procurar um trabalho, parar de chorar e se desiludir da vida. Isso é difícil, é como subir sobre uma ladeira, é cansativo e me deixa com taquipneia, as vezes sinto ate vontade de usar os aparelhos de asmas da minha mãe.

     Sinto o cheiro do café na xícara e retorno a vida real, olho ao redor e vejo a bagunça que a Estela deixou na minha sala, ela resolveu vir morar comigo, além de economizarmos com as contas, eu não levaria mais sustos todas as vezes que encontrasse minha porta aberta.

- Oi gata! - grita Estela ao entrar em casa de mãos dadas com o Luís.

Em relação ao Luís, ele é a única pessoa que não me conhece desde sempre, que acredita em mim. Diz ele que tudo que vem da Augusta, tem de suspeitar. E eu só queria que o Caio ouvisse seu melhor amigo. Ele me abraça e leva minha xícara com sigo já bebendo, só podia ser o namorado da Estela - ainda ficantes- eles se parecem tanto que é mais fácil eles serem irmãos ao invés de eu e o Caio.

       O Luís não sabe sobre nossas descobertas sobre a Augusta, nem vai ficar sabendo, ele pode contar ao Caio que obviamente não sabe sobre nada e pode ficar desesperado com isso. E, pensando bem, a Augusta seria capaz de qualquer coisa se soubesse sobre a descoberta do Caio sobre seus podres. Então ficamos caladas.

- Oi, onde vocês estavam?

- Fomos comprar algumas comidas para o almoço. - ela diz enquanto guarda as compras, e Luís fica sentado tomando o meu café com bolachas.

- Tem muito açúcar nisso. - ele reclama.

- Por que você não faz seu próprio café?!

     Ele ri e me puxa para um abraço. - Porque já ter em mãos tudo feito é melhor. Você esta melhor?

- Ainda tentando ficar em pé na prancha.

- Odeio quando a Mellanie usa metáforas. - diz Estela revirando os olhos. Reviro os olhos para ela também.

- Você anda falando com o Caio?
Pergunto.

- Sim, a gente sempre se fala.

- E ele pergunta por mim?

  Luís olha para a Estela e os dois parecem estar em uma conversa só com os olhares, estalo os dedos na sua cara tentando acorda- lo.

- Não, sinto muito.

    Concordo e digo que entendo. Mas na verdade não entendo, por que que ele não pergunta sobre mim? Porque sou seu passado de um mês que roubou sua mãe, porque sou a pessoa que ele dizia gostar. Agora não sou nada.

- Eu acho que vou sair. - digo. Estela vira bruscamente, desde que apanhei da Augusta em uma esquina aqui perto de casa, a Estela acha que eu devo ser supervisionada 24h por dia.

- Sozinha?! - ela grita.

- Para de gritar! - eu grito de volta.

- Não me mande parar de gritar gritando comigo. - ela grita mais uma vez.

- Que estresse é esse de vocês duas? - pergunta Luis nos repreendendo com o olhar.

     Mas é que tudo vira um estresse agora entre nós, morar junta não é o problema, é só que tudo que me aconteceu faz a Estela achar que é minha mãe. Eu gosto do seu cuidado, mas tudo em excesso irrita.

- Nada. - a gente diz junta.

- Só vou andar por ai, e vocês vão poder ficar sozinhos. - ela sorri e me abraça.

      Pego meu casaco no quarto e quando volto pra sala, lá esta eles aos beijos. Reviro os olhos e saio.

***

     As vezes me sinto andando em uma corda bamba. Em um ano minha vida desceu um degrau na escada da vida e, depois de horas caminhando, cheguei exatamente no lugar onde começou tudo. O restaurante da minha mãe. Sentei em um banco da praça em frente ao local e toda historia daquele lugar veio na minha mente.

       Este lugar foi uma realização de um sonho, o da minha mãe. E foi tomada a força pelo meu pai e seu egoísmo. Foi por isso que eu rejeitei tanto ele, ele fez uma atitude errada e por consequência levou rejeição de todos, mal sabia eu que ele também sofria pela rejeição.

     Portas lacradas, jardinagem crescida e teias de aranha nas paredes. Tudo diferente, mas ao mesmo tempo igual.

- Mellanie, você por aqui?! Eu queria mesmo falar com você.

   Procuro a voz que me chama e vejo Flávia sentada em outro banco um pouco longe de onde estou. Ela caminha em minha direção e se senta ao meu lado, me abraça e sorri.

- Oi, Flávia. Nossa que coincidência.

- Nem me diga, eu estava prestes a ligar para você, precisava falar com você. Preciso na verdade.

- Nossa, mas o que seria?

    Ela pega na minha e sorri.

- Quando olho para você lembro do Herval, é bom. - ela diz sorrindo. - Ele me contou muito sobre você, quando era criança, e em como te evitava..

  Ela abaixa os olhos.

- E me contou como tirou o restaurante da sua mãe e em como se arrependia.

- Ele se arrependeu? - pergunto surpresa.

- Sim. Ele chorava só de pensar, Mellanie. Ele mudou e seu único desejo era que você o perdoasse. Por isso que fico feliz que tenha ido falar com ele em um momento ruim para ele, e que ele tenha conseguido te contar toda historia. Ele morreu com a consciência livre.

- E por que ele nunca procurou minha mãe?

- Ele tinha vergonha do que fez, da pessoa que foi, achava que vocês não iria querer falar com ele. Mas antes de morrer, horas antes la no hospital mesmo, ele lembrou desse restaurante, e me fez prometer colocar no seu nome.

- O que? Ele disse isso?

- Sim. E é isso que farei, você merece depois de tudo que passou, sempre foi seu e voltará para suas mãos.

    Eu não consigo fechar minha boca de tão surpresa que estou. Sorrio para ela chorando e ela me abraça.

- Parece que o destino nos juntou para que eu te contasse hoje. - ela diz.

- Foi Deus.

***
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Beijos e até o proximo capítulo.

Willyane_silva.

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