34

6.1K 593 310
                                    

SARAH

Tinha acabado de sair de uma discussão séria com Bruno. Ele saiu de casa puto sei lá pra onde e eu fiquei na sala meio indignada com o rumo que uma conversa que era pra ser de reconciliação tinha se tornado. Tava triste pra caralho.

Dei umas choradas durante o banho, larguei meu celular em cima da cama, coloquei uma roupa de frio e fui andar de bike. Já eram quase oito horas da noite, mas não tava nem aí, precisava pensar.

Não dava pra acreditar nos argumentos que Bruno usava pra tratar da nossa situação. Me deixava completamente devastada ele cogitar a ideia de querer um papel mais importante na minha vida do que a minha filha, eu sabia que no fundo ele tinha noção de que está completamente errado, mas aí é um problema dele com ele.

Amei e amo o Bruno de todo meu coração, desde que fiquei com ele pela primeira vez sabia que ia dar em alguma coisa porque a gente se entendia e nunca imaginei estar nessa posição que estou agora.

É claro que a minha atenção vai ser redobrada na Sophia, mas nunca deixaria de ter meus momentos com ele, até mesmo porque ele é meu namorado e eu quero que essa relação se fortifique cada vez mais - ou queria - e estupidamente, eu tive esperança de que ele soubesse lidar com tudo, de que soubesse separar, mas não. E aí, tudo acabou e sinceramente, eu não correria atrás, já que ele tá com todo esse sentimento de que não vai dar certo, é melhor nem ele vir mais atrás de mim.

O apê de Pedro - antigo da Mari - era bem mais próximo do meu, então fui pedalando até lá, precisava de alguém como ele, que tá sempre do meu lado. Entrei com bike e deixei no espaço dele do estacionamento e antes de entrar no elevador limpei as lágrimas que tinham escorrido enquanto eu pensava em tudo, não queria chorar na frente de ninguém.

— Terminaram, né? — ele perguntou abrindo a porta.

Eu assenti.

— Mike, vai lá pro teu quarto brincar que o papai vai trocar uma ideia com a tia Sarah, ok? — ele se virou pro Mike que tava vendo tv.

— Ok dad! Oi tia! — e correu saltitando pro quarto.

— Como você sabia? — perguntei entrando no apê e largando o capacete que eu tava andando com a bike em umas caixas de mudança no chão.

— Sua cara inchada, você aparecendo aqui sem avisar...

— É, faz sentido. — ri fraco — Ele é um idiota Pedro, teu amigo é um idiota.

— Pera aí, vou na cozinha pegar um copo d'água pra tu. — ele avisou e eu esperei ele voltar — Qual foi do papo dessa vez que ele mandou?

— Adivinha? — disse bebericando minha água.

— Tua gravidez. — chutou e eu assenti — Caralho maluco, o Bruno tá viajando legal, não dá pra entender. Aposto que as meninas tão dando um puta de um esporro nele.

— Sendo bem honesta, quero que ele mantenha essa decisão, porque eu não quero ser fraca pra não terminar com ele de novo.

— Ué? — apertou o rosto confuso.

— Pedro, você acha certo eu ficar com o cara que vai ficar se sentindo inseguro toda vez que eu tratar de um assunto da minha filha com o pai dela? Ou pior, que vai se sentir mal toda vez que eu deixar de fazer algo com ele porque preciso cuidar dela? Não dá, ele tá certo, não vai funcionar. — balancei a cabeça negativamente.

— Certo em partes, porque ele podia parar de ser babaca e anular esses sentimentos, né não? — dei de ombros — Qual é, ele sabe que tu ama ele e o papel na tua vida é importante porra, vocês moram juntos, namoram há mó cota, daqui a pouco se casam e a Sophia vai ser quase filha dele também, não tem porque ele se sentir assim mano... tomar no cu.

— Você parece uma mulher dando conselhos, sabia? Eu amei! — ri e ele revirou os olhos.

— Já me disseram isso uma vez... em Porto, dei uns conselhos maneiros pra Karine sobre Luan e ela ficou surpresa. Porra, eu sou foda né mores! — ele fez voz afetada e deu um beijo no ombro tirando uma gargalhada de mim.

