O Selo

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A mão quente de Naruto contrastava com a pele fria de Sasuke.

O Uchiha não conseguiu ter forças para desviar do contato, sequer conseguia raciocinar corretamente, estava concentrado em não demonstrar todas as emoções que sentia naquele momento. Os casamentos que presenciou ao longo dos anos pareciam todos muito tristes, um momento em que alguém perdia o brilho. A ideia de casar parecia sempre atrelada a passividade e fraqueza de uma das partes, e isso incomodava muito ele.

Ano após ano ele viu a mesma coisa acontecer, seja com homens ou mulheres. Quando soube que o irmão mais velho iria se casar, e com um homem poucos anos mais jovem que ele, Sasuke não acreditou. Ele correu para o quarto, querendo saber do próprio irmão se era verdade. Itachi apenas meneou a cabeça e respondeu que sim, ele se casaria com Uzumaki Naruto, do País do Redemoinho. A única coisa que Sasuke sabia desse país, era que ele era governado por uma mulher alfa, e seu marido. Ela já havia visitado o País do Fogo alguns anos atrás, quando Sasuke ainda era adolescente, mas não tiveram nenhum contato próximo.

Na época, Itachi o consolou, dizendo que era a coisa certa a se fazer. Depois, disse que o casamento não era algo tão terrível e que ele poderia visitá-lo quantas vezes quisesse em sua nova morada. Sasuke também não quis aceitar que o irmão fosse morar tão longe, eram dias de viagem. Não era como se pudesse vê-lo sempre que quisesse. A esperança de que ele não falava a verdade perdurou durante os dias, até o início do inverno. Em uma noite, sentiu o beijo fraternal de Itachi em sua testa, ouvindo-o dizer que tudo ficaria bem. E a partir daí tudo começou a desmoronar em sua vida.

Entretanto, seu casamento não trouxe a sensação de tristeza que ele sondava para o momento. Mas as mãos frias era um aviso de que não estava tudo bem.

O mestre entrou e Naruto se levantou, soltando a mão dele. Sasuke também se levantou.

— Foi uma cerimônia bonita. — O velho disse, abrindo o pergaminho em cima da mesa. — Mas esse momento também é importante. Durante muitos anos eu realizei uniões como as de vocês, também fiz o casamento do seu pai, Naruto.

— Sim, ele me contou. — Naruto olhou para Sasuke e piscou.

— Muito bem, durante todos esses anos, nunca desfiz um selo de união. Eu diria que é um dom prever quando o casal terá dificuldades, e para isso eu costumo dar meus conselhos antes deles se casarem. — O homem possuía uma longa barba e cabelos brancos, ele era baixo e muito magro, usava um quimono cerimonial branco e por cima uma capa marrom. Os olhos azuis pareciam cansados, por isso estreitava com dificuldade para ler o pergaminho.

— Algum problema, mestre? — Naruto perguntou e o homem demorou um pouco para responder, deixando Sasuke mais aflito e com uma ponta de esperança. Quem sabe ele estava vendo que aquela união não haveria futuro?

— Não, muito pelo contrário. — Ele ergueu a cabeça e mexeu na barba. — Fazia anos que não ouvia o silêncio durante uma cerimônia.

— O que isso quer dizer? — Sasuke desejou que ele acelerasse as respostas, sua ansiedade aumentava e ele não compreendia o que o silêncio significava. Havia até notado que o templo estava silencioso, apenas os sinos tocavam e a chama das velas crepitavam com leveza, mas não imaginava que isso fosse algum tipo de sinal. Ele sequer acreditava em sinais divinos. A natureza já era bastante selvagem para ele, não se permitiria ser também levado a questões religiosas.

— O silêncio traz a harmonia, iluminando o caminho a ser seguido. — Ele respondeu devagar, gesticulando com as mãos enrugadas. — Os portais foram abertos, vocês terão obstáculos como todos os casais, mas essa união foi abençoada pelo universo.

Sasuke não sabia como aquilo poderia piorar ainda mais. Agora o Universo os queria juntos? Ele estava prestes a rir daquelas baboseiras. Mas ao olhar para Naruto, viu como ele estava emotivo, esfregando a palma da mão no olho, ao secar uma lágrima.

Alvorecer da primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora