Ele se foi..~15

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       Pegamos um táxi e fomos direto para o aeroporto, eu sei, é inútil eu ir, não vai acontecer uma daquelas cenas de Hollywood em que os mocinhos se reconciliam no aeroporto, como a Estela me disse, o Caio não quer me ver nem pintado de ouro. Depois de tudo que passei, também não posso arriscar cutucar a bruxa com vassoura sem poderes. Eu tenho que ficar quieta. E isso me faz ser uma inútil, me pergunto a todo momento se estou fazendo o certo, mas, só de lembrar que tudo que passei foi porque a Augusta consegue fazer tudo o que quer, minha vontade é desistir. E pode me chamar de covarde.

     O plano é procurar ele o mais 007 possível para que ele não nos veja aqui, e ficar olhando de longe. Eu sei, isso é ridículo, mas experimenta perder o amor da sua vida e não poder nem se despedir dele. Rodamos o aeroporto inteiro e depois de 15 minutos o achamos no andar de baixo sentado com o Luís em uma mesa tomando café.

- Olha lá o Luís. - aponta a Estela.

- Estela! Nós não viemos ver o Luis. Foco, por favor.

      Ela faz cara de triste e se senta em mesa igual a que eles estão, acompanho.

- Você devia ir la.

- Fazer o quê? Ouvir ele me mandar ir embora só pode.

- E vai ficar por isso mesmo? Ele vai embora, você fica imersa as ameaças da Augusta, e pronto.

- E pronto. Infelizmente vai ficar por isso mesmo.

     Enchugo uma lágrima que cai dos meus olhos e a Estela pega na minha mão.

- Você viu como o Luís fica bonito de azul?

    Meu Deus. Começamos a rir. Rimos tanto que as pessoas ao nosso redor não parava de nos olhar, parei com medo que o Caio nos escute la de baixo.

- Me conta como vai esse caminho de cores com o Luís.

   Ela sorri e me conta em detalhes como foi a primeira conversa dos dois sozinhos, como ela se sente ela mesma perto dele e em como são parecidos. Durante sua tagarelação, me lembrei de uma noite na mansão em que não tinha ninguém em casa.

°°
- A Clara me disse que sonha com nosso casamento. - ele disse sentando a minha frente na mesa.

- E você, sonha? - perguntei enquanto escrevia na lista de supermercado.

- Gostei da sua letra. - encaro ele - Não. Isso é errado?

- Claro que não, você é homem, homens não pensam em casamentos, em buquês, nem mesmo na na valsa dos noivos.

- Quem disse?! Eu penso sim na valsa. - ele sorri e levanta indo direto para o rádio pequeno de Líbia, a empregada. Sincroniza em uma rádio de música clássica que por incrível que parece estava passando uma valsa. Ele sorriu ainda mais.

- Você não vai fazer isso.

     Ele se aproxima delicadamente e conforme a música me convida para uma valsa.

- Estou sendo obrigada?!

- Ou isso, ou será despedida.

     Ele dançou comigo, rodopeou, pisou no meu pé, deitou no meu ombro e, naquela noite, eu estava perdidamente apaixonada por ele.

°°
     Olho para baixo e lá esta ele ainda, conversa com o Luís, mexe com os pés nervosamente e roe as unhas cotó. Isso me fez lembrar o dia em que a mãe o obrigou que ele pedisse Clara em casamento, ele estava sentado na beira da piscina, os pés balançava as águas, e roendo as unhas loucamente, era tardezinha, o sol se ia devagar e era minhas meia hora de folga antes do jantar. Cheguei perto dele e sentei ao seu lado.

- Eu iria te empurrar na piscina, mas fiquei com pena desse seu momento criança roendo as unhas. - eu disse. Ele tirou os dedos da boca e me encarou sorrindo sem os dentes.

- A Augusta me pediu que eu pedisse a Clara em casamento. - ele disse aflito e mostra a caixa de veludo com um anel lindo dentro.

      Ele costumava chamar a mãe pelo nome quando estava com raiva dela e lembrava de como era tratado por ela.

- E isso não é bom? - tento anima-lo.

- Você sabe que não. Só de ouvir, foi a Augusta que pediu que eu fizesse isso, não fui eu que tive a atitude.

- Eu entendi. Mas acho que não deve ficar preocupado com isso, a Clara é linda, gentil, responsável e te ama. Por que não podem ser felizes juntos? Pense direito antes de fazer, é claro, se não se sentir preparado, não peça.

      Ele sorri e põe os braços em volta de mim, a cabeça sobre a minha e, se fosse em outros momentos, eu pediria para que ele parasse de me abraçar, mas, naquela época, só faltava nos abraçarmos todas as vezes que nos viamos.

- Eu acho que vou pedir você em casamento. - ele diz e nós rimos.

°°

     Eu queria muito que ele me pedisse em casamento, mas ele vai embora e nunca mais vamos nos ver porque para ele eu sou uma ladra.

°°

  - Vira o rosto para a esquerda. - ele pede.

- Caio, por favor, você percebeu que estou trabalhando e não vou servir de modelo pra você?! - eu digo tentando me virar pra não ser capturada pela sua lente.

- Você não está trabalhando, está na sua casa fazendo alguma comida deliciosa para nós dois comermos.

- Exato. E você está me atrapalhando.

- Vira só um pouco.

     Me viro rapidamente e mostro a língua, só vejo o flash depois na minha cara.

- Você tirou uma foto minha! Quem te deu permissão?

- E preciso?! A namorada é minha e tiro foto dela quando quiser. - ele clica no botão e sai tirando diversas fotos minhas gritando, com a mão no rosto, com a panela na mão.

- Já que é assim, você é meu namorado e posso roubar um beijo seu a hora que eu quiser.

      Pulo em seu colo e, além dos beijos, os flashes são ativados tirando foto de tudo, até de nós dois se beijando.

°°

     O auto falante soa alto fazendo a Estela parar de falar e meus pensamentos cessar. Olho para baixo e vejo Caio se despedir de Luís, a Clara esta la agora, ela lhe da um abraço, ele põe a mochila nas costas antes de dar tchau para os amigos e ir. E eu fico, as lembranças foram como um abraço. Foi bom relembrar.

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