51

7K 713 304
                                    

MALU

Quando Karine recebeu o telefonema de Luan no meio da festa onde estávamos meu mundo caiu. Comecei a passar mal, ficar sem ar, todo mundo em minha volta e um completo desespero pairando sobre mim. Diria eu que o pior dia da minha vida.

Bruno sempre foi o meu melhor amigo, desde o início da minha vida, nós sempre fomos companheiros, sempre brincávamos muito, brigávamos também, mas nada demais. Lembro até hoje de quando sem querer brincando ele bateu com a cabeça na escada, um pouco por culpa minha, e eu me desesperei por ter o machucado, minha mãe levou ele pro hospital e quando tava tudo bem ele fez questão de falar mais de mil vezes que não tinha sido culpa minha e que ele me amava. Pra mim naquela época dizer que ama era suficiente pra exalar o perdão, então fiquei feliz e nunca mais me culpei por nada.

Tive sorte de ter conhecido homens maravilhosos, que eu admiro e que eu amo ter por perto, ele é um deles. Pude conversar e me abrir sobre toda minha vida pra ele, pude confiar que ele cuidaria de mim se algo de ruim acontecesse, é aquilo, meu melhor amigo, meu primo, minha família.

— Pai, por favor diz que é mentira. — pedi chorando no ombro dele.

Infelizmente a notícia foi que ele estava em coma e com poucas chances de voltar a vida. Não tinha mais o que fazer, eu só queria pegar na mão dele e pedir pelo amor de Deus pra ele voltar pra mim.

Estávamos quase todos no apartamento dele, o que fazia meu coração doer mais ainda. Eduarda estava deitada no colo da Sarah em prantos, Pedro andando pro lado e pro outro na sala, Luan e Karine na varanda e meu pai do meu lado no sofá.

— Quando a gente vai poder ir no hospital? — perguntei inquieta.

— Tô esperando sua mãe ligar, mesmo assim não dá pra ir todo mundo, por isso eles foram primeiro.

Quando tudo aconteceu as primeiras pessoas que foram pro hospital foi Luan, Pedro e Sarah. Eles que receberam a notícia e que nos avisaram, depois disso meus pais vieram pro RJ no mesmo instante. Agora minha mãe estava com tia Solange e tio Valter lá com ele e conversando com os médicos.

Ninguém concorda em desligar os aparelhos, as chances são poucas, mas ainda existe. Eles te explicam mais ou menos como funciona, se existe um prazo ou não. Eu não tinha nem cabeça pra ouvir isso.

— Meu Deus gente, como isso foi acontecer? — Mariana perguntou com o rosto vermelho assim que entrou pela porta acompanhada de João.

— Ele tava bêbado, Mariana. Achou que viu eu e Pedro juntos e saiu de lá correndo, dirigindo descontrolado. — Sarah explicou controlando as lágrimas.

Se ele viu certo eu não sei, só sei que nada disso me importava. Eu só queria ele bem, aqui com a gente, feliz, saudável e rindo.

— Caralho mane! — João disse dando um abraço no Pedro.

Cansados de esperar fomos todos pro hospital sem nem se preocupar com a quantidade de gente. Minha mãe nos encontrou na entrada e nos explicou que tinham alguns papéis que os meus tios tinham que assinar e que por isso a demora.

Eles estavam acabados. Minha tia inchada de tanto chorar e dava pra perceber pela forma como meu tio se portava o quão devastado ele estava. Eles deram um abraço forte na Eduarda e foram embora com meus pais pra podermos vê-lo no coma, não podia ter tanta gente.

— Vou desenrolar pra ver se dá pra entrar todos de uma vez, quero que façamos uma coisa. — falei.

Eles me olharam confusos, mas nem dei muita explicação. Conversei com uma mulher que entendeu bem o como era importante a nossa presença e autorizou nossa entrada.

