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— Oi Pedro! — disse com a voz mansa tentando ao máximo agir com naturalidade. Como se nada tivesse acontecido.

— Como você tá? — se aproximou.

— Tô indo, ansiosa pro casamento. E você? — olhei pro chão.

— Bem também, quer dizer, feliz por estar aqui. Tanto tempo, né!? — ele não parecia nervoso. Na verdade era como se nada tivesse acontecido mesmo.

— Sim. — assenti voltando a olhar pro pessoal.

Tive a leve impressão que ele ainda me olhava, e quando olhei de rabo de olho tive certeza. Meu corpo parecia que tinha acabado de sair de uma fogueira, era uma ansiedade sem tamanho.

Eles estavam tentando ligar pro Bruno que não atendia o diacho do telefone. Só faltava João chegar pra tudo acontecer e nada deles.

— Até que enfim porra, onde você tava? E cadê o João? — Karine perguntou desligando a chamada.

— Passei num centro próximo daqui pra tomar uma breja com ele que tava muito nervoso. Atrasei demais? — entortou o rosto.

— Não, imagina. — Sarah debochou — Agora cadê João pra começar tudo logo? Daqui a pouco a maluca da Josy vai surtar - era a cerimonialista.

— Foi só no banheiro, relaxa. — ele disse indo abraçar o Pedro.

MARIANA

Tinha acabado de pedir pra minha mãe e minha sogra me deixarem um pouco sozinha. Elas me asseguraram que Josy não ia vir me importunar antes que eu respirasse um pouco.

Parecia que minha saída estava naquele espelho onde eu não parava de olhar meu reflexo apoiada na penteadeira que tinha ali. Eu tinha certeza de que eu queria casar? Seria esse o momento certo? A pessoa certa? O dia certo? O vestido certo?

— Mariana!? — João entrou no quarto me acordando das paranóias.

Franzi as sobrancelhas. Ele se certificou de que havia trancando a porta e se virou pra mim.

— Nossa, você tá linda. — me olhou de cima a baixo com os olhos brilhando.

— Você não devia...

Ele me interrompeu. — Eu não ligo pra isso. Precisava te ver.

— Eu também! — dei um sorriso nervoso indo abraçar ele.

Ficamos um bom tempo no abraço, a ansiedade parecia cessar no calor dos nossos corpos se tocando. Era como um refúgio, algo que eu não encontraria naquele espelho.

— Eu não tenho certeza se quero fazer isso. — eu disse ao me afastar.

— Nem eu. Sentimento estranho, parece que nada tá certo. — ele disse me olhando com as sobrancelhas enrugadas.

— As pessoas dizem que tudo tá do jeito que queríamos, mas não é. Isso tudo é zero a nossa cara! — sentei na ponta da cama.

— Quer largar tudo? — perguntou parando na minha frente.

— Você quer? — olhei pra ele.

— Aí não sei Mariana, eu acho que tínhamos que tirar um tempo pra nós dois. — sentou ao meu lado.

— Separados, né!? — ele assentiu.

Ficamos um tempo encarando a parede na nossa frente. Não tinha muito o que dizer, aquela proposta de largar tudo era tão tentadora que eu estava disposta a fazê-la.

Eu amo o João, amo ele do fundo do meu coração, sei que é a pessoa certa pra mim, mas tudo tá tão esquisito. Nervosismo é normal nesse momento, mas o sentimento de horror que eu tô sentindo com certeza não é.

— Eu te amo, Mari. Não é tão ruim quanto parece.

— Que? — ri debochada — É ruim quanto parece sim, é péssimo João. — ele assentiu como se entendesse — E pior, eu também acho que temos que fazer isso, apesar de te amar muito, não é certo nos casarmos com esse sentimento. E agora, que que a gente faz?

— Falta pagar alguma coisa? — mexeu no bolso.

— Algumas, o resto é tudo publi.

Ele assentiu me entregando um dinheiro, coloquei em cima da penteadeira, desmanchei o penteado do meu cabelo e parei de frente pra ele.

— Vou colocar uma roupa qualquer, se eu sair daqui com esse vestido vai chamar muita atenção. — avisei começando a tirar.

— Caralho, nós somos muito loucos! — ele riu de nervoso.

— Maior vexame da minha vida, mas quero que se foda o que vão pensar. — coloquei o vestido em cima da cama já vestindo uma calça jeans e um blusão que eu tinha vindo — Vamos pra onde?

Ele pegou minha mão me puxando pra porta de fundos que tinha ali. Atravessamos a pousada toda até chegarmos no estacionamento, entramos no carro dele, ele me olhou pra se certificar que eu tinha certeza, só assenti e ele deu partida com o carro.

O caminho foi tomado pelo silêncio. Ás vezes soltávamos uma risadinha nervosa, mas nada que fizesse a gente falar. Era esquisito de todos os sentidos, largamos nosso casamento, terminamos, e estávamos juntos indo pra sei lá onde.

Chegamos em um bar rústico que tinha no centro. Ele acenou pro garçom que soltou um sorriso simpático pra ele, parecia conhecê-lo, e pediu duas cervejas.

— Não tem como a gente fugir pra sempre, quando a gente voltar eles vão matar a gente! — falei cortando o silêncio.

— Como você disse, que se foda. — ele riu.

Ficamos conversando sobre o que aconteceria depois dali. Ele disse que queria passar um tempo em Minas com a família, e eu queria só focar em trabalho. O apartamento que dividíamos ficaria só pra mim mesmo, mas dei passe livre pra ele chegar lá quando voltasse pro RJ. Talvez fôssemos melhores como amigos.

Não demorou muito pro nosso celular começar a tocar descontroladamente. Combinamos de só responder o nosso pessoal, e fugir dos nossos pais.

Mensagens

Grupo M&P
Beatriz: Não consigo acreditar que vocês fizeram isso. Vocês são loucos?
Karine: A vontade que eu tenho é de matar vocês. Mariana, se prepara, tua mãe vai ter matar por ter feito ela falar na frente de todo mundo que não ia ter mais casamento.
Bruno: kkkkkkkk vocês são doidos
Luan: kkkkkkkkkkkkkk seus fdp
Pedro: João que história é essa? Apareçam fdps
Sarah: Não da pra acreditar. Vocês tão rindo pq?
Malu: Bando de imbecil. Cadê vocês? @mariana @joão
Mariana: Gente, calma. Encontrem com a gente aqui no bar *endereço*
João: Não contem pra ninguém hein.
Lobão: Era de suspeitar João casando mesmo. Só faz merda.
Magalhães: puta que pariu
Mariana: Vem logo.
Karine: 🤦🏼‍♀️

Coincidências 2Onde histórias criam vida. Descubra agora