Revelação.~ 36

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                   CAPÍTULO 36

O barulho da torneira deixa meu cérebro hipnotizado, meu corpo está aqui, mas minha mente em outra situação, melhor, na situação.

Mais uma vez estou sentada na cadeira dura do escritório do delegado, esperando a autorização pra conversar com ela: Augusta.

Desde que recebi a ligação, fiquei um pouco pensativa, pensava muito e ao mesmo tempo nada. O Caio está ao meu lado, calado. Esculto a porta da sala abrir, e uma mulher alta e séria aparece, ela acente e logo percebo que a autorização foi dada.

Entramos em um corredor com várias portas, em uma delas a mulher nos manda entrar. A sala é escura e há uma mesa no centro dela, com três cadeiras, a Augusta está em uma delas. Ao contrário das vezes que a vi, ela está diferente. Sem maquiagem. Sem as roupas de grife. Sem os colares de pérolas. Ela está uma Augusta que me assusta. As roupas cinza de presidiária e os chinelos me faz parar na entrada e observar o seu semblante de cansada, na verdade ela não está cansada, é apenas a falta de uma base e um lápis de olho. Pensei que minha reação iria ser diferente, pensei que sentiria aquele prazer de dever comprido. Aquela sençasão de que ela pagaria por tudo que fez e nos deixaria em paz. Sento a sua frente junto com o Caio, ela não pisca. Não se mexe. Nem levanta os olhos. Sua superioridade não existe mais.

A sala não é totalmente privada para o acesso de outras pessoas, há um vidro escuro na parede da direita, dentro dele está o delegado e polícias, nós não o vimos, mas eles nos vê. A Augusta é inteligente, deve ter percebido, mas mesmo assim ela só iria contar o que queremos ouvir se só estivesse eu e o Caio. Sem polícias interrompendo.

- Então...Augusta, pode falar. - diz o Caio.

Ela levanta os olhos vermelhos e nos encara, levanta o nariz, e se ajeita na cadeira. O delegado conseguiu o depoimento do capanga da Augusta, e provas, fotos que comprovou que ela estava metida no acidente do meu pai. O cara foi preso, e a dissimulada da Augusta confessou o crime depois de não nos deixar dúvidas de que ela estava metida.

- Vocês conseguiram o que queriam, satisfeitos? - ela pergunta.

- Não é só isso que queremos, e você sabe muito bem. - ele responde.

- Eu não entendo você, Caio, não consigo acreditar que se esqueceu de tudo que fiz por você. De tudo que passamos juntos, do amor que sentia por mim, eu posso ter escondido coisas de você, posso ter mentido, mas eu continuo sendo sua mãe.

Pude perceber a voz trêmula dela, os olhos cheios de lágrimas que não chegou a sair porque ela com certeza não daria o gosto de nos mostrar sua tristeza. Não sei, eu não deveria, mas sinto pena dela, sinto uma vontade imensa de abraça-la, eu sei, há poucos dias eu avancei em cima dela, mas agora parece que tudo mudou.

- O amor que eu sentia por você virou nojo, raiva, não se faça de vítima, porque você não é, essa foi sua escolha. Você escolheu passar por cima das pessoas, escolheu mentir, a culpa não é minha.

- Se você, Mellanie, não tivesse aparecido na minha casa, nada disso teria acontecido. Eu não teria te conhecido, e o meu filho continuaria sendo ele mesmo.

- Desculpa se a verdade veio a tona. - digo - Acho que eu que deveria ter dito isso, te conhecer foi a pior coisa que me aconteceu.

- Você é outra ingrata. - ela diz.

- Por que não começa logo com o que interessa?

- De que parte começo? - pergunta sarcástica.

- Do começo, Augusta. Comece! - afirma o Caio.

- Por que vocês acham que vou dizer a verdade?

- Merda, Augusta! Conta logo essa porcaria!  - Eu grito, e isso faz a porta abrir e um policial aparecer, ele pergunta se esta tudo bem e respondemos que sim.

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