36 HORAS DESDE O SEQUESTRO
O que quer que fosse as merdas que passavam pela cabeça de Mathias, eu estava disposto a ouvi-lo. Embora, talvez, ele ainda não soubesse como se sentir agora que via-se livre de uma cela norte-americana.
Eu o observei de longe, pensando sobre todas as questões que me levaram até aquele momento. Parte de mim lutava contra aquele sentimento animalesco que me corroía, a fim de rasgar-me por dentro. Ora lembrava-me de como as coisas estavam nos eixos antes da minha vigem até a Flórida.
Jaime talvez tivesse razão. Eu não podia ter deixado a cidade. Eu já tinha esgotado a minha paciência em anos, tentava apenas manter a tolerância durante o dia e passar por momentos inconsequentes e inadequados pela noite. Eram sensações ininterruptas e que agora eu precisava enfrentar, mesmo de cabeça quente.
Mathias atravessou a rua, livrando-se dos policias que, imediatamente, se afastaram, voltando para a penitenciaria de Nova Iorque.
Segurava uma única bagagem de mão, o rosto varrido por uma expressão de surpresa, medo e apresso. Embora via-se liberto de algemas, ainda parecia preso aos momentos constantes que vivera naquela cela. Em todos os anos contrabandeado drogas, aquela havia sido a primeira vez que fora preso. Cumpriria uma sentença de quarenta anos. Aparentemente, havia se acostumado com a ideia de que, possivelmente, morreria na cadeia e nunca mais voltaria a ver sua única filha.
- V-você... - gaguejou o venezuelano, após atravessar a rua ao avistar meu Cadillac vermelho.
- Sou um homem de palavra, Mathias. - argumentei, enquanto puxava do banco do motorista uma pequena maleta de couro preto. - Tínhamos um acordo. Agora, estou cumprindo a minha parte.
Ele apanhou a maleta de minhas mãos, deixando a sua traficada no chão, sem receio. A noite parecia petrificada para nós dois. O silêncio tão selvagem quanto o que passava pela minha cabeça.
Mathias ficara aceso após seus olhos escuros vislumbrarem o que dentro da maleta existia. Assim, olhou-me com apreensão, mas nada disse, tampouco sabia no que pensar.
- Aconselho você a sair da cidade. No momento, não posso me dar ao luxo de me preocupar com a sua segurança.
O venezuelano fez que sim com a cabeça. Nosso encontro encerraria ali. Torcia para que não nos víssemos mais, por qualquer que fosse a razão. Aquela história bastaria um ponto final.
Entrando em consenso, pulei até o banco e bati forte a porta de carro, disparando com as mãos até o volante enquanto já podia sentir o acelerador sob meu pé. Exibia nos olhos aquele mesmo extinto endiabrado de antes, enquanto tentava manter no peito o lobo que tão logo tomaria conta de meu corpo, rasgando-me por dentro.
O departamento estava vazio. Este parecia uma cidade fantasma, com poucos policiais e vidas rondando os corredores. Uma enseada de pessoas saia em busca de Selena por Nova Iorque. Eu sabia até onde aquilo tudo os levaria, mas se fazia presente em mim o intuito de manter a discrição. Lembrava-me de não envolver muita gente nos meus assuntos, pois mais tarde precisaria resolvê-los como um problema constante.
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EGYPTIAN BLUE EYES
RomanceA habilidosa e imbatível Selena sempre se considerou uma mulher azarada. De grande personalidade, mas ainda assim azarada. Mesmo sendo a detetive que mais efetuou prisões no distrito 6-4 nos últimos dois anos, nunca se safou de ser terrivelmente pas...