Quando o vi deitado, naquela maca, respirando pelos aparelhos, com machucados pelo braço, no rosto, acabou comigo. Tentei ao máximo me manter firme, sem escândalo pra não apavorar quem estava mais apavorado ainda, como Eduarda.

As lágrimas só rolaram no meu rosto, tentei abraçar minha prima pra dar o mínimo de conforto pra ela, mas ela se soltou rápido e foi pra cima dele abraçando-o. Foi uma cena forte pra todos nós.

— Vamos rezar por ele! — pedi — Sei que não somos muito ligados nisso, mas o que ele mais precisa agora é da nossa fé.

— É importante. — Karine concordou.

Todos nós demos as mãos em volta dele e fechamos os olhos. Foi meio complicado pra começarmos direito, ninguém sabia ao certo como fazia, mas Mariana se pôs a falar tantas palavras bonitas e de crença, que no final fez eu me sentir até um pouco melhor.

— Posso ficar um pouco sozinha com ele, por favor? — Eduarda pediu respirando fundo.

— Claro, depois a gente entra. — Luan falou fazendo carinho no ombro dela.

— Estamos aqui, tá Dudinha? — Karine falou pra ela que assentiu — Matheus já vai chegar pra ficar com você, te amamos.

Ela assentiu fechando os olhos e apertando os lábios pra impedir que chorasse mais e nós saímos. Todos estávamos em estado de choque, não dava nem pra falar um com o outro, tanto que a única reação eram abraços, assim como João e Mariana e Luan e Karine.

Sarah estava ao meu lado chorando no abraço de Pedro também e eu não conseguia nem liberar lágrimas de tão em choque que eu tava, ainda mais depois de ver ele tão inativo assim. Sentei na poltrona e desabei em chorar.

— Tô com você! — Pedro sentou ao meu lado e segurou minha mão — Vai dar certo, ele vai sair dessa. — olhei pra ele assentindo freneticamente, queria acreditar que aquilo fosse uma verdade.

Ele me puxou pra um abraço e enquanto eu chorava em seu ombro ele acariciava minhas costas, me transmitindo conforto, só eu sei o quanto ele realmente me transmitia isso.

— Matheus já chegou? — perguntou Eduarda saindo do quarto. Negamos — Eu vou lá nos meus pais. — avisou cabisbaixa.

— Tá bom, Duda. Qualquer coisa me chama, eu vou entrar agora. — falei e ela assentiu saindo.

Pedi privacidade pro pessoal que entendeu perfeitamente, eu precisava de um momento sozinha com ele, pra falar mesmo que ele não fosse me ouvir.

Fechei a porta atrás de mim e fui em sua direção. Segurei sua mão com todo cuidado e choraminguei por uns segundos, era tão difícil...

— Só eu sei como é ruim não poder encarar seus dois olhos azuis que eu sempre invejei, que quando era criança eu gritava com minha mãe por ter sido injusto eu nascer com esses olhos sem graça. — disse com um sorriso fraco no rosto.

Só queria uma resposta, do jeito como ele era, rindo, me zoando, como eu amo esse meu primo.

— Só quero que você saiba que eu confio em você, que eu tenho fé que você vai conseguir sair dessa, você é forte e sempre foi. Eu te amo tanto meu primo. — dei uma fungada — Nunca vou me esquecer quando brincávamos lá na rua da casa dos meus pais ou quando você vinha me apresentar alguma garota que você estava ficando, era tão engraçado e eu tinha tanto ciúme, porque você sempre foi meu melhor amigo, meu primo que eu mais amo no mundo e quem eu sempre quis por perto, mesmo com nossas desavenças. Você é forte, Bruno, sai dessa, por favor! — me ajoelhei do lado da cama e chorei segurando forte sua mão. — Por favor!

Respirei fundo e me recompus, dei um beijo na testa dele e fechei os olhos pra fazer uma última oração antes deixar o resto entrar. Tava difícil pra acreditar em tudo.

Coincidências 2Onde histórias criam vida. Descubra agora