A decisão

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A primeira vez que os olhos de Sasuke pousaram sobre os intensos olhos azuis de Naruto, ele sabia que aquele era seu noivo. Mesmo assim, foi grosseiro propositalmente em confundi-lo com um empregado e pedindo para ele tomar conta de suas malas. Havia passado três meses desde aquele encontro e Sasuke não saberia explicar como seus sentimentos se tornaram fortes nas últimas semanas.

Suas expectativas com o casamento eram baixas, quase nulas, entretanto, o Uzumaki provou que aquela união poderia ser proveitosa e até mesmo divertida. Infelizmente, não poderia dizer que todos os ômegas desfrutavam dessas mesmas experiências. As histórias de vida de outros ômegas eram revoltantes e sempre causou em Sasuke uma repulsa muito grande pela discriminação e a clara divisão das castas. Muito se falava sobre a forma com que a sociedade poderia ser unida, com todos os alfas, betas e ômegas completando-se como um quebra cabeça, encaixados de forma precisa nas engrenagens da sociedade para fazê-la mover como um corpo só.

Entretanto, na prática, esse discurso se mostrava sempre muito autoritário e cheia de intolerância. As antigas tradições não eram quebradas em prol do desenvolvimento e da eliminação de estereótipos que cada casta era rotulada.

Sasuke via seu Clã amargar em meio as leis e regras antiquadas que insistiam em afundar. De qualquer forma, ele tentava entender o lado de sua mãe e de Madara, que precisavam da proteção dos grandes Clãs e os países. E, muitas vezes, seguir leis perversas, nem sempre eram porque acreditava-se nelas. Mas, sim, uma forma de sobrevivência em grupo.

Sasuke sentia que havia amadurecido muito naquela primavera. As reuniões que presenciou, ao lado de Naruto, o fez entender melhor como as lideranças políticas travavam uma guerra em forma de discursos onde escondiam seus preconceitos em suas tradições milenares. A cada reunião, Sasuke entendia um pouco melhor as decisões de Madara. E não poderia negar que ele havia de fato buscado aliar-se ao país do Redemoinho, sabendo da índole dos pais de Naruto.

De qualquer forma, Sasuke ainda era jovem e cheio de anseios e medos que o impedia de se abrir completamente sobre seus medos e anseios. A primeira vez que se revoltou contra as decisões da família, foi quando pressionou Madara a procurar Itachi. Ele já havia procurado de outras formas para tornar ilegal aquele casamento, e a melhor solução que buscou foi a concepção de uma nova vida.

Os antigos, aqueles que viveram há cerca de mil anos, ergueram uma sociedade após as catástrofes naturais ao qual quase levou os humanos a extinção. A partir daí, tudo o que existia antes foi perdido, criando pequenos grupos de sobreviventes, que foram denominados em seguida como os Clãs.

Sasuke estudou tudo o que havia disponível sobre os antigos e suas leis. Muitas delas eram criadas para que esses grupos se reunissem e aumentassem o seu número de membros e, em consequência disso, mais domínio sobre terras, e mais poder de decisão. Entender a origem e as leis que regravam aqueles tempos, era essencial para compreender o mundo em que ele vivia. E com o passar do tempo, tais leis já não faziam mais sentido. Os humanos dominaram a Terra novamente, se fortaleceram nesse tempo e travavam guerras para obter mais poder.

E esse poder estava ligado à concepção da vida. Os antigos diziam que sempre havia um começo e um fim. Nada durava para sempre. Sasuke sempre achou essa uma frase boba e ingênua, simplesmente uma verdade crua. Entretanto, um novo ciclo se inicia com o nascimento de um primogênito, e dessa forma a vida renasce junto com os ideais daquela família.

Quebrar esse ciclo era a única coisa que estava ao alcance das mãos de Sasuke.

Assim que Sasuke narrou sua história, seus anseios e seus medos para Naruto, ele virou-se e olhou o marido sentado na cama. Não pode ver os olhos azuis intensos de antes, Naruto estava reflexivo de olhos fechados e as mãos sobre suas pernas apertavam o tecido de sua roupa.

Alvorecer da primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora