Capítulo Cinco

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Por Gabriela

Fiz a revisão da Monografia do Rafael e confirmo que realmente ele está travado para escrever.
Notei que alguns capítulos estão incompletos e não consigo visualizar uma coerência entre introdução, desenvolvimento e conclusão.

Anoto tudo que consegui perceber.

Também indiquei que as citações estão fora do contexto ou incompletas, sem dar sentido para o texto. Foram muitas correções.

No próprio TCC fui marcando de vermelho o que teria que alterar. Alguns eu corrigi, outros eu deixei uma sugestão.


Foram três dias debruçada sobre o trabalho do Rafael. Mas enfim consigo, na quarta-feira à tarde, enviar para o seu email. Espero que ele entenda tudo ou me procure para ajudá-lo a esclarecer.

No mesmo dia à noite, recebo uma mensagem do Rafael dizendo que iria olhar e qualquer dúvida me falaria, e que o mais provável seria no sábado, pois ele não tinha tempo durante a semana.

No sábado à tarde, Rafael me ligou.

--Gabi, você é muito fera mesmo. Nossa, fiquei impressionado como você conseguiu visualizar tudo isso. --fala rindo.

--É. Eu estou acostumada. Por fazer várias vezes a mesma coisa, os olhos ficam treinados.

--Não mesmo. Você que é ótima no que faz. Estou muito feliz em contar com você.

Fico sem graça com sua fala.

Eu não sei como Rafael é fisicamente, pois no aplicativo de mensagem tem somente a foto do brasão do exército.

A única coisa que conheço é sua voz. Uma voz rouca e firme. Um timbre de um homem forte.
Às vezes tenho curiosidade em perguntar a Dani como ele é, mas desisto no mesmo instante.

--Se..se...se você tiver alguma dúvida pode me perguntar. --falo gaguejando.

--Na verdade Gabi eu queria te mostrar umas citações que estou em dúvida. Você marcou aqui que elas estão incompletas. Eu pensei em te mostrar nos livros. Você pode encontrar comigo?

Fico muda. Eu não esperava esse pedido. Sempre faço as revisões e as pessoas alteram, sem precisar nos vermos pessoalmente. Eu não sei o que dizer ao Rafael.

--Gabi? --me chama. --Gabi você está aí?

--Si..sim. Estou.

--Se for difícil para você sair. Posso levar na sua casa.

--Não. Não precisa......Podemos nos encontrar no shopping amanhã à tarde? Eu preciso ir à livraria. Aí talvez....se der para você.

--Combinado, Gabi. Amanhã no shopping, eu te mando uma mensagem quando chegar lá. Beijos. Obrigado.

Ele desliga o telefone.

E que mania é essa de mandar beijos?

Bom, se eu estava curiosa em ver ele pessoalmente, amanhã minha curiosidade terá fim.
Mas porque será então que eu estou com medo?

O que devo esperar?

Eu não menti ao dizer que precisava ir na livraria do shopping. Só que não era tão urgente assim. E eu poderia ir qualquer dia da semana após o trabalho.

Como é domingo à tarde. Resolvo colocar um vestido longo branco com estampa de flores rosa claro, bem fresquinho. E uma rasteira. Como de costume coloco alguns acessórios dourados combinando. E no ombro uma bolsa pequena, da mesma cor da rasteira.

Não resisto a um livro de romance e me deixo levar pelas promoções irresistíveis e compro logo três exemplares. Daqui a pouco vou precisar montar uma biblioteca na casa dos meus pais.


Sorrio com esse pensamento.

Depois de comprar os livros, me sento na praça de alimentação do shopping, aguardando a mensagem de Rafael.

Após uns trinta minutos ele me liga.

--Gabi cheguei no shopping. Onde você está?

--Oii. Estou sentada na praça de alimentação. --informo.

--Tá bom. Estou chegando.

Quando ele encerra a ligação eu me pego pensando.

Como vou saber quem é ele? Eu nunca vi uma foto.

E como ele saberá quem sou eu?

Levando em consideração que o shopping está lotado de pessoas, principalmente na praça de alimentação.

Talvez ele vai me ligar quando estiver aqui dentro.

Penso, olhando a tela do celular no aplicativo de mensagens.


Até que ouço uma voz conhecida me chamando e levanto a cabeça.

--Gabi.

Deparo-me com um rapaz a minha frente. Ele é bem alto e forte. Tem um porte elegante, típico de homem que malha todos os dias. Ele é muito branco, usa óculos de grau com estilo bem chique, que não tem armação em volta das lentes. O cabelo é raspado bem baixo, mas por estar um pouco espetado para cima, acredito que deve ser um cabelo bem liso. Seus lábios são um pouco vermelho, natural. Seu rosto é muito bonito e harmonioso. E quando ele sorri, mostra seus dentes alinhados e, também, branquinhos.

--Gabi. --ele estende a mão em minha direção. --Sou eu Rafael.

Saio do meu topor e rapidamente pego a mão estendida.

--Ah sim. Tudo bem? -- solto sua mão o mais rápido que consigo.

Rafael puxa a cadeira ao meu lado e senta sem cerimônias.

Eu não entendi.

Ele deveria sentar na minha frente? Não tão próximo assim.

Consigo senti-lo muito perto, e começo a inalar seu perfume cítrico que acredito ser de loção de barba. Haja vista, que em sua harmoniosa face não tem a presença de pêlo algum.
Sua voz soa morna ao meu lado e não consigo me concentrar em nada do que ele diz.

--Você entendeu Gabi? --pergunta tocando meu ombro.

--Como? --miro naqueles olhos negros, atrás das lentes.

--Você não ouviu nada do que eu disse. Está tudo bem?

--Claro. Está tudo bem.

Eu não consigo pronunciar nada coerente. O nervosismo me atacou. A presença máscula de Rafael me deixou sem fala.

--Gabi. Se você quiser levar os livros para olhar com calma, quando tiver um tempo. Eu deixei marcadas as páginas.

--Ótimo. Acho melhor mesmo. Eu não consigo me concentrar em lugares cheios, como aqui. --consigo inventar uma desculpa para minha distração momentânea.

--Tudo bem. – ele fala desanimado.

--Então eu vou embora e depois conversamos.

Falo e começo a juntar meus livros na sacola e abraçar a pilha de livros do Rafael.

--Não Gabi. --ele segura seus livros. --Pode deixar, eu levo até seu carro. Eles são muito pesados.

Ele levanta com seus livros e começa a andar em direção à saída do shopping.

Mas eu não tenho carro.

Lembro agora desse pequeno detalhe.

A Luta Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora