𝐈𝐈 | 𝟑𝟔. A FACE DO MAL

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Eu segurei o tranco

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Eu segurei o tranco. Mantive o controle. Porém, todos aqueles sentimentos não eram meus. Eles não eram reais. Eu enganava a mim mesmo. Desejei ter tido coragem para dizer mais, mas as emoções que percorriam meu corpo eram animalescas. Aquele lobo em meu interior queria me rasgar por dentro.

A dor que eu senti me tornava impotente, mas me mantinha em alerta.

Com Selena em meus braços e nossa filha aninhada em seu peito, ensanguentada e fraca, uma sensação estranha se manifestou em meu organismo. Ainda assim, sentia que tinha forças para enfrentar um tanque de guerra, caso fosse necessário. A dor não era física. Sentia-me forte como um animal. Mentalmente, eu estava exausto, derrotado e em busca de um lugar seguro para descansar a cabeça.

Eu sabia que precisava tirar aquela sensação ruim do peito.

A imprensa mexicana estava por perto. Foi desrespeitoso todas aquelas câmeras expondo Selena àquela situação ao mundo. Não disse nada, enquanto a caminho da ambulância próxima ao cais. Apenas me mexi, nos tirei dali, pensei demais sobre como ela se sentia em meus braços.

O sangue seco em seu corpo fedia a bicho morto. Temia que sua cabeça estivesse tão bagunçada quanto as roupas em seu corpo. Ela me viu como um porto seguro. Quando nos encontramos, permitiu-se cair no sono. Então, descansou em minha pele, sem remover as unhas da minha carne. Ela queria acreditar que estava em segurança.

Selena prestou os primeiros socorros no México, mas tão logo voltamos para os Estados Unidos, em Nova Iorque, onde encontramos nossos familiares à espera de notícias, já que os jornais haviam divulgado o hospital em que ela ficaria. Ninguém mantinha a discrição. E eu estava cansado demais para exigir qualquer porcaria das pessoas.

Não arredei o pé dali. Deitei a cabeça na cama do quarto, circundada pelos braços, e fechei os olhos, a fim de relaxar, mesmo sabendo que todos os músculos do meu corpo enviavam mensagens de alerta para o meu cérebro.

Sete minutos se passaram. E a voz de Marie expandiu-se pelo quarto do hospital.

Levantei a cabeça em um movimento extremamente rápido, à procura de Selena. Quando meus olhos inchados e doloridos encontraram-na sobre a cama, da mesma forma de quando a vira pela última vez, um suspiro de alívio cerrou de meus lábios. Assim, instantes depois, avistei mamãe parada ao lado da porta, fazendo menção de fechá-la.

- Christopher... - ela disse outra vez, como se temesse que eu fizesse alguma besteira para fugir daquela conversa. - Vá para casa.

- Vou ficar aqui. - engoli em seco, vendo-a acrescentar um olhar de pena. - Vou proteger a Selena. Não posso ir para casa. Não agora.

- Você vai. - captei um tom autoritário. Ela forçou uma carranca enquanto se aproximava. - Você não dorme há dias. Não tem comido nada desde que Selena desapareceu. E tudo bem, você precisava encontrá-la. Eu esperei pacientemente, pois sabia que você iria conseguir trazê-la de volta. Mas acabou. Quero que vá para casa, tome um banho, coma alguma coisa e tenha uma boa noite de sono. Há muitas pessoas aqui esperando e cuidando dela. Não vamos deixar que ninguém a machuque. Eu garanto.

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