Já vi Pedro sendo babaca umas vezes, mas nunca foi nada demais, coisas que todo mundo um dia na vida comete. Mas eu batia palma pro homem que ele era na maioria das vezes, tudo bem que não é mais do que a obrigação dele, mas eu digo como pessoa mesmo, sempre foi amigo, nunca pisou no machucado de ninguém, nunca precisou passar por cima de ninguém pra se sentir melhor e nunca precisou reforçar a imagem de macho alfa como os homens normalmente fazem.

Na realidade, eu dei uma puta sorte com os homens que me rodeiam, eu e as meninas no caso, porque Pedro, João, Luan e Bruno podem sim ser escrotos algumas vezes, mas sempre estiveram do nosso lado, como amigos ou não, cuidando da gente, apoiando nas nossas escolhas e eu amava isso. Sempre amei essa parceria que eu jamais encontraria em outro lugar. Jamais!

— Posso ficar aqui até eu achar outro lugar pra ficar? Não posso ficar no estresse que é morar com minha irmã. — pedi em sinal de prece.

— Porra, não precisa nem pedir. Já viu o tamanho que é esse apartamento? — olhou em volta — Tô fazendo um quarto pro Mike aqui em baixo, você pode ficar no quarto ao lado. De boa?

— Claro, fico até na sala.

— Até parece! — ele negou — Vou desmarcar com Madalena que eu ia sair com ela pra filha dela e o Mike brincarem, e aí a gente pede uma pizza, jae?

— De jeito nenhum, Pedro. Vai pro teu rolê que eu fico aqui fazendo qualquer coisa, ou vou lá em casa buscar minhas coisas, sei lá.

— Nada disso, vou desmarcar. — falou pegando o celular.

— Tá, então faz assim! Chama ela pra cá, a gente pede pizza e fica tudo certo. — sugeri.

— Certeza? — me olhou.

— Sim sim, quero conhecer também! — estampei um sorriso no rosto.

Ele ficou me olhando com os olhos cerrados pra se certificar de que era aquilo mesmo que eu queria e eu só assentia com o sorriso ainda no rosto. De fato, eu não tava muito bem, mas precisava me acostumar a não ficar sofrendo.

Tinha deixado meu celular em casa, então facilitava pra eu não ficar mandando mensagem pra ninguém, não ficar vendo fotos, ou stalkeando, aí sim que eu iria sofrer se fizesse.

Madalena aceitou vir e fomos adiantando logo o pedido. Fiquei brincando com o Mike enquanto Pedro tomava banho e eu amava esse menino, era tão fofo que eu ficava logo animada pra Sophia nascer logo.

A pizza chegou antes da mina, mas não demorou muito pra ela aparecer também. Que garota simpática, um doce de pessoa, e a filha era a coisa mais linda do mundo. Sofroh!

— Jura que ele ficou com essa cara de boboca quando te conheceu? — perguntei depois dela me contar a situação da praia.

— Ah, não é pra tanto. Os moleques ficaram mais! — Pedro se defendeu, mas logo arregalou os olhos e olhou pra mim — O Luan no caso.

— Fala sério, Pê. Bruno deve ter babado também, ela é maravilhosa! — ri fraco.

— Enfim, ele mal conseguiu me responder de tanto que ficou olhando. Mas eu babei também, muito gato, né? — sussurrou pra mim.

— Mais ou menos. — impliquei.

Ficamos conversando e as crianças brincando no chão da sala, era muito engraçado o papo dos dois, de Mike e Giovana.

Madalena ficou me perguntando como tava sendo a gravidez e também era hilário o Pedro no meio dessa conversa. É perceptível que ele tá muito na da Mada, e eu acho que eles fariam um ótimo casal se isso se prolongasse, mas isso significaria que Malu e Pedro não teriam volta e eu prefiro não acreditar nisso.

Deixei os quatro na sala e fui pro quarto que eu ficaria hoje e pelo visto pelos próximos meses. Queria muito passar em casa pra pegar meu celular, mas minha cabeça tava explodindo, então decidi dormir pra amanhã lidar com os problemas.

Coincidências 2Onde histórias criam vida. Descubra agora