A recuperação

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Ele sabia que algo sério aconteceu para que Naruto o evitasse pela manhã. E agora Sasuke estava ali, sozinho, não completamente sozinho porque a médica chegou cedo ao seu quarto com novas perguntas e exames.

A médica não deu muita informação sobre o paradeiro de seu marido, e muito menos Sasuke perguntaria uma segunda vez. Shizune aparentava ser uma pessoa boa e trabalhar com seriedade. Os exames foram realizados todos no quarto, ela mediu sua pressão e fez anotações importantes sobre vários dados que Naruto não soube responder anteriormente.

— Você tem alergia a alguma coisa? — Ela perguntou, olhando para o bloco de papel em suas mãos.

— Não que eu saiba. — Sasuke respondeu, pensativo. Ele não se recordava muito bem, mas havia uma lembrança antiga que o fez questionar a resposta. — Quando eu era criança, eu cuidava de uma raposa na floresta. Um dia estava nevando muito e eu a levei para dentro de casa. Só que eu não podia esconder a raposa no meu quarto, porque meu irmão estava lá. Então eu a escondi na estufa de plantas da minha família. Lá dentro era bem quente e a raposa se encolheu entre algumas flores. — Sasuke se esforçou para retomar o pensamento, mas não se recordava de tudo o que aconteceu naquela época em que ele deveria ter seis anos. — Provavelmente eu também dormi nessa estufa e a única coisa que eu me lembro é de ficar de cama por algum tempo e minha pele coçar. Eu não sei se isso seria uma reação alérgica. Nunca mais aconteceu.

Shizune escrevia a todo momento enquanto ele falava, quando terminou, ela ergueu a cabeça e o olhou com dúvidas.

— Você mexeu em alguma planta? Comeu alguma delas?

— Não me lembro. — Sasuke suspirou, já cansado da longa consulta. Ela se desculpou por ser tão incisiva no assunto, mas precisava de mais informações para que não cometesse nenhum engano. — O que exatamente eu tenho?

Shizune não titubeou na hora de falar sobre sua condição. Mesmo assim, ela foi bastante delicada ao explicar.

— Eu coletei uma amostra de sangue ontem, mas esse tipo de avaliação demora muito tempo para ser analisado. Talvez umas duas ou três semanas. Mesmo assim, os sintomas apresentados são muito comuns em pacientes que não desenvolveram seu sistema reprodutor. — Ela esticou o braço e segurou a mão de Sasuke para tranquilizá-lo. — Mas eu descartei essa possibilidade, pois é uma tradição antiga que, antes do casamento, a família do noivo ômega ofereça aos pais do noivo alfa uma garantia de que o filho é saudável. Hoje, pela manhã, Kushina e Minato me mostraram esse documento.

Sasuke abaixou a cabeça, os olhos se mantiveram fechados e a respiração presa na garganta. Antes de oficializar o noivado com Naruto, ele havia passado por alguns exames. Madara aguardou ansiosamente os resultados do médico que o examinou e, após isso, o casamento foi confirmado. A tradição ao qual Shizune falou, fazia parte de um conjunto de outras tradições que Sasuke não fazia questão de comemorar. Ele sempre achou cruel, principalmente porque eram tradições como aquela que inferiorizava as pessoas ômegas que não nasciam fisicamente aptos para a gestação, ou aqueles que simplesmente não queriam.

— Eu sei que esse é um assunto delicado. — Ela continuou. — Mas a sua saúde é mais importante.

— A minha vida vale alguns contratos assinados. — Sasuke falou sem pensar, um desabafo mental que saiu de sua boca e que não chocou a médica. Ela começou um discurso sobre a importância da vida de todas as pessoas.

Sasuke apenas revirou os olhos, aquele discurso não mudaria a cabeça de algumas famílias que não pensariam duas vezes antes de usar pessoas nascidas ômegas como moeda de troca.

Talvez seu tio estivesse certo, ele havia tido sorte com Naruto. É claro que sua sorte não mudava também o azar de outras pessoas. Sasuke ouviu Shizune insinuar sobre o uso inadequado de plantas perigosas para a contracepção e ele entendeu onde ela queria chegar.

Alvorecer da primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora